O ponto de partida.
I. O despontar de uma esperança.
Agora que eu voltei pra faculdade me bateu um desejo louco de ser a melhor aluna novamente. Eu fui! E vou ser de novo. Eu só não sei de onde vou tirar dinheiro pra pagar a faculdade, mas pra boate eu não volto!
Era uma noite de sábado e ao invés de estar me divertindo com minhas amigas ou ganhando um dinheirinho extra, eu estava na frente do computador estudando. A televisão estava ligada, no mudo é claro, só para eu ver quando começava aquele programa que eu costumava assistir todas as noites antes de dormir. Era o programa daquela igreja que eu simpatizava e que muitos falam mal. Quando começou eu continuei estudando, porém uma chamada me chamou atenção. Estavam mostrando o lápis que eles iriam ungir, consagrar e ofertar aos estudantes. Força divina num período de provas nunca é de se jogar fora. Pensei!
Na manhã seguinte, acordei, coloquei uma roupa qualquer e fui em busca do meu lápis consagrado. Ao entrar na igreja, muito bonita por sinal, vi algo ainda mais lindo, alguém que me fez sentir como se eu estivesse entrando no paraíso. Um ser iluminado. Sua voz soava doce e melodiosa, dizia coisas que iam direto ao coração. Eu pensei estar vendo ele levitar. Eu senti um calafrio dos pés a cabeça, meu corpo todo tremeu. Foi a primeira vez que eu vi um anjo. Mas eu era uma pobre pecadora que jamais pensaria merecer o reino dos céus. E eu fui entrando em câmera lenta, quase não podendo acreditar no que estava vendo e sentindo naquele momento. Me sentei rapidamente. Surpreendentemente aquele pastor que apresentava o programa que eu assistia todas as noites era um anjo na sua forma humana que estava ali naquele altar falando do amor de deus. Seu rosto era branco como a neve do Himalaia, seu corpo parecia esculpido sob os moldes da perfeita mão de deus, e que em cada movimento me prendia a atenção. A tela da TV não era capaz de transmitir a luz que emanava do seu olhar. Ali, eu tive certeza de duas coisas: a primeira, anjos existem e; a segunda, eles vivem entre nós.
Aquele domingo marcou a minha vida. Foi o dia da minha salvação. O dia em que Deus me escolheu para ser grande. Porém, eu ainda não estava liberta, porque a libertação da alma é um processo. Por vezes este processo é delicado e por vezes é violento. E temos que viver cada etapa. É como uma faculdade que você tem em cada semestre disciplinas específicas e que são essenciais para sua formação e você não pode ser reprovado em nenhuma destas disciplinas. Assim funciona a salvação. Cada dia você tem uma coisa nova a aprender, cada dia você tem que praticar o que aprendeu de deus. Como nos estudos que você faz os exercícios que vão te preparar para a grande prova. Deus certamente vai colocar você à prova. E se você estiver apenas esquentando o banco da igreja você não vai conseguir o diploma. Levando para a vida espiritual estou falando de conquistar a salvação da alma. Eu fui entendendo isso dia após dia. Ou melhor, eu fui buscando isso todos os dias. Minha libertação não aconteceu do dia para noite. Foi necessário intimidade com deus. Eu quis aprender mais de deus.
Mesmo assim era muito pouco tempo pra eu entender o que estava acontecendo comigo. A palavra de deus me acalmava, tirava de mim toda ansiedade e agonia. Tudo ainda era muito inconsciente. Como se uma força sobrenatural me impulsionasse para perto de Deus. Antes, as decisões da minha vida eram tomadas no calor da emoção. Eu só sabia usar a fé emotiva, aquela que todo mundo tem e só recorre a ela em casos extremos. Exatamente porque eu ainda estava vivendo uma fé muito emocional, é que eu não entendia o que estava acontecendo comigo. Consequentemente a mesma força que me arrastava pra dentro da igreja me levava também pra perto daquele anjo. Se era por sofrimento, esperança que as coisas mudassem ou a tal “lavagem cerebral” que eu ouvia falar, eu não sei. Não dá pra explicar o quanto me sentia bem de uma hora pra outra, só de pisar na igreja. Claro, todos nós sabemos que nem todas as igrejas são lideradas por homens de deus, sabemos que há muito charlatanismo no mundo religioso. Vendo por esse ponto de vista eu poderia estar sob efeito de alguma técnica de persuasão muito forte. Hipnose, lavagem cerebral, veneno ou overdose. Tanto faz. O efeito era como de uma droga altamente viciante, que me viciou a partir da primeira dose, a partir do momento que pisei pela primeira vez naquele templo.
