segunda-feira, 15 de julho de 2013

Eu me apaixonei por um anjo. Capítulo 6

6 Capítulo


O mundo é uma escola

I. Indo ao encontro do desconhecido.

Eu gostava de fazer amizades com os estrangeiros. A maioria deles são muito educados e possuem algo de interessante. É o exótico que parece tão atraente aos olhos. A faculdade perdeu o encanto de repente. Eu aprendia mais sobre a língua portuguesa numa simples conversa com um cliente tradutor espanhol que em minhas aulas de linguística. Cultura do Brasil ficava bem mais simples de entender num bate papo com um cliente de Lisboa. Comecei a entender mais profundamente os pilares da cultura ocidental quando me relacionei com italianos e gregos. Estava ficando claro que tinha um mundo lá fora e que eu tinha que descobrir. 

Quando alguém me falava que era perigoso uma moça ir para outro país se confiando em estranhos eu concordava mas no fundo não me importava com o risco. Qualquer coisa que me acontecesse seria pouco perto do sofrimento que eu tinha passado nos últimos anos. Eu não tinha medo nem mesmo da morte. O fim da minha existência significava na pior das hipóteses, descansar. E na melhor das hipóteses, reencontrar minha família, porque no fundo meu ser eu ainda acreditava nisso. Não sabia que tão distante do Brasil e da minha vida e passado eu pudesse me reaproximar de Deus. Isso porque quando a gente pensa que perdeu tudo pode de repente descobrir que ainda tem muita coisa a perder e a recuperar. 

Pra mim tudo era lucro. Eu viajava, conhecia países e culturas diferentes, aprendia idiomas e ainda ganhava dinheiro com isso. Quem seria estúpida de recusar os convites de viagem? Bem, eu conheço muita gente que não teria essa coragem. Mas fui além da minha coragem. Muitas pessoas olhavam para mim e viam um corpo ambulante. Era o erro delas. Usava o cérebro muito mais que o meu corpo para ganhar dinheiro. E foi assim. Como já disse aqui aprendi que o coração é um péssimo conselheiro. Mesmo trabalhando no Brasil consegui juntar muita grana. Eu peguei todas as informações do meu cliente Franco-Espanhol em Madri e fui por conta própria, sem avisá-lo. Eu queria chegar lá sozinha. O plano era me hospedar por uns dias num hotel no centro de Madri, fazer o reconhecimento da cidade, me certificar que ele não mentiu sobre seu endereço e trabalho. E só depois contactá-lo.

Eu tranquei a faculdade e fui mesmo sem saber se ia passar 20 dias ou três meses. Chegando na Espanha eu não estranhei absolutamente nada. Tudo que eu imaginava da cosmopolita Madri era do mesmo jeito ou melhor. E com tanta adaptação eu não podia ficar apenas 20 dias. Mesmo depois de descobrir que eram verdadeiras as informações do meu cliente eu desisti de contactar o Franco-Espanhol, pois percebi que ficar com ele me atrapalharia de ganhar mais dinheiro. Da Espanha eu aprendi que os homens são loucos e drogados. É um lugar que se pode tirar até o couro de um homem, se caso você embarcar na onda deles, ou seja, se drogar também. Definitivamente não era a minha vibe. Eu sempre quis conhecer as belezas multi étnicas da cidade luz. Foi meu próximo destino. Comprei um bilhete de Trem e embarquei para Paris. Chegando lá peguei o velho metrô direto para Monmartre onde me hospedei num apartamento por temporada. 

Da minha viagem a França o que mais ficou marcado foi quando escalei o Mont Blanc. Foi o meu primeiro contato com a neve. Senti uma sensação de ter chegado no topo do mundo. Eu estava num dos destinos mais desejados pelos turistas do mundo inteiro. E ainda por cima me sentindo livre pra voar como nunca tinha me sentido antes. Não vou negar que foi uma sensação muito gostosa, mas meu coração exitou em um momento, tudo que eu estava fazendo. Ali naquela altura, eu me senti mais próximo de deus, depois de meses sem nem pensar que ele existia. A unica coisa que eu pensei quando olhei ao redor e contemplei todo aquele país abaixo dos meus pés foi que mesmo assim eu ainda estava abaixo de deus. Reconhecer a soberania de deus naquele momento foi o mesmo que fazer as pazes com ele. Quero dizer que eu estava impedindo dele se manifestar na minha vida. Mesmo assim ele não desistiu de mim. Isso porque quando você acredita em Deus ele caminha lado a lado com você, mas quando você desacredita, você o afasta. Valeu a pena esses dias na França mas eu tinha que conhecer a capital da diplomacia. A Suíça me aguardava.

Homem Bilionário é o Árabe. E Genebra é um dos destinos favoritos deles. Mal cheguei lá me deparei com um egípcio que me arrancou o folego não pelo seu charme que pra mim era o que menos importava e sim pela forma que demonstrou que tinha dinheiro. Era um dia de semana por volta de 16:00 horas fui até uma rua tradicional de Genebra e entrei numa típica casa de chá com decoração Árabe. Só pra vocês entenderem esses estabelecimentos são tipo um Café onde é permitido vários tipos de fumo. Cigarros, charutos, cachimbos e narguilé acompanhados de chá. O Egípcio se aproximou da minha mesa e me ofereceu um chá especial, indicou também um fumo que era muito aromático. Conversamos e ele não se mostrou nem um pouco surpreso ou chateado com o fato de eu cobrar para fazer companhia a ele. A nossa conversa durou menos de 20 minutos, de repente ele pediu desculpas e foi embora. Mas antes pagou a conta, beijou minha mão e discretamente um homem que estava com ele deixou sobre a mesa 500 euros. Eu pensei: droga! Como faço pra encontrar esse homem novamente? Se 20 minutos vale 500 euros. Uma semana com ele eu ganho uma carro. Eu preciso encontra-lo novamente. 

E saí tentando ver para onde ele teria ido. Decidi voltar para o hotel. Uma hora depois eu saia de um maravilhoso banho de sais minerais quando a campainha toca. Eram flores do egípcio. No cartão dizia: Desculpe se eu pedi para um de meus seguranças seguir você. Mas foi melhor assim que nunca mais voltar a ver seu sorriso iluminado. Meu motorista vai pegá-la as 20:00 horas se você aceitar jantar comigo esta noite. Com respeito Rhavi. Eu vibrei tanto que dei uma gorjeta bem gorda para o mensageiro. Eu sempre acreditei que o que você dá para os outros volta para você. 

Eu não sabia mas Deus estava usando Alá para me alertar. Se é que Alá não é apenas mais um dos muitos nomes que Deus tem. Eu não me considerava mais cristã, muito menos uma pessoa religiosa. Mas me chamou atenção a relação tão bonita e próxima que os muçulmanos têm com Deus. O motorista me pegou na hora certa. E me levou até o hotel mais luxuoso da cidade. No restaurante do hotel havia uma harpa e um violão celo, instrumentos pouco comuns. Tocavam canções orientais. Um som tão relaxante, impossível não encontrar a paz. Enquanto aguardava Rhavi meditava nas palavras ditas em silencio para mim mesma. Quando Rhavi me viu o olhar dele me dizia que eu era a mulher dos sonhos dele. Não era novidade para mim que eu era a mulher dos sonhos de qualquer homem. Mas eu vi tanta pureza no olhar dele. Me senti bem pela primeira vez com um cliente.

Conversamos até altas horas. Uma conversa muito interessante para os dois lados. Eu queria conhecer um pouco da cultura egípcia e ele queria saber tudo sobre o país do carnaval. Ele se surpreendeu pelas minhas características físicas. Pra quem não conhece o Brasil imagina que toda mulher é mulata e cheia de curvas avantajadas, com pernão, bundão e cabelos afrodescendentes, como as passistas. E eu sou branca, loira, magra e alta. Fruto de um pai gaúcho e uma mãe mineira. Apesar dessas minhas características físicas eu me diferencio das europeias exatamente pela sensualidade natural de toda brasileira. E o Rhavi só sabia ser sedutor o tempo inteiro. O mundo Árabe era um fascínio pra mim. No final, já estávamos caindo de bêbados ou de sono ele me conduziu até a suite. Ele colocou minha bolsa sobre o criado mudo. Me deitou na cama. Tirou meus sapatos. Me cobriu. Olhou para meus olhos assustados, meio zonza sem entender nada. Ele se sentou na beira da cama, se inclinou, e me beijou na testa. Me deu boa noite, apagou a luz e foi embora. 

No dia seguinte acordei com a mesma roupa da noite anterior e percebi que dormi sozinha. Ele tinha outro quarto. Ao meio dia me chamou para passear no barco dele. Almoçamos em alto mar. Foi um passeio fantástico cheio de descobertas incríveis sobre a religião islâmica. Ele de fato era bastante religioso. O Albert também era bastante religioso. E também era milionário. Lembrei disso e lembrei da teoria da prosperidade tão defendida pelo pelo Pastor Anjo. Eu sentia saudade do meu pastor. Eu ouvia o Rhavi falar e parecia que tudo fazia sentido. Nada é por acaso. Deus está sempre no comando de nossas vidas. Mesmo quando tomamos decisões erradas ele tem sempre o controle de nossas vidas. 

O Rhavi contando das suas experiências com deus. Aquele mar sem fim. Minha vida passou como um filme na minha mente. Eu contei um pouco da minha história. Falei sobre o câncer da minha mãe. Mas não contei mais nada. Não abri a minha vida pra ele. Quando um homem sabe tudo sobre uma mulher acaba o mistério. Você tem que ir mostrando pouco a pouco. Foi o que eu fiz. Primeiro, porque sabia que funcionava assim. Segundo, porque doía demais, as minhas feridas ainda estavam todas abertas. E eu acabava de perceber essa realidade. O bom foi perceber que eu estava "vivinha da silva". Depois que perdi minha família e tomei as decisões mais drásticas que podia eu vivia como se estivesse morta em vida. Mas com o Rhavi percebi que eu estava enganada. Tive gana de viver. De conquistar as coisas. E principalmente de sentir as coisas. Celebrar a vida. Isso é ser feliz. 

Voltei para o meu hotel no fim da tarde com um cheque no valor de 5 mil euros e ele nem se quer me beijou. Ele poderia ter feito o que quisesse comigo. Mas graças a deus ele não fez porque eu começava a recuperar os meus sentimentos novamente. Três dias se passaram e eu na minha vida normal sem saber notícias do Rhavi. Até que um amigo dele me liga querendo companhia. Aí eu tive certeza de que ele só queria me ajudar. Estava até me arrumando cliente na ausência dele. Tudo isso era bem estranho. Bom, eu fui encontrar o tal Árabe. Esse foi criado nos Estados Unidos, conhecia o Brasil e entendia bem minha cultura. Tudo correu bem e eu tive a informação que aquele hotel de luxo pertencia a Rhavi. Aquele e tantos outros. A Rede hoteleira dele era a maior do mundo. Eu não entendia qual a intensão dele comigo. Me dava dinheiro e nem se quer me tocava. De repente manda um amigo como se fosse pra me testar ou descobrir algo de mim. 

