segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Eu me apaixonei por um anjo. Capítulo 2

Tempestades

I. Amargas lembranças.

Acredite que no meio da tempestade, do furacão ou do tsuname que você se encontra há sempre um escape programado por Deus, daqueles que você pensa que só acontece no cinema. Mas da onde você acha que os autores tiraram tais ideias? Eles certamente se inspiraram em algum fato que eles viveram ou presenciaram. A realidade é que milagres acontecem. Deus enviou um anjo, o Pastor Anjo. Para que você possa ter uma ideia de como eu cheguei na igreja preciso abrir um parêntese e voltar um pouco ao passado (Lembro que até o dia em que vi o pastor anjo pela primeira vez eu era completamente apaixonada pelo Luca, um italiano que conheci na boate em que trabalhava como dançarina. Eu dançava na boate Abra Kadabra na Zona Sul e lá era reduto dos italianos. Eu posso afirmar com certeza que amor à primeira vista acontece porque aconteceu comigo quando vi o Luca pela primeira vez. Eu vi materializado o homem dos meus sonhos de infância bem ali na minha frente. É estranho você vê a pessoa pela primeira vez e saber que o beijo é bom. É surpreendente reconhecer o perfume que a pessoa usa logo no primeiro contato. Também causa surpresa descobrir que a voz da pessoa tem o poder de acalmar ou enlouquecer. E é desesperador cada minuto longe da pessoa e pensar que a felicidade só existe do lado dessa pessoa. Eu senti tudo isso com o Luca e posso dizer que tive a sensação nítida que já o conhecia ha muito tempo. É como aquela velha história de amor de vidas passadas, déjà vu e coisas do tipo sobrenatural. Essa paixão me levou ao mais alto nível do sofrimento. Quando o Luca começou a namorar a Karen, eu pensei que fosse morrer. 

A Karen também trabalhava na boate. Na Abra Kadabra havia dois tipos de dançarina, as que só dançavam e as que faziam programa. Eu só dançava. A Karen fazia programa. Mesmo assim ele quis namorar com ela. Tirou ela daquele trabalho e deu uma vida digna a ela. Eu pirei quando vi acontecer com ela o que era pra acontecer comigo. Ela roubava o sonho da minha vida naquele momento. Eu já disse que eu quis morrer? Pois é, foi assim mesmo que me senti. Eu tive ódio e inveja dela. Vi ele transformando-a numa princesa diante dos meus olhos. O meu brilho foi se apagando pouco a pouco. Meu trabalho que até então era um prazer pra mim se tornou um desgosto total. Nem passava pela minha cabeça que aquele não era o momento certo pra ter um relacionamento. Que ainda tinha muito que aprender e crescer. Que apesar de ter mais idade e de ser muito mais atraente que a Karen eu ainda não estava madura o suficiente para prender um homem como o Luca ao meu lado. Se envolver com os clientes, fazer programas, deu a Karen uma experiência que eu não tinha. Ela conhecia bem os homens e a mente masculina. Ela soube como manipular o Luca por um tempo. 

Ver eles se divertindo e felizes enquanto eu trabalhava era a pior coisa do mundo pra mim. O amor e o ciúme me neutralizava. Minha autoestima estava profundamente abalada. Eu vivia na função de impressionar o Luca, mas não sabia como. Não sabia o que fazer pra ele me notar e me querer. Deitava pensando nele, não conseguia dormir pensando nele e se dormia sonhava com ele. Quando acordava já estava com ele no pensamento. Isso mesmo! Eu não vivia a minha vida. Um sentimento não correspondido te destrói ou te torna um vencedor em potencial. Foi o que aconteceu comigo.
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Embora eu recebesse uma boa quantia em caixinha (aquelas gorjetas que colocam na pequena roupa das dançarinas de boate) o que eu ganhava só dava pra pagar as contas e viver dignamente. Guardar dinheiro era uma coisa difícil para uma estudante que ainda ajudava os pais. Eu precisava descobrir outra maneira de me manter e manter minha família. Nessas horas de dor e de sofrimento por uma desilusão amorosa a crise financeira parece te empurrar mais ainda para baixo. O fundo do poço perece não ter fim quando você se sente sozinha. o sentimento de perda e de fracasso te acompanham todas as horas, todos os dias. Nem tenho palavras para expressar o quanto eu estava sofrendo e achava que não poderia ficar pior. Demorou, mas eu descobri que sofrer por amor não era a pior coisa que poderia me acontecer. Eu só queria ter grana para sumir por uns tempos, viajar pra bem longe e quem sabe nunca mais voltar naquele lugar. Sair definitivamente de Copacabana e não ver mais o Luca era um desejo cada vez mais forte no meu coração. Eu só lutei por isso quando vi que era uma questão de sobrevivência.