O fato é que nada era suficiente para explicar o quanto eu me sentia ligada aquele pastor. Ele era pra mim uma divindade. Eu não percebia, mas eu o idolatrava. Eu queria poder desabafar sobre isso com outras pessoas, ao menos com minhas amigas, mas elas iriam me chamar de louca. Eu mesma me achava louca. Se eu revelasse isso a alguém, esse alguém iria me sugerir um exorcismo. Estar profundamente apaixonada pelo pastor da igreja que frequento é o cúmulo do absurdo. Se eu cometia um pecado, estou certa de que a busca pelo perdão desse pecado me libertou. Foi um pecado que eu mantive em segredo. Em secreto também vai ficar o seu nome por enquanto. Por isso, vou apelidá-lo de Pastor Anjo.
Aquilo era totalmente antibíblico e eu tinha que descobrir isso, pois essa obsessão estava me impedindo de ter um encontro com deus. Eu buscava o espirito santo e achava que estava tudo certo comigo. Quando eu me entregava e reconhecia meus pecados eu me aproximava de deus, mas quando eu menos esperava um pensamento pecaminoso, um desejo de ter aquele homem sem o menor pudor me corroía por dentro. Eu precisava me abrir com alguém. Mas em quem confiar? Eu precisava ouvir das pessoas que aquilo era errado. Não dava mais para continuar nesse conflito entre o que é o certo e o que o meu coração queria. Eu tinha que determinar o fim disso. Só queria não sentir mais aquele frio por dentro cada vez eu que chegava perto dele. Eu nunca tinha me sentido tão dividida. Uma parte de mim queria deixar crescer esse sentimento, a outra queria mata-lo. Me tornei uma mulher com dupla personalidade. Aquela que procurava fazer as coisas certas e aquela que mesmo dentro da igreja tinha os desejos mais impuros da face da terra. Essas duas mulheres brigando era a mesma pessoa, era eu.
II. Fé emotiva X Fé racional.
Eu ainda não tinha descoberto que a mente é muito mais forte que o coração. Foi quando ouvi um líder religioso muito popular falando sobre fé racional versus fé emocional. Comecei a aprender sobre fé inteligente. Fazer uso da razão e não da emoção. Gosto muito de fazer comparações, o que você vai ler adiante é mais uma delas. Você pode viver com um coração artificial, mas ainda não podemos imaginar que a ciência seja capaz de trocar o seu cérebro por outro. Eu digo isso para que você entenda de uma vez que você não precisa tanto assim de seu coração, esse que está batendo aí dentro de você e cada vez bate mais forte quando você encontra com a pessoa amada. Você não precisa ficar sofrendo por algo ou alguém que você perdeu. Você também não precisa ficar se debatendo para conquistar algo ou alguém que parece ser tão impossível de ser seu. Tome muito cuidado com o que você luta para conquistar. Tome mais cuidado ainda com o que deseja o seu coração, pois amigo mais traiçoeiro não existe. Certifique-se se possível por equações matemáticas se o que você quer é o melhor para sua vida. Mas como a maioria das pessoas não são muito boas em cálculos o melhor mesmo é conversar com deus. Abra o coração somente para deus, ele te dará a resposta certa. Saiba que cérebro versus coração é igual a coração perdedor e cérebro vencedor. Sempre será assim!