Meu prazo estava prestes a se acabar e eu tinha que deixar Genebra. Eu recebi várias caixas de presente, flores e um cartão marcando um encontro. Abri as caixas, e bem, tinha de tudo. Roupas, sapatos, perfumes, hidratantes, jóias e até chocolates. Eu fiquei feliz que o Rhavi estava de volta e que tinha prestado atenção nas minhas medidas e nos meus gostos. Claro que aqueles presentes sugeria como tinha que ir vestida ao encontro dele. Mas não deixei ele escolhesse o que eu ia vestir. Coloquei o vestido que menos gostava pra provar que até o meu pior gosto é muito refinado. Fiz um penteado à la Grace Kelly e mostrei a ele que sei me vestir e me comportar como uma princesa. Ele estava radiante quando me viu. Fomos ao Le Grand Théâtre, o principal teatro de opera de Genebra. Depois fomos jantar quando me disse que eu não precisava voltar para o Brasil se não quisesse. Que esse era um problema muito simples para ele resolver. Na verdade eu não queria voltar para o Brasil. Ele me chamou para acompanha-lo em suas viagens pela França, Inglaterra e Principado de Mônaco. Eu nem pude esconder minha euforia. Vibrei, bati palminha, segurei na mão dele e disse que essa era a melhor noticia que poderia receber. 

II. Como vive uma princesa.

E nós embarcamos para Paris juntos. Eu era chamada de senhora Kalid porque ele falava pra todos que eu era esposa dele. Mas nós continuávamos em quartos separados. Ele não dizia, mas demonstrava que estava apaixonado. Me respeitava e me cobria de mimos e atenção. Exatamente como o Albert fazia. Mais uma vez eu tendo uma oportunidade de ouro em minhas mãos. E desta vez com um príncipe egípcio. Ele sempre me levava em passeios tranquilos onde podíamos estar mais próximos da natureza. E eu ficava cada vez mais vulneráveis as minhas emoções. Rhavi gostava de se isolar pra falar com deus e cada vez que fazia isso eu sentia falta do convívio com deus. Ele tinha que fazer isso pelo menos uma vez no dia. Meu príncipe dizia que pra encontrar com deus é necessário se afastar de tudo e de todos. Que qualquer coisa espantava o sensível espírito de deus. Também dizia que na mesquita todos estão com o coração e a mente voltados para deus mas que a razão maior é a reverencia. Os agradecimentos ele gostava de fazer na mesquita, mas quando tinha alguma aflição ele preferia se afastar para sentir o espírito de deus falando com ele sem interferências.

Eu ainda era um enigma para Rhavi. Fomos passar uma semana na sua casa preferida numa região muito luxuosa da França, Saint-Jean-Cap-Ferrat, localizada nos Alpes Marítimos, no sudeste Francês. Uma cidade próximo a Mônaco e tão charmosa quanto. Ele dizia que neste lugar ele sentia a presença de deus constantemente. Ele se isolava e passava horas no jardim de sua mansão. No penúltimo dia de nossa pequena férias em Saint-Jean-Cap-Ferrat ele me perguntou se eu nunca me preocupei em despertar mais que atração em meus clientes. Eu respondi que nunca tinha pensado nisso. E realmente não me preocupava com isso porque se eu não podia me apaixonar por eles não esperava que eles pudessem se apaixonar por mim. Eu não fazia nada pra despertar estes sentimentos. Sempre fria, distante e evasiva eu procurava manter uma distancia ou uma barreira entre eu e os homens que me pagavam. Ele me disse que eu não fazia ideia do poder que tinha. Eu sorri e disse que tanto sabia o poder que tinha quanto sabia tirar proveito disso. Mas eu estava falando da minha beleza. E ele estava falando da minha mente impenetrável. É o tal do mistério tão admirado pelos homens.

Quando já estávamos em Paris eu vi ele escondendo uma joia no bolso do seu casaco. Eu, curiosa, fui olhar a joia. Um anel lindo. Pensei que ele fosse me pedir em casamento. Era um belo valioso anel de compromisso. Depois ele guardou a joia no cofre. E os dias foram passando. Ele sempre romântico, apaixonado, e misterioso também. Que ele me amava eu tinha certeza, pela forma como me olhava e como me tratava. Eu queria conhecer Mônaco, mas ele tinha uma viagem para Dubai. Ele me pediu para ir sozinha. Me deu um cartão ilimitado. Dois guarda costas. E um pedido para ser discreta. Um pedido que não precisava. E eu fui conhecer o Principado de Mônaco. Me senti tão bem. Me senti livre. Me senti milionária. Me senti uma verdadeira princesa. Eu olhava ao meu redor e só via riqueza e luxo. Quando eu digo que me senti livre não estava me referindo ao Rhavi. Ele sempre me deixou muito a vontade e eu realmente me sentia bem com ele. Estava livre porque podia entrar onde queria sem me importar se o lugar parecia caro demais. Podia entrar nas lojas que quisesse e comprar qualquer coisa sem perguntar quanto custa. Podia sair sem ter hora certa pra voltar. Podia nem voltar. Apesar dos seguranças eu sabia que eles eram meus amigos e iriam fechar comigo em tudo, mas não queria me envolver com outro homem. Queria apenas poder acordar meio dia como nos velhos tempos, uma única vez. Queria poder fazer as minhas refeições fora de hora, e comer o que me desse na telha. Não estou de forma nenhuma me queixando da vida que levava com Rhavi. Mas ele era sempre tão disciplinado que uns dias longe dele me fez relaxar. Tenho quase certeza que até ganhei uns quilos a mais. 

Descuidar da alimentação, não praticar os exercícios físicos obrigatórios diariamente e não ter um momento para meditar foram uma das coisas que fizerem minha viagem a Mônaco serem inesquecíveis. O respeito com qual era tratada simplesmente por estar em um lugar que não é visitado por qualquer um me fazia refletir o quanto a sociedade é hipócrita. Quando eu vivia em Copacabana e não fazia programa eu era discriminada simplesmente por ser uma dançarina. Era como se todas as mulheres que vivesse em Copacabana se prostituísse. E era como se trabalhar em uma boate te deixasse sem dignidade. Mas eu estava ali em Mônaco num luxuoso hotel que pertencia ao homem que na cabeça deles era no mínimo meu amante. E mesmo assim estendiam o tapete vermelho. Não era casada, nem noiva e nem amante do Rhavi. Eu era mesmo a acompanhante de luxo que ele caprichosamente queria exibir. E isso não era da conta de ninguém. Mas pelo menos eles me respeitavam.

É um sentimento indescritível de ego e superego muito bem afinado. Nunca vou esquecer quando entrei triunfante no luxuoso Cassino de Monte-Carlo. Tinha paparazzi me fotografando. Mas os seguranças pegaram as câmeras e arrancaram o filme. Eu odiei que eles fizeram isso. Mas era necessário preservar o meu príncipe que era Sátrapa do Egito. Ele já tinha me explicado que seu título de nobreza era equivalente ao vice presidente de um país. No caso de um reinado era uma espécie de sub rei. Eu entendia que estava numa posição delicada e muito séria. A minha vaidade queria fama mas no Brasil e não em um lugar onde eu não passava de uma desconhecida. Outra coisa, se eu começasse a chamar a atenção com certeza iam fuçar a minha vida e descobrir a minha atividade. Não queria causar esse constrangimento para Rhavi. Por isso, lembrei que ele me pediu para ser discreta. E eu fiz tudo para não desagrada-lo. 

III. Terrível engano.

Quando eu voltei de Mônaco meu príncipe me esperava cheio de amor. Desta vez algo estava diferente. Minha linda e confortável suite estava com uma decoração nova. Muito mais charmosa e com cores quentes. Tinha um vestido muito lindo sobre a cama que combinava com os sapatos que um estilista francês desenhou especialmente para mim. Ele me beijou como nunca havia feito antes. Nesses quase dois meses de relacionamento ele sempre foi um cavalheiro. E eu uma dama. Eu não estava apaixonada por ele mas não queria perde-lo de jeito nenhum nesse mundo. E não sabia como agir para mante-lo interessado em mim. Pois aqueles velhos truques de sedução um dia não iriam mais surtir o menor efeito. Enquanto me beijava com todo desejo ele me acariciava atrevidamente. Eu não era mais a mulher que fazia o gênero assustada mas pela primeira vez fiquei embaraçada. Não estava claro na minha cabeça se aquilo era um programa ou um envolvimento afetivo. Fiquei confusa porque ainda pensava no Pastor Anjo. Mas também não posso negar que queria muito me apaixonar pelo Rhavi. Ele era um homem maravilhoso e podia me fazer feliz. 

Quando conheci Rhavi achei que ele fosse ser um cliente apenas. Por isso quis aproveitar o máximo tudo que ele podia me proporcionar, tanto financeiramente quanto culturalmente. E sabia que o fato dele não me possuir só iria esticar bastante o meu tempo com ele. Mas não me dei conta que este prazo já tinha se esgotado ha muito tempo. E só neste dia eu percebi. Me dei conta com a forma como me beijava e me acariciava. Eu realmente não sabia como agir. Pedi que ele saísse do meu quarto. Ele disse: _ Claro! Mas a mensagem estava dada. Naquela noite mesmo ele queria me ter. E eu não podia me recusar. Afinal nós dois sabíamos no que se sustentava nossa relação. Era o toma lá, dá cá onde eu estava cheia de dívida até o pescoço com ele. Eu só pensava que não podia decepcioná-lo. Era a minha vez de mostrar que todo o investimento dele era compensador. Com parte das minhas emoções de volta eu só pensava que podia sim me apaixonar por ele e isso não me causava medo porque tinha certeza que ele me amava. 

Nossa noite foi perfeita como todas as noites com Rhavi. Eu exagerei no champanhe porque sempre achei que a bebida me deixava mais emotiva. Eu queria demonstrar algum sentimento por ele. Um sentimento que fosse mais do que ele poderia imaginar e que nos surpreendesse. Chegando na minha suite ele me carregou no colo e me deitou na cama com todo cuidado. Eu estava como um bibelô na cama. Vestida como uma princesa. Cabelo e maquiagem impecável. Eu estava imóvel na cama observando cada movimento dele. Ele estava com a camisa toda desabotoada e levemente tímido com seu corpo atlético. Ao mesmo tempo que eu queria recuperar minhas emoções, eu queria poder tirar da minha cabeça o Pastor Anjo. 

Ele pegou um saquinho que estava na gaveta do criado mudo. Contornou a cama, ficou de joelhos em cima do colchão e me estendeu a mão. Eu fiquei na mesma posição dele. Nós dois ajoelhados, frente a frente, olho no olho e pensamentos tão divergentes. Ele abriu minha mão e colocou o saquinho e me disse para abrir depois. Olhava profundamente nos meus olhos. Disse que gostava de ver os meus olhos brilhando quando ganhava um presente. Disse uma frase: "Para as mulheres os melhores amantes são os diamantes." Certamente o meu olho brilhava porque imagina como devia ser linda a joia que ia ganhar. Me perguntava se era o tal anel de compromisso que ele guardou no cofre. Depois de um tempo me olhando com um sorriso muito enigmático. 

Ele colocou meu cabalo para um lado do pescoço, tirou a gargantilha de diamantes que eu usava e jogou no chão. _Mas Você é diferente. Ele disse enquanto tirava minhas jóias e jogava no chão com se não valessem nada. Eu ficava pensando que aquele saquinho estava bastante pesado e que ele iria colocar em mim joias muito mais valiosas. E continuava falando umas coisas sem sentido que eu não conseguia acompanhar enquanto lentamente tirava o meu vestido. Ele me deixou completamente nua.

Eu estava deitada na cama e ele começou a percorrer o meu corpo com suas mãos. Eu começava a me inquietar por dentro. A imagem do Pastor Anjo me vinha à cabeça. Eu simplesmente queria que ele me possuísse logo e acabasse com aquilo. Até que finalmente ele despejou o conteúdo do saquinho no meu abdome. Depois espalhou em todo meu corpo as pedras de diamantes. 