II. Ciúme ou inveja?

Um dia ela exibiu uma aliança e disse que estavam morando juntos. Assistir o homem que você ama progredindo numa relação com outra mulher é muito doloroso. Mesmo vendo que ele estava feliz eu não acreditava naquela relação. Eu não via sinceridade na Karen. E eu estava certa. Ouvi ela mesma confessando que ainda amava o seu ex namorado. Trocar o amor pela estabilidade é coisa que muitas mulheres fazem, principalmente nesse submundo dos Night club’s. Revoltada com a situação eu enchia a cara Whisky pra ter coragem de agarrar outros homens e tentar provocar nele algum tipo de ciúme ou um mínimo de desejo. Eu não entendia que desejo e interesse são coisas diferentes para os homens. A mulher sente desejo por quem ela se interessa de verdade. O homem sente desejo por quem provoca o seu instinto masculino e se interessa de fato por quem sabe despertar nele não o desejo, e sim a vontade de ser desejado. Em outras palavras, quando o Luca percebeu que ele era o meu objeto de desejo ele sentiu a conquista dele desvalorizada. A conquista é muito importante para um homem. Era isso que ele tinha com a Karen. Por mais que eles morassem juntos, ele estava diariamente conquistando ela, pois ele tinha a certeza que ela não era apaixonada por ele. Eu não tinha ideia de que eu estava entregando o jogo pra ele, enquanto a Karen sabia muito bem que tinha desafiado ele a conquistar o amor dela. Essa era a grande sensação dele. Esse era o estímulo do relacionamento deles. Eu só sofri porque não tinha entendido isso. E fiquei me debatendo inutilmente. A mulher tem que ser sábia para não sofrer.

Parecia que eu queria sofrer, procurando saber da vida deles, investigando o comportamento dela através das redes sociais. Eu só me feria mais. Via as fotos dela muito bem vestida, em lugares sofisticados, sempre muito feliz, bebidas finas e na companhia dele, mesmo que ele nunca aparecesse nas imagens eu sabia que ele era quem fazias todas aquelas fotos. O que mais machucava era o sorriso. Eu provei o amargoso gosto da inveja. Ela nunca publicava uma foto dele ou com ele. Nem mesmo citava o nome dele em uma declaração apaixonada. Coisas que quem ama faz. Ficava cada vez mais claro que ela queria abafar o seu caso com ele, talvez para perder os clientes que tinha. Afinal as viagens dele deixavam ela muito à vontade para fazer o que quisesse.

Foi exatamente pra tentar ganhar o Luca que eu bolei um plano pra desmascarar a Karen. Uma loucura e tanto que eu fiz e que me ajudou a me sentir mais ridícula ainda. Eu contratei um gogoboy para conquista-la, armando uma traição que podia ser forjada, mas que evidenciava que ela não o respeitava. Então segui com o plano. O rapaz começou a falar com ela num bate papo famoso e ela nem desconfiou. Falava que viva com um homem, mas que não o amava. Falava também que estava com ele por grana. Falou inclusive de seu verdadeiro amor. O meu contratado estava salvando todas as conversas e me passando. Pra mim aquilo já era evidencia suficiente que ela não prestava e que com certeza seria capaz de traí-lo. Se de um lado ela dava bola pra um estranho qualquer que ela apenas teclava na internet, de outro lado, o Luca me convidava pra sair. Se a minha rival amasse o mesmo homem que amo eu respeitaria esse amor. Mas eu sabia muito bem que a Karen não amava o Luca. Tinha direito a uma chance. Uma chance de me aproximar dele e tentar faze-lo me amar. Pena que eu ainda era tão imatura. Em nosso primeiro encontro, ele falava dela o tempo todo, e falava de um jeito tão meigo, tão doce que desisti de falar qualquer coisa que pudesse chatear ele. Ele chamava de invejosas as mulheres que falaram mal da Karen. Eu não queria que ele me visse assim, como mais uma que não suportava ver a felicidade alheia. Foi inteligente ficar calada porque ele me viu como uma amiga, alguém que não queria envenena-lo. Ele também fazia questão de manter distancia e de deixar claro que me respeitava. Foi difícil me afastar quando na verdade eu queria abraçar e beijar aquele homem. Eu perdi meu tempo e me entristeci mais ainda.