Toda essa confusão me tirava o foco em deus. Eu me questionava se eu estava indo buscar a presença de deus realmente ou estava simplesmente saciando um desejo de ver um homem pelo qual eu me sentia fortemente atraída? Essas duas mulheres falando o tempo todo comigo. Uma queria que eu fizesse alguma coisa para conquistar o Pastor Anjo, a outra queria apenas se firmar nos caminhos de deus. Esse conflito me seguiu por um tempo até Deus aliviar meu coração. Era tudo muito simples, mas eu não enxergava. O motivo de eu estar sentada ali na terceira fileira era um só: Eu recebi um chamado de deus e estava obedecendo. Desde a primeira reunião que eu assisti eu atendi a este chamado. Na ocasião o pastor se referiu a “heróis da fé” eu me identifiquei automaticamente com tudo que ele falava. A palavra foi em cima do livro de Malaquias 3. 7-18, onde o que ficou gravado foi que as promessas de deus a gente toma possa na base da guerra. Olhando a história de todos os heróis da fé que a bíblia menciona, vemos que todas as vitórias que estes homens conquistaram foi diante de muita luta. Batalhas desiguais.
Desde a primeira reunião eu me senti muito a vontade dentro da igreja. Era como se eu já estivesse ali há muito tempo. Vou fazer outra comparação: Para os Cristãos não existe reencarnação, mas imaginem se houvesse vidas passadas, com certeza eu tinha nascido dentro de uma igreja cristã e lá vivido a vida inteira. Apesar de viver dentro de mim uma outra mulher que era uma pecadora em potencial. Quando deus usa uma pessoa para nos dizer alguma coisa, a palavra dele entra dentro de nós e não sai nunca mais. Eu tinha que ser uma heroína da fé porque naquele dia deus traçou um plano pra minha vida. Todos os meus sonhos estavam vivos dentro de mim. E as promessas de Deus também.
Antes de ser cristã eu era um pouco ateu. Eu me perguntava porque existia tanta injustiça e desigualdade na terra. Eu mesma achava estranho igrejas lotada de pessoas humildes sem recursos para viver uma vida digna. Eu pensava que o simples fato da pessoa ir à igreja e ser uma cristã fiel era o suficiente para Deus abençoar com coisas boas esta pessoa. Eu entrei pra igreja e vi minha luta se multiplicar, vi minha vida virar de cabeça para baixo, fui de um extremo ao outro várias vezes. E por que eu não desisti? Claro que com o passar do tempo eu fui percebendo que as provações eram necessárias para meu crescimento espiritual. Lembra que eu disse que deus nos põe à prova? Eu simplesmente confiei e acreditei nas promessas de deus. Se eu não acreditasse nas promessas dele, ficaria mais difícil ainda acreditar que eu uma simples humana poderia ser capaz de realizar todos os meus sonhos. Eu sonhava alto demais para conseguir sozinha, sem interferência divina seria bem difícil. Então entendi que tem pessoas dentro da igreja que não sonham alto. Deus faz as promessas de acordo com o desejo do nosso coração. Se desejamos com toda a nossa alma uma coisa boa, Deus promete que nos dá aquilo que desejamos e sonhamos. Sonhamos coisas grandes, o Senhor nos dará coisas grandes. Se sonhamos pequeno, o Senhor nos dará coisas pequenas. Sonhamos, lutamos e acreditamos, o Senhor com certeza vai determinar nossa conquista.
Muitas pessoas matam um leão por dia para sobreviver. Essas pessoas acordam todos os dias já com o leão na cabeça. Elas têm consciência que a vida é uma luta constante. Essas são as pessoas lutadoras e por consequência vencedoras porque quem luta sempre ganha, nunca perde. Muitas vezes temos que lutar mesmo estando feridos. Pensar que não consegue se levantar, é normal. Desanimar, é normal. Só não podemos deixar este pensamento durar mais que o tempo de uma piscada de olho. A gana de sobreviver é que nos dá força pra escapar com vida. Por isso não temos que se entregar e desistir. Não acreditar em Deus é uma forma de desistir. Eu achava que o meu trabalho era uma forma de defender o meu pão de cada dia. Eu descobri que não. Na verdade eu estava fugindo da luta, nessa fuga eu caí na armadilha do inimigo de nossas almas. Ele não teve piedade. Fez comigo todo tipo de tortura e castigo que vocês possam imaginar. Sair deste inferno com vida, porém ferida, foi um milagre. Parece que eu estou falando em códigos e você não está entendo onde eu quero chegar. Continue lendo... o próximo capítulo.