Claro que eu me surpreendi era uma fortuna em pedras preciosas. O Rhavi era tudo que eu tinha e estava agradecida por isso. Tentei focar nos diamantes. Focar no futuro de sucesso que sempre sonhei pra mim. Não era momento para sentimentalismos. Aquela mulher fria e interesseira tomava conta de mim novamente. Dentro do possível porque a parte interesseira de mim era aquela que me mantinha presa ali. E a outra parte era aquela que não conseguia de jeito nenhum se desligar dos meus sentimentos e tinha repulsa daquele homem que me possuía. Eu vinha de histórico de desprezo e tristezas mas ainda assim me comportava como se não estivesse conquistando nada. Os meus olhos brilhavam mas era o reflexo de quando eu olhava para os diamantes.

Eu era o brilho de uma pedra falsa. Mas o Rhavi se recusava a vê isso. Você quer conhecer uma pessoa? Viaje com ela. E foi o que ele fez pra arrancar de mim a verdade dos meus sentimentos. Fomos para Saint-Jean-Cap-Ferrat. Ele estava estranho, misterioso demais, não disse quanto tempo iríamos ficar lá. Algo me dizia que as coisas iam ficar bem ruim. Eu não podia deixar pra trás tudo que tinha conquistado. Não se tratava de roupas, jóias, carro e mesada. Eu estava escolhendo um apartamento em Paris e outro em Londres. E o Rhavi ia colocar em meu nome todos dois.

Ele era muito bom pra mim. Como eu ia querer fugir dele. Eu queria mais. Queria meu título de nobreza. Queria ser uma princesa de fato e de direito. Saber que quando eu voltasse pro meu país, eu seria alguém que venceu na vida. Definitivamente eu estava muito ambiciosa e vaidosa. Isso não era problema para o Rhavi, mas se eu tivesse alguém com quem eu poderia traí-lo, isso sim seria um problema feio. Ele era extremamente exclusivista. E pagava bem por essa exclusividade.

Diante do preságio de que o tempo iria fechar resolvi me abrir pra ele. Contei toda minha história e tragédias. Todos os amores frustrados. E Todo o meu caminho até encontra-lo. As minhas decepções amorosas e o meu amor incondicional por um homem que eu jurava ser sobrenatural. Ele sempre quis saber tudo sobre a minha vida. Mas saber que eu coração estava ocupado não foi uma boa descoberta pra ele.

Ele me olhou e me disse para não me preocupar com nada. Eu sorri e disse que com ele eu me sentia segura. Mas no fundo eu sabia que tinha algo de estranho no ar. Tínhamos um jantar com visitantes. Eu me senti mais aliviada. Me preparei para o jantar. Ele fez eu colocar uma roupa de odalisca e dançar para os convidados. Eu achei estranhei mas não me intimidei porque sabia dançar muito bem a dança do ventre. Coberta de ouro eu dancei e encantei todos naquela noite. Eu vi que ele queria me exibir como um troféu. E também vi que daquele momento em diante ele não tinha mais a menor intenção de me fazer sua esposa. Mas continuava me dando jóias. E disse para eu não me preocupar com nada. Eu desencanei. 


III. O cordeiro virou lobo

Achei que ele queria proporcionar momentos diferentes, inesquecíveis entre nós dois. Já que ele sabia que eu tinha um amor impossível. Pensei que ele quisesse de alguma forma tentar me conquistar de outra maneira já que do modelo tradicional ele não havia conseguido. Eu não estava errada, ele realmente iria me surpreender. Depois que nossos convidados foram embora eu fui bastante carinhosa com ele. Amorosa e provocante eu fiz sexo como uma boa profissional satisfazendo todos os desejos dele. Não sei se convenci ele mas sei que ele se desmanchou de amores por mim. Quando o sol estava nascendo e atravessando a vidraça da nossa cinematográfica suite. Ele se ajoelhou aos meus pés dizendo que me amava tanto e que só por isso ia me dá a chance de escolher. Disse eu podia ir embora levando o que eu quisesse. Mesmo que isso significasse ir atras do homem que me rejeitou. Pediu que eu pensasse e agisse com verdade e que ele iria respeitar e não ia me impedir. Mas se caso eu ficasse ele não saberia me dizer até onde poderia chegar com esse amor.

Eu via nele a loucura e o desespero, mas não levei a sério. Só pensei que não queria perder meus dois apartamentos. Sem perceber que ele estava me testando e ao mesmo tempo me dando a oportunidade de escapar da loucura dele. Eu disse que não queria ir embora.

_Para mim o matrimônio entre duas pessoas é indissolúvel. Quer unir sua vida a minha sabendo que nunca mais será uma mulher livre?

_Rhavi isso é um pedido de casamento? Cadê a taça de champagne com o anel dentro? Brinquei

_Se ficar será pra toda vida. E eu não brinco.

_Se me quer como sua esposa por que me expôs assim como uma odalisca?

O que Rhavi queria que eu entendesse é que se eu ficasse estava claro para ele que seria por dinheiro. Mas se eu fosse embora era porque estava colocando o amor e a verdade em primeiro lugar. Eu não tinha mais esperança no amor. Achava que isso não era pra mim. Eu realmente me preocupava só com o financeiro. Como se só o dinheiro pudesse suprir todas as minhas necessidades humanas. Ele sabia que mais cedo ou mais tarde eu ia sentir falta do fogo da paixão. Sabia que eu ia sentir falta até mesmo da insegurança que vem junto com o amor. E que nesse momento ele me perderia. Sem me responder a pergunta que eu lhe fiz ele saiu. 

Passamos uns dias como um casal em lua de mel. Eu estava sendo carinhosa e atenciosa com ele. Já estávamos duas semanas em Saint-Jean e eu nunca passei dias tão longos em toda minha vida. E ele nunca passou tanto tempo sem se isolar, sem meditar e sem reverenciar Alá. As horas não passam num lugar pequeno, tranquilo e sem nada pra fazer. Já deu pra imaginar, né. Eu tendo que me desdobrar em duas para fingir o tempo todo que estava feliz. Todo dia eu acordava rezando pra ele dizer que íamos embora de lá. Um lugar romântico se torna um pesadelo no inferno se não estamos com a pessoa que amamos. Um fim de semana lá é o suficiente para você meditar, descansar e recarregar as energias. Mas a vida tem que continuar. O Rhavi queria mesmo me enlouquecer. Ele sabia que eu detestava lugares muito calmo. Eu estava começando a ficar pilhada. Era essa a intensão de Rhavi, descobrir até onde eu ia com minha farsa.

Apesar do Rhavi ser um homem atraente me custava muito beija-lo. Cada vez que isso acontecia eu pensava no meu anjo. Eu estava cada vez mais emotiva. Nas grandes metrópoles você não tem muito tempo para pensar na vida. No agito do dia a dia você se distancia de deus e de você mesma. Mas aquela cidade parecia um retiro espiritual. Eu vivia pensando, refletindo e ouvindo uma voz do inconsciente. Uma voz que me dizia que eu não queria acabar os meus dias sem ter vivido pelo menos um dia de felicidade plena. Estava voltando aos poucos a ser aquela sonhadora de antes.A minha sensibilidade estava voltando.

Tudo começou a ficar mais claro quando numa noite eu me recusei a fazer sexo com ele. Tínhamos chegado de um recital e eu não tirava o meu anjo da cabeça. Rhavi tinha acabado de me dar um colar de esmeraldas magnífico. Eu recebi como se estivesse recebendo um presente qualquer. Ele me disse que eu estava pouco empolgada aquela noite. Eu disse que sim e que apenas queria descansar.

_Vá para o quarto querida. -Ele me disse e piscou.

Eu fui imediatamente sem dá o tradicional beijo de boa noite. Ele ficou tomando whisky na sala. Mas não demorou muito a ir para o quarto. Quando entrou me viu deitada e o colar de esmeraldas no criado mudo. Eu estava de camisola e sem maquiagem. O que indicava que o colar tinha sido a última coisa que eu tinha tirado. Já que as outras joias que estava usando estavam todas no porta joia. O Rhavi era muito detalhista e observador. Ele sabia que eu tinha amado o colar mas que tinha fingido nem ligar. Isso estimulava a imaginação dele que queria sempre me surpreender. Era difícil me impressionar, ele me mimava demais. Então ele se deitou ao meu lado e tentou me acariciar. Eu disse que precisava dormir. Ele não aceitou pois eu sempre dormia muito e o meu dia foi relaxante com massagens e ôfuror. Ele reclamou da minha recusa e insistiu tentando me beijar. Eu me sentei na cama rapidamente e disse irritada que não queria fazer sexo. Não sei da onde eu tirei tanta raiva. Ele achou a palavra sexo muito agressiva então me jogou no chão.

_Eu queria fazer amor. Quem falou de sexo deve estar sentindo falta. Ele me possuiu como um animal selvagem. Eu me senti enojada de mim mesma por me permitir suportar tudo aquilo por dinheiro. Na manhã seguinte tentei conversar 

_Eu me sinto muito lisonjeada com tanto amor e a atenção que você me dá. Mas acho desnecessário você cancelar todos seus compromissos só pra ficar comigo. Nós poderíamos ir juntos a Dubai. Eu poderia acompanha-lo em todas as suas viagens. Eu me sinto mal de atrapalhar seus negócios. - Ele deu um soco na mesa _Mas será que ainda não entendeu?

_ Se você me explicar talvez eu possa entender melhor. -Ele se levantou me puxou pelo braço e me violentou mais uma vez. Só então eu percebi que aquilo era um estupro. Eu chorava e perguntava por que ele estava fazendo aquilo comigo.

_Você não merece que eu seja um cavalheiro. Você teve tudo de mim. E de que adiantou? Você não tem o direito de me desprezar. Você está aqui pra me servir.

_Mas é você que não tem o direito de me pegar a força.

_De agora em diante vai ser assim. Ou você faz por bem ou vai fazer por mal. É o que acontece com quem se vende. Você por um acaso já fez as contas o quanto eu invisto em você? Acha mesmo que não tenho o direito de te possuir quando e como quiser? Você aceitou os termos. Correu todos os riscos por dinheiro.

Os dias de loucura em Saint-Jean só estavam começando. Monitorada por câmeras e seguranças eu não dava um passo sem que Rhavi soubesse. Percebi que fugir seria uma missão impossível. Era raro ele se ausentar. Mas quando se ausentava eu ficava pensando uma maneira de pedir socorro. Todo aquele amor terno, aquela paixão, se transformou em obsessão. Ele dizia que ia mudar a minha vida. Que a nossa família seria a mais rica e mais feliz. Eu percebi que ele queria me engravidar. Eu fiquei desesperada porque ele jogou todos os meus medicamentos pensando que eu tomava anticoncepcional. Eu realmente tomava porque é um cuidado a mais além do preservativo que ele obviamente não usava. O que ele não sabia é que eu tomava injeção e que estava imune por três meses. Eu tinha esse tempo pra me libertar dele porque seria um pesadelo ter um filho de um psicopata. 

Ele era tão louco que chegou mesmo a me dar as escrituras dos dois apartamentos que me prometeu. Parecia que o Rhavi queria me provar que amar ele teria sido a melhor coisa pra mim. Eu jamais ia deixar de amar um anjo pra amar um demônio. Quando ele se ausentava eu ficava presa no porão da casa onde só ele tinha a chave. Ele não confiava nem nos capangas dele. Eu passei dois dias no porão quando ele foi fechar a compra dos apartamentos. De alimentos ele deixou frutas, nozes e pão. E a pão e água eu passei esses dois dias feliz porque ele estava longe de mim. Lembram de quando eu disse que quando a gente pensa que já perdeu tudo acaba descobrindo que ainda tem muito a perder e a recuperar. Pois é, eu nunca imaginei que pudesse perder a minha liberdade. Então eu tinha que achar um jeito de não perder mais nada, ou seja, a minha própria vida. Porque naquela altura eu tinha certeza que não queria morrer sem antes voltar a ver o meu anjo. Eu tinha que lutar pela minha vida e pela minha liberdade. E foi com esse desejo que voltei a falar com Deus. Me humilhei e orei. 

Se ele se distanciou de Alá porque ele sabia que procurar a presença de Deus era o mesmo que reconhecer que ele estava cometendo um erro. Somos bons e justos quando estamos em comunhão com Deus. Mas se não estamos nos tornamos pessoas terríveis. Eu tentava falar de Deus com ele mas era inútil porque ele ficava violento. A fera pra se defender sempre ataca. Ele criou uma regra. Cada vez que eu falava de Deus eu era amarrada a cama e ele me possuía da forma mais dolorosa pra mim. E ameaçava mandar o Bill passar a noite comigo. Bill era um negão de dois metros de altura com uma cara de mal que fazia a segurança pessoal dele. Não acreditava que ele fosse capaz de deixar outro homem me tocar mas como ele estava louco não quis pagar pra ver. Me mantive em silencio para não ser violentada pelo Bill também. 

A maior tortura não era quando ele me pegava a força. Era quando ele me mostrava os vídeos das agressões e estupros, os momentos de maior agonia, e dizia que ia mandar para o meu Pastor. Eu além de reviver a dor cada vez que via os vídeos eu ficava em pânico imaginado até onde ele seria capaz de chegar. Se ele fizesse isso o Pastor Anjo nunca ia descobrir onde era meu cativeiro ia se angustiar muito por não poder me ajudar. Mas o que eu mais tinha medo é que ele fizesse mal ao meu amor. Ele me torturava psicologicamente. Me dava notícias falsas do meu anjo. Ele não sabia por quem eu estava apaixonada. Mas eu conhecia bem meu Pastor. Sei que ele jamais iria se casar. Eu nunca acreditei em nada que ele falou. Cada absurdo. Que meu Pastor estava sendo processado por assédio. Mas um dia ele se superou na maldade. Mandou confeccionar uma edição falsa de um jornal carioca muito famoso onde tinha uma matéria que falava do assassinato do Pastor Anjo. Eu não consegui raciocinar com o choque porque ele fez tudo tão perfeito. Primeiro ele me mostrou fotos dos capangas dele no Rio. Depois ele me mostrou os bilhetes de ida e volta dos mesmos pra provar que tudo ocorreu na data que dizia o jornal. Eu entrei em desespero. 

Mais uma vez eu via que não tinha mais pelo que lutar. A minha vida era um fardo pra mim. Não dava pra viver com o fato de ser a causadora da morte do meu amor. Eu só queria acabar com a minha vida. Num descuido de Rhavi eu tomei os medicamentos dele. E não sei em que estado eu cheguei no hospital. Só me lembro que tive uma espécie de sonho no meu coma. Nele o Pastor Anjo dizia que o único jeito de reencontrar ele e minha família era não cometendo suicídio. Ele me disse pra confiar em Deus que ele estava comigo e pra não me deixar enganar pelas aparências. Quando acordei fiquei refletindo no sonho. Toda vez que decido correr riscos é por não confiar o suficiente em Deus. Primeiro, eu assinei aquele contrato absurdo com o Albert depois que o Deus já tinha me prometido a cura da minha mãe. Agora eu arrisquei perder minha vida e minha salvação. O meu sentimento era que Deus tinha ressuscitado o Pastor Anjo. Acreditar nisso é tirar uma fé de dentro da própria insanidade. Mas o sonho foi muito real, foi como uma visão. Eu tinha que acreditar que ele ia estava vivo. 

O Rhavi não pensou nas consequências do seu ato. Eu vi ele entrando na UTI arrasado quando me viu acordada ele se ajoelhou e agradeceu a Deus. Chegou perto de mim e pediu perdão. Eu disse jamais. Deus que te perdoe porque eu não posso. E eu não posso suportar te perder. Eu fiz pacto com Alá pra te trazer de volta à vida. Se eu não estou morta foi porque meu anjo intercedeu por mim, não você. Deus jamais ouviria um doente, um demônio como você. Ele chorando me disse somos nós, os doentes de amor que mais precisamos de Deus. Veja você é tão doente de amor quanto eu. Quem tira a própria vida pode matar qualquer pessoa. Somos dois doentes por amor. Se você está viva certamente foi porque Alá não queria mais uma morte, a minha. _ Sai daqui, eu não quero te ver. Durante a noite o Pastor Anjo apareceu pra mim e me disse pra não brigar com Rhavi pra aceitar tudo e confiar que muito em breve estaríamos juntos.

Tudo que era meu estava na casa. Não dava pra fugir sem documentos. Confiando na minha visão aceitei voltar pra casa do Rhavi. Eu não sabia o que me esperava mas eu não tinha medo. O bom foi que ele não me tocou mais. Eu arrisquei dizer que ia embora quando estivesse melhor. Ele disse que não podia impedir como prova de que estava arrependido. 

_Não sei como te provar meu arrependimento mas sei que jamais terei uma segunda chance se apertar o gatilho contra mim mesmo.- Me mostrou uma arma que guardava na gaveta do criado mudo.

_Pelo amor de deus Rhavi eu pensei que tinha dito que estava arrependido. Me deixa viver em paz.

_Só quero que saiba que sem você eu não quero viver. Acredite que o seu amor por aquele Pastor não é maior que o meu por você.

_O meu amor não é como a sua doença obsessiva que mata pessoas inocentes.

Ele me revelou que não fez nada com meu anjo. Que eu podia falar com ele que o telefone estava na mesa do escritório. Ele disse que ia passar dois dias fora. Que eu aproveitasse esses dias pra me recuperar. E também que esperava que o meu ódio por ele passasse depois que ouvisse a voz do meu Pastor. Eu liguei apenas para saber se ele estava realmente vivo. Alguém atendeu e disse que ia chama-lo e eu simplesmente desliguei. Rhavi viajou e eu recebi uma visita surpreendente. A esposa dele. Uma egípcia linda, inteligente e muito forte. Disse que foi me libertar. Eu disse a ela que ele era capaz de cometer loucuras. Ela me disse que tinha um bom plano.

_Ele pode se matar. Eu prefiro me sacrificar e aceitar os designos de deus que conviver com a culpa da morte de uma pessoa. Ainda que esta pessoa seja o Rhavi. 

_Não se você deixar uma carta dizendo que está gravida dele. Ele não vai querer morrer, vai querer conhecer o filho.

_Eu vou viver como uma fugitiva? Além do mais ele nunca mais me tocou.

_Mas se você o procurar uma unica vez ele não vai resistir. E depois eu conto toda a verdade pra ele.

_É arriscado pra você. Ele pode se vingar. Você não faz ideia como ele é obsessivo. Desculpe, mas esse amor dele por mim é maior que tudo.

_Amor, amor verdadeiro, é o que ele sente por mim. Eu sei. Ele jamais tentaria nada contra mim. Nós nos casamos quando você estava na UTI foi uma cerimonia simples. Eu vim a Saint_Jean para nos casarmos porque estava sentindo que tinha algo de muito errado com meu noivo. Era essa doença. Uma patologia de família. Acredite que ele é uma boa pessoa.

_Eu não sei se sinto ódio ou pena. Só não suporto mais viver com ele. Por favor me ajude. Eu quero ir embora com minha consciência tranquila. 

_Se estou aqui é porque estou gravida e ele não sabe ainda. Foi um dos motivos pelo qual insisti pra nos casarmos rapidamente. A gente tem que usar as armas que tem para vencer a guerra do amor. Eu sei que já venci essa guerra. 

Ele tinha essa noiva muito antes de me conhecer. Era só eu que acreditava que ele tinha intensão de se casar comigo. Como é clássico o homem árabe ter várias mulheres. Meu engano foi achar que eu era a oficial. Ela me disse que sempre soube que ele tinha outra mulher. A gente sempre sabe quando nossos homens têm outra mulher. Conversamos muito naquela tarde e ela me ajudou a voltar para o Brasil. Quando me despedi dela e disse o quanto eu estava agradecida por tudo que ela fez por mim. Ela disse que eu apareci na vida deles pra mostrar que o amor verdadeiro nunca pode ser comparado com uma paixão repentina que só chega pra causar destruição e dor. Isso era o erro de algumas pessoas trocar um amor verdadeiro por paixão.

Ela segurou em minha mão e me desejou boa sorte. Eu vi no dedo dela aquele anel que ele tinha guardado no cofre. Era um anel com uma pedra enorme e eu desejei ele pra mim no dia que vi pela primeira vez. Mas depois de tudo achei que ele foi parar no dedo de quem realmente merecia.

segunda-feira, 29 de abril de 2013

Eu me apaixonei por un anjo. Capítulo 5

Capítulo 5



O Portal para o Inferno.

I.Vivendo do jeito dos outros.

Este era o momento certo para descobrir as coisas do céu e da terra. Tinha que ser agora ou nunca. O momento de me tornar mulher. Deixar de ser aquela garota ingênua. Perder aquela inocência que eu fazia tanta questão de manter. Para se tornar uma pessoa melhor é preciso, primeiro, se tornar uma pessoa pior. No capítulo 4 eu escapei do inferno. Mas aqui eu vou parar nele por vontade própria.

Não dá pra entender o que faz uma pessoa abandonar o paraíso e procurar um jeito de entrar no inferno. Se existe uma explicação vou tentar fazê-la aqui. Ainda estava morando na casa do Pastor Anjo e era tudo maravilhoso apesar de nunca poder expressar meus sentimentos por ele. A paixão só aumentou com a convivência. Eu via o quanto ele era dedicado e comprometido com a obra de deus. Eu sempre esperava acordada ele chegar da gravação do programa de TV lá pelas tantas da madrugada. Ás vezes eu passava pela porta do quarto dele e era certo que ia ouvir ele orando. Parece que ele não dormia nunca. E eu muito menos com tanta inquietude dentro do meu peito. 

Eu não sei de onde vinha a energia do Pastor Anjo. Eu verei uma espécie de secretária dele como forma de retribuir a ajuda que ele estava me dando. Morando com ele não tinha só casa, comida e roupa lavada. Ele pagava minha faculdade e eu levava uma vida normal como ha muito tempo não fazia. Na casa do pastor anjo eu me tornei uma estudante mais que dedicada, aprendi as lições da faculdade, as lições da bíblia e as lições da vida. A rotina era bem puxada. Acordar com o galo. Cruzes!! Vocês podem imaginar como foi difícil para mim reajustar o meu relógio biológico. Mas eu fazia tudo com muito amor. Apesar de toda a minha dedicação meu pastor me afastou dele me arrumando um emprego. Ele não me mandou embora. Mas queria que eu começasse a juntar dinheiro para um dia recomeçar minha vida. Sem ele!

Eu admirava a abnegação dele. A moral dele era inquestionável. Assim como era inquestionável o respeito que sempre teve por mim. Ele não se importava se ter uma hospede feminina em sua casa iria gerar comentários maldosos dentro da própria igreja. Ele tinha uma consciência tranquila e um coração puro. Se ele suspeitava dos meus sentimentos nunca demonstrou. Cada vez que eu olhava pra ele eu bloqueava a imagem dele de homem. Eu fingia que estava vendo uma mulher. Vocês podem rir. É estranho mesmo mas somos perfeitamente capazes de boicotar nossos pensamentos. Foi ele mesmo quem me ensinou a manipular a mente.

Eu aprendi a usar minha mente para bloquear pensamentos impuros, indignos, de cobiça, de maldade,  de inveja ou de ciúmes. É apenas um dos frutos do espírito santo. O domínio próprio. Então cada vez que minha mente pensava algo que eu não devia ou que eu não queria eu automaticamente pensava o contrário expulsando o pensamento ruim. Você só peca em pensamento se você quiser. Se você alimentar essas ideias elas passarão do campo das idéias para o campo da realidade facilmente.

Eu tinha certeza que se ele descobrisse o que eu sentia me mandaria embora. Uma vez ele orava do lado de fora, num mini quintal que tinha na casa dele. Já estava quase amanhecendo e eu vi que ele adormeceu lá. Eu cheguei bem perto para acorda-lo. Quis tocar seu rosto, mas me contive. Eu peguei um cobertor e joguei sobre ele e só aí eu o acordei. Ele disse _obrigada! É bom ter uma pessoa que cuide da gente. Me deu a sensação que ele estava gostando da minha companhia. Se eu tivesse tocado o seu rosto dificilmente pararia ali. É como evitar o primeiro gole. Evite e se manterá firme e forte. Caso contrário vai beber a garrafa toda e ainda assim não será suficiente para te satisfazer. 

Os nossos desejos e instintos são traiçoeiros. Não devemos nunca confiar de deixar uma faísca acesa. Pois quando menos se espera essa faísca incendeia tudo. 

O meu emprego numa livraria evangélica não preenchia minha necessidade de crescimento. Eu comecei a me inquietar com isso. Com o emprego, com a monotonia da minha vida, e principalmente, com minha falta de coragem de tomar uma atitude. Todos aqueles meses fazendo exatamente o que o Pastor Anjo queria que eu fizesse, sendo uma pessoa que eu não era. Tudo pra que ele notasse que eu servia para ele. Tudo pra que ele enxergasse em mim a mulher ideal para ser a esposa dele. Vivendo da maneira dele eu pensei que fosse conquista-lo. Mas se isso acontecesse por quanto tempo eu poderia viver do jeito de outra pessoa? 

Eu não estava sendo verdadeira comigo mesma vivendo de uma maneira falsa. Eu não estava vivendo a minha verdade sendo uma outra pessoa ou fazendo coisas que eu jamais faria sendo eu mesma. Eu me anulei pra agradar a ele. Como eu não tive progressos ou recompensa por tanto esforço em mudar comecei a me sentir desestimulada. Já não sentia aquela alegria de quando comecei a morar com ele e o acompanhava em todos os lugares.


II. Antes de voltar pra casa.

Esconder tristeza e fingir alegria nunca foi o meu forte. Eu já reprimia um monte de sentimentos. Estava pra explodir. Eu olhava para o meu reflexo no espelho e dizia para mim mesma: "Coragem! Se declara pra ele" Mas o meu outro Eu dizia: "Vai orar!" Foi uma verdadeira luta. Lembrei do meu ex gerente da Abra Kadabra que disse: “Vá até as últimas consequências”. E eu fui. Respirei fundo tomei fôlego e disse: "Eu te amo" Ele ainda estava segurando minha mão. Não se afastou de mim. Só me abraçou e me acalentou como da primeira vez, na igreja, quando vinha de Magé. Eu estava confusa e não sabia a posição dele diante dos fatos. Mas eu o abraçava forte, com desespero, com a necessidade de tocar e de sentir o corpo dele. Eu segurei na gola da camisa dele e mais uma vez falei: "Te amo, Pastor Rafael. Eu te amo" _ Porque parecia que ele não tinha escutado. Ele me afastou e disse: "Tenho que falar com Deus"

Eu achei que eu estaria tirando um peso dos meus ombros. Mas foi pior o meu sentimento de culpa. Enquanto ele orava eu arrumava as malas. É difícil compreender o rumo que a vida toma em alguns momentos. Mas de uma coisa não se pode esquecer: “Nada é por acaso. Às vezes, o melhor parece ser o pior, e o certo aparenta ser errado, mas tudo faz parte, tudo contribui ao crescimento e tudo, tudo tem um porquê.” Eu li isso em algum lugar e nunca me esqueci. Era mesmo duro de acreditar que eu deixava a casa do homem que amava para viver sozinha novamente. Eu fui para minha antiga casa. Aquela que presenciou tantas crises e onde eu derramei muitas lágrimas. Mas a única que ia me fazer quebrar a rotina completamente porque eu estava no bairro onde de tudo acontece. E perto de amigos que não deixariam cair, amigos de Copacabana. 

Voltar para Copa representava um recomeço para mim. Eu não era a mesma e ainda assim era Eu com as minhas lembranças. Um troço bem estranho. Uma coisa não tinha mudado, Copa ainda era uma mistura de alegria e fantasia. O lugar onde ser sexy é obrigação e o lugar onde os romances crescem e se tornam inesquecíveis como em Paris ou Las Vegas.

Não adiantou muito me esconder quando fui a faculdade para pedir transferência ele estava lá me aguardando. Ele me disse que era natural eu confundir as coisas. Que o que vivemos foi uma linda amizade. Que amor e amizade são quase a mesma coisa. E falou, e falou e falou. Tentado me convencer que eu não sentia amor por ele. Que a condição dele (pastor) me fez sentir atraída porque ele era diferente. Segurando em minhas mãos como de costume disse:

_ Acredite que nós não fomos feitos um pro outro. Graças a deus eu não sou desse mundo. Eu estou nele mas não pertenço a ele. Porque veja bem, um homem comum não teria como resistir a você, querida.

_ Me diga, você é um anjo? Por favor eu preciso saber. 

_ Eu posso ser o que você quiser. Menos o homem que vai te enganar. Vá em busca da sua verdadeira felicidade que não sou Eu. E pode ser que não seja nenhum homem. Pode ser sua carreira, um hobby ou a realização de seus sonhos.

Eu entendi o que ele estava dizendo. Lembrei de tudo que vivemos naquela casa. Das vezes que cuidamos um do outro. Das horas de conversas e risos. Das confissões. E das vezes em que eu tentei usar um pouco de sedução, sutilmente. Era uma questão de tempo pra eu assimilar que eu tinha me apaixonado por um anjo literalmente encarnado.

III. O golpe de misericórdia.

Se apaixonar por um anjo não é o problema. O problema é ser a pior opção para esse anjo. Eu sabia que por mais que eu quisesse eu jamais seria a mulher certa para meu pastor. Eu tinha cometidos vários pecados dos quais não me arrependia. E também a vida que eu queria viver não era uma vida de abnegação como a dele, ainda queria fazer muitas coisas. Coisas de jovem. Errar, cair e cair outra vez. Quebrar a cara centena de vezes. Com ele eu iria pular uma etapa da minha vida. 

Gritar! Eu queria gritar. Eu tinha dúvidas até se deus iria me ouvir. Nem lembro como cheguei no meu apartamento. Mas lembro que peguei uma garrafa de tequila. Peguei todas as fotos do meu anjo, espalhei todas no tapete da sala, ainda cheia de caixas da mudança. Me sentei no chão e a cada dose que eu bebia era uma foto que eu rasgava. Eu realmente tinha aprendido que se um homem não me quer eu tinha que fazer de tudo pra esquece-lo. Apagar todas as lembranças. Destruir tudo que lembra esta pessoa, ir para o mais longe possível. E recomeçar a vida tentando fazer tudo diferente. Ele tinha me ensinado muito bem como se livrar de uma decepção amorosa. Determinar que não vou mais pensar no meu problema foi uma coisa que eu aprendi muito bem. Determinar que eu sou maior e mais forte que todos os problemas também. 

Mas a bebida foi diabólica. Foi meu único erro. Erro fatal. Uma pessoa deprimida deve evitar o primeiro gole. Ainda mais uma pessoa com antecedentes como eu. Voltei para a Abra Kadabra e voltei para bebida também. Parece que a noite era um vício. Assim como os drinks também. Troquei de telefone para não receber mais as mensagens do pastor. Incrível não tinha abandonado ainda a faculdade. Procurando me distrair eu aceitava sair com todos os rapazes que me cortejavam. Parece que eu estava no meu momento popular. As garotas me odiavam porque todos me cobriam me cuidados e atenção. Elas não entendiam que os rapazes me bajulavam porque nunca nenhum deles conseguiu de mim o que facilmente eles conseguiam com qualquer uma delas. O sexo. Ah, isso sim pode deixar todos os homens a seus pés caso você mostre indisponível. Eu brincava. Jogava charme. Instigava. Mas na hora H eu usava a tangente para sair. Eu sempre fui muito boa nisso.

Minha família aproveitava a vida depois da ameaça do câncer. Minha mãe não queria esperar para conhecer Petrópolis, era o sonho da vida dela. Sonho possível depois que minha tia comprou uma casa lá. Vivemos nos trópicos, aqui chove muito no verão. A região serrana do Rio é sempre muito castigada pela chuva, mas perigo mesmo sofre quem mora nas encostas. Era o caso da minha tia. Estavam todos reunidos na sala celebrando o reencontro entre familiares. Só faltava eu. Um golpe do destino me tirou todos eles num deslizamento em uma catástrofe que foi uma das piores do estado do Rio. Eu que cheguei ao ponto de fazer quase tudo pela minha família perde-los assim dessa maneira foi um golpe que eu não pude suportar. Se eu ao menos tivesse na casa do meu anjo. Os golpes da vida mudam a gente pra melhor ou pra pior.

A dor cega a gente. Eu desliguei todos meus sentimentos depois da perda de minha família. Não quis comunicar o Pastor Anjo. Enterrei minha família com apenas uma amiga me amparando. Eu perguntei a deus o que eu tinha feito de errado pra ele me castigar tanto. Esse é um questionamento normal quando se perde tudo. Não deixar que eu tivesse o meu pastor era uma coisa que eu podia superar. Mas me tirar de uma só vez toda a minha família era cruel demais pra eu achar que deus se importava comigo. A dor. A revolta. São vilões que podem fazer você blasfemar contra deus. A raiva pode te tornar poderoso. Mas a culpa pode te destruir. Pra tentar inibir a minha dor eu alimentei a minha raiva e a minha revolta. Deixei de bloquear os maus pensamentos. E passei a praticá-los. Depois de tudo que eu vivi na casa do Pastor Anjo. Depois da minha experiencia com deus. Parecia que eu queria me vingar de deus. Eu sabia o quanto deus me amava e eu simplesmente quis me afastar de dele. Eu decidi procurar o inferno e me aliar à Satanás.


IV. Demônio com cara de anjo.

Antes eu tinha renunciado o dinheiro por amor. Amor a minha família que ficaria muito triste se soubesse que eu estava contrariando toda educação que me deram. Eu não queria envergonhar meus pais. E também pela certeza que só amor poderia retribuir qualquer sacrifício feito por ele. Eu não podia me entregar a outro quando na verdade eu amava o Luca. Depois veio o Pastor Anjo e eu tive certeza que fiz as escolhas certas na minha vida. Mas agora eu não tinha mais a quem me entregar por amor. Não tinha mais a quem respeitar. Não tinha mais a quem fazer feliz. Ninguém que pudesse se orgulhar de mim. Então eu poderia fazer qualquer coisa que não estaria envergonhando ninguém. 

Depois de duas semanas comendo o pão que o diabo amassou. Sem dinheiro eu decidi reagir. Foi ao shopping procurar um vestido tipo mulher fatal. Arrumei o cabelo. Fiz a melhor maquiagem estilo diva hollywoodiana. E eu estava pronta para a barreira. Vestida com um modelito preto fatal e batom vermelho eu não estava disposta a voltar para casa. Pelo menos não com menos de cinco mil reais. E era o meu dia de sorte. Porque eu tinha pensado bastante na minha estratégia. Já tinha comunicado o gerente da Vegas Café que eu ia voltar. E que preparasse o leilão. Essa moda pega. Venda, leilão ou aluguel do corpo pra mim não era mais um tabú. Não era mais problema, muito menos vergonha. Eu não tinha mais com quem me importar. Nem comigo mesma. E eu estava com “sorte” como se diz na noite. Tinham dois clientes cobrindo o lance um do outro a cada minuto e quando eu cheguei e disse que aquela noite não teria apresentação. Que aquela noite era especial e que só o homem que me levasse saberia o que eu estava vestindo por baixo e que o streap seria exclusivo para este homem.

Um homem que não me conhecia. Só ouviu falar. Dobrou a oferta que já estava em três mil. E bateram o martelo. Eu estava com seis mil. Nada mal para uma noite. Mas quem era este homem? Feio, bonito, interessante ou atraente eu não sei. Não sou capaz de descreve-lo porque desliguei as emoções e não podia ver o homem na minha frente. Naquele momento era como se estivesse desligando a minha humanidade. Eu não me preocupava em ouvi-lo. Apenas respondia o que ele me perguntava mas não era capaz de ser sincera. Falar a verdade não era a intenção. Quando deixamos nossas emoções de lado não sofremos. Não sentimos as coisas. Não sentimos nada. Não sofremos, mas também não somos felizes. 

Ser feliz é um estado de espírito. E eu tinha decidido me matar. Não literalmente. Mas aos poucos, desligando as emoções, deixando a humanidade de lado eu seria apenas um corpo vagando sem alma, sem coração e sem vida. Eu não pensava mais como antes. Não me importava com nada nem ninguém. Apenas comigo e com meu bem estar financeiro. Isso porque me dava prazer ver os olhares de inveja das outras mulheres. Minhas “amigas” queriam saber o que eu estava fazendo para ganhar tanto dinheiro em tão pouco tempo e eu não queria dizer a elas que existia uma casa em que as garotas eram bem mais valorizadas. Eu ficava calada. Eu não queria ajudar ninguém. Eu mentia com uma facilidade absurda. Dizia que tinha conhecido um gringo milionário em Copacabana. 

Foi aí que eu comecei com a minha jornada rumo ao inferno. Eu não sabia mas cada mentira. Cada pessoa que eu enganava acelerava minha chegada. Os inimigos não existiam. Eu era minha unica inimiga. Mas eu enxergava inimigos em todo lugar. E sempre queria me vingar deles. A vingança foi outro agravante. Foi o que me fez pular de um precipício. Algo irremediável do qual me arrependo até hoje. Mas eu devo começar do começo do dia seguinte ao meu leilão. Quando eu cheguei em meu apartamento em Copacabana com o cheque eu fui ao banco depositar e esperar que ele tivesse fundo. Vindo de quem veio achava difícil querer se queimar se envolvendo num escândalo porque era exatamente o que eu iria fazer caso não compensasse.

Bem, eu só pensava em voltar a Vegas e saber quanto eu iria conseguir naquela noite. Eu não podia esquecer que 20% era da boate. Eles gostaram da ideia do leilão e como os outros ficaram a ver navios eu esperava que estivessem lá para tentar de novo. E estavam. Mas diferente eu não podia mais sonhar com 6 mil reais. Consegui 4 mil. E foi assim por uma semana variando entre 4 e 5 mil. Até que eu tive a maravilhosa ideia de me inscrever num famoso site internacional de garotas de programa. Foi bem aí que eu me perdi pra nunca mais me achar. Comecei a atender os estrangeiros que vinham de todas as partes do mundo. A maioria deles eram muitos discretos e queriam que parecesse que eu era namorada deles. Então, eu ia pegá-los no aeroporto levando minha mala também porque sempre ficava hospedada junto com meus clientes. Geralmente funcionava assim eu cobrava a diária mas tinha que ter tempo para mim também. Tipo tempo para ir a faculdade, salão de beleza, estética e shopping. Eu entendi que homem quer sentir que a mulher tem vida própria, tem seus afazeres e que ficar juntos para almoçar e jantar já estava de bom tamanho. 

Foi gostoso viver como uma dondoca ou como uma patricinha. Tinham os que preferiam um estilo mulher cabeça outros que queriam uma louca. Eu sempre tive veia artística, podia fazer a personagem que me desse na telha. Então fui levando uma vida nada convencional como eu sempre quis. Sem rotinas. Sem envolvimentos afetivos. Mas com muito, muito entretenimento. E ainda não era o que eu queria. Não estava suficiente para mim. O luxo era pouco pra mim. Eu sempre queria mais. Eu queria o topo do mundo. Eu queria tanto dinheiro quanto fama. Qualquer mulher ia preferir ganhar um pouquinho a menos e passar um fim de semana com um homem lindo e agradável. Eu dispensava esses e preferia os mais ricos e poderosos. Quanto mais prestigio e influencia maior era o meu cachê.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Eu me apaixonei por um anjo. Capítulo 4




Vivendo entre o céu e o inferno.

I. Aprendendo com o amor.

Eu já não sabia mais onde estava o Luca dentro do meu coração. Eu sabia que ele estava em algum lugar, mas na verdade eu não queria encontra-lo e voltar a sentir todo aquele sofrimento outra vez. Inexplicavelmente eu estava feliz com o meu novo amor, mesmo sendo um amor proibido. Quando a gente ama somos capazes de nutrir uma esperança que não há razão de existir. Eu não podia ter esperança. Mas sentimentos frustrados podem se transformar em sentimentos de superação que revertem todo placar a nosso favor. 

Minhas chances eram poucas. Na verdade a chance nem existia. Era apenas esse sentimento de esperança tomando conta de mim. Então eu comecei a estudar um jeito de impressionar o meu pastor. E se vocês estão achando que eu achei pior me apaixonar por um homem nas condições do Pastor Anjo... Eu digo que não. Foi muito tranquilo. Teve paz. Teve doçura. Teve alegrias. Esse amor nunca me fez mal. Só me fez crescer.

Essa nova paixão me ensinou a dominar meus desejos. Dominar as emoções é o grande segredo. Aprendi a disfarçar a paixão. Ter o olhar neutro. Aprendi muito com esse sentimento. Aprendi que uma mulher tem que ter dignidade pra poder chamar atenção de um homem. Para obter os olhares do Pastor Anjo eu tinha que impressiona-lo como ser humano. Já sabia que ele tinha escolhido dedicar sua vida exclusivamente ao seu ministério. Essa foi uma condição que ele se impôs. Ninguém o obrigou a agir assim. Entender isso e não partir para o ataque seria o mais inteligente a fazer. É triste e constrangedor uma mulher se insinuar para um homem e ele ignorá-la. Esse era um risco que eu não queria correr. Eu sempre tive esse cuidado de não ser ignorada por ele. Atrair a atenção do homem amado é uma coisa que tem que ser feita com calma e inteligencia. Paciência e observação é muito importante.

Eu não conseguia entender em que uma esposa e uma família poderia atrapalhar o ministério dele. Até que um dia ele falou sobre o assunto deixando claro naquele momento que ele nunca tinha se apaixonado. Ele falou que não conhecia o amor Eros. E que seu ser estava inundado do amor Ágape. E foi falando do amor dele pela obra de deus. Do seu amor incondicional pela igreja. E que não seria justo amar uma mulher pela metade ou bem menos que a metade já que o ser dele estava inundado do amor Ágape não sobrando espaço para o amor Eros.

Isso é meio complicado de um ser humano entender. Eu fui pesquisar sobre o assunto. Primeiro fui tratar de saber o que era esse amor Ágape. O Wikipédia me dizia o seguinte: "A palavra foi usada de maneiras diferentes por uma variedade de fontes contemporâneas e antigas, incluindo os autores da Bíblia. Muitos pensaram que essa palavra representava o amor divino, incondicional, com auto-sacrifício ativo, pela vontade e pelo pensamento, embora esse amor Ágape também possa ser praticado por humanos, mas em grau bem inferior, obviamente, em função da imperfeição e limitações humanas."

O amor Eros todo mundo sabe que é o amor entre um homem e uma mulher. Que ele disse não conhecer. Aos 35 anos assumiu ser virgem e nunca ter tido um pensamento libidinoso. Isso reforçava minha tese de que ele era um anjo. Ele estava praticando esse amor Ágape com muita perfeição para ser apenas um homem. Eu estava ficando louca? O que era loucura maior, acreditar que ele era um anjo? Ou estar apaixonada pelo anjo? E como despertar o amor Eros em um anjo? Será que esse meu pecado teria redenção?

Eu vi tanta segurança e firmeza nas palavras dele, mas em vez de desanimar eu fiquei foi mais fascinada. Nunca me interessei por homens simples. Quanto mais diferente e complicado o homem fosse mais excitante se tornava pra mim. Aquela velha história do fruto proibido. E eu sendo a Eva, né. Talvez eu quisesse estar querendo me transformar na serpente aliciadora ou algo parecido.

Eu não vou dizer que não queria praticar o pecado original com o Pastor Anjo. Eu era apaixonada por ele. Claro que eu queria me casar com ele e a vida a dois seria uma consequência. Mas meus pensamentos eram mais de edificação. Eu me via ao lado dele ganhando almas pra deus. Fazendo o bem para as pessoas. Ajudando ele na obra. O meu sonho de amor era divino. Nada comparado ao inferno astral que vivi a meses atrás amando o italiano que não quero mais nem citar o nome.


II. Motivações para a transformação.

Voltar para a Vegas Café seria me afastar mais deste sonho. Eu já tinha me decidido a deixar a boate mesmo que isso significasse um terrível corte no meu orçamento. Eu queria me tornar uma missionária. Não uma missionária convencional. Alguém que falasse um pouco do submundo que são os night club’s da vida. Alguém que falasse de igual pra igual com os jovens. Falando a mesma língua dos jovens eu poderia alertar sobre os perigos. Passar um pouco da minha experiência na noite onde as pessoas se drogam e se prostituem de uma forma que parece muito natural, inclusive nas discotecas normais onde a maioria das moças se submetem a praticas de prostituição camuflada.

Minhas férias estavam acabando e o meu dinheiro também. Estava numa vida de dedicação a igreja e a faculdade. Adorava fazer parte do grupo de evangelização. Isso me aproximava do Pastor Anjo e descarregava toda energia ruim cada vez que via uma vida sendo transformada. Fui ficando cada dia mais leve e em paz comigo mesma. Eu levava uma vida acima de qualquer suspeita. Faltava uma semana para acabar minhas férias. Meu gerente me ligou perguntando se eu iria voltar e eu sem medo, disse: _Não! Ele me perguntou o que eu iria fazer. Eu respondi: _Procurar um emprego normal. Ele me disse: _Não tem nada de anormal no seu emprego. Eu disse que queria trabalhar de dia e que queria ter as noites livres. E que queria ter meu tempo livre compatível com um futuro namorado. Argumentos não me faltaram para não querer mais trabalhar na Vegas. 

A mensalidade da faculdade não podia atrasar, então fui procurar emprego no shopping. Foi quando meu pai ligou dizendo que minha mãe estava com câncer no estômago. Meu mundo desabou naquele momento. Fui para Magé visitar meus pais e saber qual a gravidade da doença. Chegando lá descobri que o tumor já estava num estágio muito avançado e que o tratamento tinha que ser iniciado imediatamente. 

Não vi outra solução para pagar o tratamento de minha mãe. Eu liguei pra Boate e pedi meu emprego de volta. Eu só pensava da onde eu iria tirar animo. Aquela alegria que muitas das vezes era encenada não me parecia mais possível. Mesmo assim eu tinha que tentar pela minha mãe, ou o seu sofrimento seria maior. Antes de qualquer coisa, assim que cheguei na capital, fui falar com deus.

Era meio dia a igreja estava vazia, me dirigi ao altar. Eu só conseguia chorar e perguntar: Por que meu deus? Meu choro alcançou os ouvidos do Pastor Anjo. Sem uma batida de porta. Sem ouvir passos. Ele segurou minha mão e disse: “Eu estou contigo! Não importa a gravidade do problema. Peça que eu te darei a cura.” Eu abri meus olhos, pois aquela voz não era a do meu pastor. Mas era ele segurando a minha mão. Desta vez com a voz humana dele, o Pastor Anjo falou: _Vamos falar com deus!

Eu sei que eu estava segurando a mão dele, mas não foi ele quem falou comigo antes. Isso foi muito claro. Bem ali no meio de toda aquela desgraça e desespero eu tive meu primeiro encontro com Deus. O Pastor Anjo não tinha como adivinhar que eu precisava de uma cura. Oramos forte e eu soube que aquele era um pedido pra ser feito pra deus. Pois só ele poderia responder. Naquela hora eu esqueci que estava diante do homem que eu mais desejava. Não me importei se estava descabelada ou com o rímel escorrendo. Não quis saber se estava no meu melhor angulo ou se estava sexy suficiente pra ele me ver. Naquele momento percebi que eu sempre deixava coisas externas interferir no meu relacionamento com deus. Sem esperança em mais ninguém eu abri meu coração pra deus.

Minha oração: _Deus, eu me entrego a ti. Eu não tenho forças. Então senhor, eu me rendo. Se é da tua vontade que eu volte para dançar naquela boate que assim seja. Se para conseguir pagar o tratamento da minha mãe eu tenha que me deitar com os homens em troca de dinheiro, mesmo que isso me acabe por dentro, assim o farei. Mas senhor, se eu for digna da tua piedade me livra disso. Mas que seja feita a tua vontade na minha vida. Eu creio que o senhor me dará a resposta. Não me desampara senhor. Amém!

Naquele momento não me importava se o meu pastor iria descobrir meu segredo. Eu já não me importava se ele ia me olhar diferente. A dor de ver minha mãe tão debilitada me destruiu. Mas quando olhei nos olhos dele eu vi tanta compaixão em seu olhar. Eu me senti envergonhada. Era como se o olhar dele me perguntasse: Como escondeu isso por tanto tempo? Mas ele só disse: _Você não tem que passar por isso sozinha. Vá pra casa e medite na bíblia. Continue pedindo a direção de Deus. Continue buscando essa resposta, no tempo certo, o Senhor te responderá. E que Deus te abençoe, minha filha! 

Ele tinha o poder de usar as palavras certas na hora certa. Eu achei que ele ia querer conversar sobre o assunto. Sua sabedoria dizia que aquela não era uma boa hora. Eu não estava em condições de ser indagada. Agora o meu martírio não era mais inocente. A guerra espiritual estava sendo declarada. Eu não era mais meio ateu. Eu já entendia porque as pessoas passam por provações. O cristão vive sendo colocado à prova. Eu não tinha filhos, mas meus pais e meus irmãos eram tudo pra mim. Claro que eu morreria por eles. Dou graças à Deus que eu não precisei enfrentar isso sozinha. Fico imaginando se eu ainda fosse aquela cética de antes. Os sinais acontecem e você ás vezes deixa passar despercebido. Deus prepara para você situações que te motivam à mudanças de comportamento. 

Eu deixei todo meu dinheiro com meu pai e fiquei sem nada. Uns dias depois minha dispensa estava vazia e, minha geladeira só tinha água. E eu continuava buscando a resposta de Deus. Essa última semana das minhas férias foi uma tribulação. Se fosse só por mim eu me virava com o pouco dinheiro das aulas até conseguir um trabalho no shopping. Só que a doença da minha mãe estava progredindo. Era o que eu achava. Eu achava que o milagre era eu conseguir o dinheiro do hospital. Não tinha entrado ainda na minha cabeça que ter fé faz a cura acontecer. Pra mim minha mãe seria curada após varias sessões de quimioterapia e com muito esforço da parte dela. Eu não estava acostumada a ver milagres acontecendo de forma tão sobrenatural.


III. Confia nele e ele tudo fará.

E nada aconteceu enquanto eu esperava o "milagre do dinheiro". Liguei pra vários "amigos" magnatas só tive promessas de ajuda. Voltei pra boate! Lá os clientes já estavam sabendo do meu problema. Alguns se afastaram. Outros me davam falsas esperanças que iam me ajudar. Mas, o mais incrível é que teve um que se aproveitou da minha situação. Albert, me sugeriu um contrato. Isso mesmo! Um contrato reconhecido em cartório. Um acordo em que ele pagava as despesas hospitalares da minha mãe até a recuperação total dela. Tudo isso, nos Estados Unidos. Mas que me obrigava a ir pra cama com o ele. Um tratamento no melhor hospital especializado, em Houston, era exatamente o que eu queria para minha mãe. Meu pai e minha irmã podiam acompanhar ela. 

Era bom demais pra recusar. Toda escolha vem com uma renúncia. Eu renunciava tudo aquilo que eu acreditei durante minha vida inteira ou ficava com a culpa de não ter feito o possível pra salvar a vida da minha mãe. Lembrei que como me senti suja quando fui pra cama com o Luca mesmo com todo o amor que sentia por ele. Só o amor não me bastava mais para me entregar a um homem. Minha nova convicção dizia que tinha que ser um amor verdadeiro e recíproco. Isso me parecia impossível de acontecer com o Albert. Ainda mais com o Pastor Anjo no meu coração. Eu tinha aprendido coisas novas sobre o amor. Novas convicções que não anularam a ideia de estar entregando meu corpo por amor, um amor recíproco entre eu e minha mãe. E por esse amor tudo valia a pena.

Eu tinha míseros dois dias para pensar, nestes dois dias o câncer ia consumindo o estomago da mulher que me gerou em seu ventre. Deus parecia não falar comigo. Eu fiquei com a promessa da cura esquecida. Deus trabalha de forma misteriosa, temos que ter sabedoria e confiar nele. Mas eu estava com meu coração muito aflito, acabei aceitando a proposta do magnata americano. Ele me deu um contrato e eu assinei. Com isso eu decidi me afastar da minha igreja e do meu Pastor Anjo. Encarar ele com esse problema na cabeça seria o mesmo que falar tudo pra ele. Parecia que ele lia os meus pensamentos. 

Eu mudei de bairro para evitar as pessoas da igreja, principalmente o Pastor. O Albert me cedeu seu apartamento na Lagoa pra eu ficar com meus dois irmãos. Por causa do acordo nós tínhamos muito contato. Ele viajou para levar minha família para Houston. E me mandava dinheiro pra que eu não precisasse trabalhar. Assim passei dois meses apenas estudando, cuidando do meu irmão de seis anos e dando aula para as madames. Recebia ligação de Houston todos os dias. O Albert me manteve bem informada sobre o tratamento. Eu tinha muita gratidão por ele. Pedia a deus para que meus sentimentos por ele evoluísse. Mas invés disso eu sentia muita saudade do Pastor Anjo.

Eu frequentava outra igreja perto da minha nova residencia. Não dava de jeito nenhum pra abandonar minha fé. Primeiro, eu era demais agradecida a Deus por ter me curado daquela depressão. Na época eu vivia a base de tranquilizantes e tarjas pretas. Depois que passei a frequentar a igreja não usei mais nada. Os remédios ficaram na minha prateleira porque eu passei a fazer uso da minha fé pra ser feliz. Segundo, só dá pra ser confiante se você tiver fé. Eu tinha que ter fé que minha mãe ia se curar. Eu me curei! Por que Deus não iria agir na vida dela também? Eu tinha que acreditar. Me desesperar não ia ajudar em nada. Contra essas doenças até os cientistas dizem que ter fé ajuda muito.

E eu mandava mensagens de fé para minha mãe todos os dias. Quase todas eram passadas pelo Pastor Anjo. Através do seu programa ou da internet ele continuava me entregando uma palavra de apoio. Era incrível como deus usava ele o tempo todo pra falar comigo. Isso não acontecia na igreja onde frequentava. Eu meditava na passagem do livro de Números 14:9 "Somente não sejam rebeldes contra o Senhor. E não tenham medo do povo da terra, porque nós os devoraremos como se fossem pão. A proteção deles se foi, mas o Senhor está conosco. Não tenham medo deles!" E tinha certeza que essa palavra era pra mim. Mas ainda estava muito nova na fé para viver mais intensamente essas palavras. 

Os dias foram passando e o meu contrato estava vencendo. Ele era claro e dizia que se uma das partes não comparecesse no dia do encontro o mesmo não poderia ser remarcado. O Contrato também dizia que se a parte devedora (no caso eu) faltasse ao encontro a dívida seria cobrada em juízo. E que se a parte credora faltasse automaticamente dívida ficaria como quitada. Assim como se mesmo o credor indo ao encontro e desistindo do ato sexual a dívida se encerrava. O Prazo máximo para espera era de uma hora. O dia do Albert cobrar a sua dívida chegou, eu estava lá, no hotel de luxo e na suite presidencial, reservada para nós. Cheguei sem atraso. Albert era quem estava atrasado em 40 minutos. Eu tinha apenas vinte minutos de espera para me sentir livre daquela dívida. Mas ele chegou com um sorriso leve no rosto e me disse:

_ Perdão pelo atraso, eu não quis faze-la esperar. Você teve mais um tempo pra pensar e decidir ir embora.

_ Não há nada para pensar.

_ Foi o que eu imaginei. De qualquer forma se era pra deixa-la nesta aflição seria melhor não vir. Não acha?

_ De que aflição você está falando?

Eu estava sentada num sofá de veludo vermelho com as pernas cruzadas e mãos no joelho. Me levantei e acho que ele teve a melhor visão de todos os tempos. Enquanto caminhava em sua direção a fenda do meu vestido preto e longo se abria e deixava à mostra pernas bem torneadas e delicadas. 

_ Por favor Albert sei que temos uma noite inteira pela frente e não pretendo desperdiça-la com essa conversa nada agradável. Pare de falar e me beije logo _ Parei em sua frente a uma distancia que dava pra sentirmos a respiração um do outro. 

Mesmo ele sendo um homem experiente com as mulheres sei que ele estava tentando se controlar o máximo possível. E a minha experiência dizia que eu não tinha que passar dali. Ou seja, tinha que ficar quieta e deixar que ele tomasse a atitude. Ele me olhava com um olhar muito enigmático. Me segurava com as duas mãos pela cintura. Olho no olho. Eu achei que ele fosse me beijar. Ele simplesmente disse:_ É muito cedo, vamos jantar.

Meu coração estava batendo a mil por hora e era notável. Jantamos, e até demos rizadas. Ele me serviu uma taça de vinho e fomos para o terraço onde havia uma lua cheia e milhares de estrelas no céu. Ele tirou a taça da minha mão colocou sobre a mesa, me pediu uma dança ao som de Love me tender. Ele usava um perfume que eu não conhecia. Ele foi muito respeitoso o tempo todo. No fim da canção eu o abracei tão forte porque me senti segura naquele momento, como se nenhum mal pudesse me alcançar. Ele me afastou me segurando pelos braços, bem próximo dos ombros e me disse com tanta sinceridade no olhar: _O amor é descabido. É irracional, ás vezes. Mas nunca, nunca é egoísta. Se precisar, se sentir medo, me chame. Eu venho somente pra abraça-la outra vez. 

Quando ele bateu a porta e foi embora eu lembrei de uma das mais belas pregação do Pastor Anjo. "Ai dos filhos rebeldes, diz o SENHOR, que tomam conselho, mas não de mim; e que se cobrem, com uma cobertura, mas não do meu espírito, para acrescentarem pecado sobre pecado; Que descem ao Egito, sem pedirem o meu conselho; para se fortificarem com a força de Faraó, e para confiarem na sombra do Egito.Porque a força de Faraó se vos tornará em vergonha, e a confiança na sombra do Egito em confusão." Isaías 30:1-3. 

Agora tudo fazia sentido. Eu sozinha, tracei meus planos. Eu sozinha, fiz uma aliança perigosa. Eu decidi correr todos os riscos. Mas eu não estava sozinha. Foi minha sorte. Se é que o Cristão pode usar esta palavra "sorte". Melhor dizendo: Foi minha benção. Deus estava comigo. Eu não conhecia ainda a majestade de deus. Eu fiquei muito surpresa. Este foi o primeiro milagre operado diretamente por Deus na minha vida. Eu estava maravilhada, mas sem entender. Os meus poucos meses de Cristã ainda não me davam entendimento. 

Isso era o que eu pensava. Pra mim já era um milagre eu estar intacta. Milagre digno de prostração aos pés do senhor. Foi o que eu fiz. Me ajoelhei e agradeci muito a deus. Deixei o hotel no meio da noite e fui correndo para a igreja. O Pastor Anjo voltava da gravação do programa. Eu não quis saber se tinha câmeras na igreja. Eu corri para abraça-lo. Pela alegria que eu estava sentindo e também pela saudade. Pra ele aquela situação era totalmente inusitada. Mas ele não se esquivou. Não tinha o que temer. Me abraçou. Me acolheu em seus braços. Foi a primeira vez que meu corpo abraçou o dele. Eu achava que nunca ia me sentir tão próxima dele, a ponto de perceber que ele era mesmo feito de carne e osso.

Eu chorava de alívio. Ele não falava nada. Apenas me acalentava em seus braços. Era como se ele me dissesse em pensamento: "calma, tudo já passou". Depois eu perguntei se ele queria saber por que eu chorava. Com muita certeza ele me disse que sabia o por quê. Eu nem sei porque ainda ficava surpresa. Estava cada vez mais claro que ele era um homem com poderes celestiais. No fundo eu queria que fosse um homem com todos seus instintos masculinos. E não um ser celestial que jamais sentiria o amor eros. Ele secava minhas ultimas lágrimas, até que eu já não chorava mais. No meio de todo aquele silêncio, numa troca de olhares, ele parecia falar comigo em pensamento: "Esta batalha está ganha mas outras virão ainda mais sanguinárias."


VI. A mágoa atrapalha o perdão.

Aceitei voltar para Vegas Café mas, apenas nos fins de semana para não atrapalhar a faculdade. Só a possibilidade de vê ele ou simplesmente o fato de me sentir perto dele me fazia bem. Lá na boate o comentário era um só: Eu já tinha me deitado com o Albert. Todos sabiam que ele tinha levado minha mãe para os Estados Unidos. Mas isso não fazia a menor diferença para mim. Eu sabia o que realmente estava acontecendo. E eu estava muito aliviada. Em resumo me sentindo felizarda por ser tão sortuda ao ponto de cuidar da minha mãe sem precisar me prostituir. E eu precisava voltar lá no lugar onde eu tive a oportunidade de conhecer um homem como o Albert. Eu tinha muito que celebrar sim. Fui dançar que era o que eu mais amava fazer.

Um dia eu estava dançando um clássico dos clássicos do striptease. Simplesmente ao som de You can leave your hat on do filme Nove e meia semanas de amor. Eu estava tão envolvida na coreografia que não percebi a presença de uma pessoa que me assistia com devoção. Em seguida dancei Money can’t buy it, de outro clássico do cinema, do filme Strepteaser e encerrei a minha apresentação dançando Down in Mexico. Eu gostava de dançar músicas que faziam referencia a minha profissão no cinema.

E o homem continuava me olhando sem que eu percebesse. Depois que voltei do camarim, já vestida, fui conduzida até a mesa desse cliente que tinha pago uma boa quantia para que eu conversasse apenas com ele. Pagou pela a tal exclusividade. Meu gerente me disse que achava que era um velho amigo meu porque ele fez muitas perguntas sobre mim. Quando cheguei na mesa quase virei pra trás. O Luca! Me esperando com flores que ele tinha pedido para o funcionário da boate comprar sei lá por onde. Ele já sabia tudo que eu estava passando, inclusive da notícia falsa que eu tinha me tornado uma garota de programa. Eu fiquei ouvindo dez minutos ele falando e me fazendo perguntas que não vinham ao caso eu responder. Depois me cansei do papo quando ele falou que poderia ter me ajudado se eu tivesse falado pra ele. Ora, ajuda melhor do que a que eu estava tendo. Se minha situação fosse outra eu não sei o que faria ou o que diria. Mas me levantei dizendo: _Já me encheu Luca. Dá o fora! Eu tô em outra. Fui sentar sozinha no bar e nem vi quando ele foi embora.

Na outra semana eu decidi passar na igreja antes de ir pra boate. Eu não achava que eu pecava sendo striper. Mexer com os desejo dos homens era uma coisa normal para mim. Não me importava se eles deixavam suas esposas em casa. Eu achava que eu não fazia parte dessas traições. E não fazia mesmo. Mas há questões morais e culturais por trás do que é certo ou errado. De um jeito ou de outro eu tinha minha parcela de culpa quando um homem deixava sua esposa sozinha em casa pra ir me ver dançar. Isso nunca me afetou até o Pastor Anjo me mandar uma palavra. Desde esse dia eu comecei a me sentir culpada e muito incomodada com meu jeito de me sustentar.

Numa noite de casa cheia um cliente me abordou falando que tinha se separado e que a causa era eu. Ele me propôs ir morar com ele, casar se fosse da minha vontade. Ele me disse que sabia que eu não era indiferente. E que ele se agarrou a esperança que eu dei a ele. Eu lhe perguntei quando? Ele me disse que sempre que conversávamos. Eu parei pra pensar se realmente tinha dado esperanças falsas a ele. Percebi que a atenção e educação com que tratava os clientes era facilmente confundida. E também me dei conta de que a sensualidade que eu usava no palco, os olhares e os gestos eram compreendidos muitas das vezes com um interesse em particular. Nessa noite juntei minhas coisas e fui conversar com o Pastor Anjo. Me chocou saber que eu fui responsável pela destruição de um lar.

O Pastor anjo não sabia que eu estava cuidando dos meus irmãos e morando na casa do Albert. Ele achava que eu estava morando com minhas amigas da boate. E achou melhor me tirar desse convívio. Um mal entendido que eu deixei que virasse uma mentira pra me beneficiar. Quando quis ir embora ele disse que eu não devia ir embora aquela hora da madrugada sozinha. E me disse que eu poderia dormir no quarto de hospedes da casa dele. Meu espírito vibrou tanto nessa hora. Até que a mentira valeu a pena. Pensei comigo mesma. Do mesmo jeito ele não iria deixar eu correr riscos na madrugada. Eu realmente me sentia mal de mentir pro Pastor Anjo. Mas aquela mentira foi uma das que não me arrependo. Já já eu explico por quê. 

Fomos conversando até a casa dele. Ele me perguntou se eu ia retomar todos meus projetos, inclusive a evangelização. Na mesma hora falei que sim. Ele disse que eu poderia ficar hospedada com ele até conseguir um lugar conforme a minha necessidade. Agora vocês entenderam porque não me arrependi dessa mentira de dizer que morava com garotas de programa. Ele não achava que minha presença fosse representar um risco, uma tentação. Qualquer homem evitaria uma situação como essa. Nenhum pastor se colocaria à prova desta maneira. Pois como diz o ditado "a mulher enganou até o diabo". Mas o Pastor anjo tinha certeza do domínio que possuía sobre de si mesmo. Ele tinha convicção da castidade dele. E eu deixei meus irmão na Lagoa sem pensar duas vezes. 

Ele dirigia. Eu olhei pra ele e meu olhar queria dizer: Eu te amo! Mas cade a coragem? Já era alegria demais está ali com ele. Eu só tinha que respirar fundo. Me tranquilizar. E não assustar o meu pastor. Não podia decepcioná-lo. E não queria que ele se arrependesse do que estava fazendo. Então disfarcei o meu entusiasmo, a minha excitação. Sei lá, o que mais eu disfarcei. Até pensei em não aceitar ficar na casa dele. Mas eu queria estar perto dele. Aprender mais de deus com ele, e treinar minha resistência. Estar debaixo do mesmo teto da minha paixão e não tentar seduzi-lo seria um grande desafio. E foi mesmo! 

Ele me disse que o Albert me amava. Me aconselhou a dar uma chance para esse sentimento. Conversamos sobre sentimentos de uma forma surpreendente. Pra quem disse nunca ter se apaixonado, ele estava por dentro demais. Uma das coisas que ele me disse que nunca me esqueci. Foi para nunca deixar que um homem perceba que ele me interessa. Falou: _Não estou dizendo pra esconder seu amor ou sua paixão, digo para esconder o interesse. Se um homem lhe interessa pelo amor ou por outra coisa qualquer, nunca deixe ele saber disso._Ele sabia que eu não era apaixonada pelo Albert mas era óbvio que o interesse existia. O Pastor Anjo era do tipo que acreditava que do convívio pode surgir o amor. Eu concordo. Mas comigo apenas tinha acontecido à primeira vista. 

De qualquer forma o que ele queria que eu entendesse era o quanto uma pessoa pode se tornar interessante quando não quer a gente. Enquanto eu estava hospedada na casa do pastor eu não trabalhei na Vegas Café. O Albert me ajudava. Eu já não era mais aquela garota orgulhosa e boba. Estava enxergando que a dignidade de uma mulher não se quebra ao aceitar a ajuda financeira de um homem. Nessa altura eu já conhecia bem o Albert e sabia que ele era um homem honrado. Ele também já me conhecia muito bem. Até me acompanhava as reuniões. E o Pastor Anjo parecia ter dado a sua benção. Mas eu não permiti que o Albert se iludisse a meu respeito. Continuamos sendo amigos. Recebi uma ligação de Houston dizendo que minha mãe estava voltando recuperada. O Albert falou com os médicos e eles disseram que o tumor simplesmente desapareceu. Ele desligou o telefone e me disse:_Como a fé de sua família é grande. Os médicos falaram pra mim que as chances dela eram pequenas demais. _ Ele não teve coragem de me dizer mas minha mãe foi desenganada pela equipe de Houston. Eu agradeci muito por tudo que ele fez pela minha família. Eu estava tão feliz. Não cabia em mim de tanta alegria. Quando acontece um milagre em sua vida, você fica diferente, fica inabalável.

Ele viajou de volta para a América percebendo quem era minha verdadeira paixão. Ele foi e minha mãe veio. Foi maravilhoso recebe-la com o Pastor Anjo. Depois que eu matei a saudade da minha mãe. Ele nos levou até Magé.