III. Mais que uma amiga.

Enfim ficamos amigos. Trocávamos emails. E sempre que eu estava depressiva e bêbada eu ligava para ele, e fazia o que a maioria dos apaixonados covardes fazem: desligava! Era impressionante como ele me transformava em uma pessoa patética. Quantas vezes liguei e não falei. Quantos emails sem sentido enviei. Pra depois pensar: Eu não acredito que fiz isso! Por quê? Sim, porque eu era uma tola. E fui uma tola por muito tempo até aprender a não me machucar mais e nem deixar que ninguém fizesse isso comigo. Enquanto isso o Luca ia se divertindo. Ele devia morrer de rir antes mesmo de ler as bobagens que eu escrevia. E com certeza ele sabia que era eu cada vez que o telefone dele tocava. Eu saia de mim toda vez que via ele passar. Eu que nunca fui de me enrolar com as palavras, não encontrava o paradigma aceitável para me expressar. Me comunicar com ele era impossível, por mais que eu tentasse meu cérebro parecia como de um bicho preso e acuado. Minha inteligencia se esvaia quando o assunto era o Luca. Não dava pra raciocinar. Falar nem pensar, não saia nada que prestasse. E as vezes não dava nem mesmo para respirar. Esse amor me sufocava. Fico me perguntando se aquilo era amor? Você já deve ter se sentindo assim pelo menos uma vez na vida. Suas pernas não seguram seu corpo, e você não fala coisa com coisa. Era exatamente assim que eu me sentia perto do Luca.

Tive uma ideia louca de enviar um arranjo de flores para o escritório dele. A resposta foi um convite para encontra-lo em São Paulo. O amor arruma desculpas pra fazer o que é errado. Enche de poesia um cemitério cheio de lágrimas pra te convencer a morrer de amor. O coração te engana tão bem como ninguém sabe te enganar. Te acaricia e depois te apunhala pelas costas. O Amor não nos dá chance nenhuma de defesa. Saltamos de um abismo como se tivéssemos asas. E iludidamente acreditei que dessa vez era a minha chance. E seria se eu me recusasse a viajar com ele. Já que fui teria uma chance pequena se tivesse feito as coisas direito. Mas eu perto do Luca era outra pessoa. Era aquele bicho acuado e preso na gaiola, querendo uma abertura pra voar. Apesar de sempre ter sido respeitada por ele eu queria que deste vez fosse diferente. Me enchi de esperança e me lancei. Pensando eu que estava voando para um horizonte no mar da felicidade, eu estava justamente indo para o horizonte do mar das minhas lágrimas.

Estava me enganando sim. Sonhando às cegas. Qualquer pessoa enxergava que esta era uma boa oportunidade para ele ser infiel sem correr o risco da Karen descobrir. Ele me disse que nunca tinha recebido um presente tão singelo. Eu ri. Como se fosse a coisa mais comum do mundo um homem receber flores de uma mulher. Eu sabia que isso era uma coisa pouco comum em qualquer tempo e em qualquer lugar do mundo. Ouvi ele dizer que me respeitou no Rio lutando contra ele mesmo porque se sentia estupidamente atraído por mim mas pensava na Karen. Eu olhava pra ele e sentia vontade de dizer que a única coisa estúpida era a confiança que ele depositava nela e que ela não merecia tanto respeito da parte dele. Eu comecei a fazer perguntas uma atras da outra tentando ler nas entrelinhas que ele não gostava mais dela e que estava apaixonado por mim. Ele me dizia que a Karen era apenas uma menina a quem ele queria ajudar.

Se a partir dali eu tivesse acreditado na única verdade que ele falou até o momento eu teria evitado muitas lágrimas. Ele era sincero quando dizia que não a amava. O ciúme não me deixava ver que era a mais pura verdade. E que ela representava apenas um desafio mental para ele. Se eu tivesse entendido isso na época não perdia noites em claro me perguntando por onde ele estaria com ela e tentando imaginar uma maneira de tirar ela da jogada. Mas não se tratava de tirar ela da jogada, ela nem se quer estava no jogo. E eu vivendo fantasmas. Andando em tormentas elétricas. Me arriscando à toa. Esse era o momento de me posicionar. De dizer que pra ele me ter ele teria que abrir mão de muitas coisas a começar pelo capricho chamado Karen. Mas cometi o erro que todas as mulheres cometem. Me entreguei por medo de perde-lo, ou pela ilusão que ele seria meu caso eu desse uma prova de amor como essa. Estupidez minha. Estupidez sua se você é uma mulher e já fez ou pensa em fazer isso. Mas à frente eu explico o por quê.

Não foi o que eu esperava. A minha virgindade ficou lá em Magé. Era a única coisa da qual eu me envergonhava. Achei que com o Luca fosse ser diferente mas novamente me senti como uma caça. Isso porque me entreguei pra pessoa errada e no momento errado. Ele tentou ser maravilhoso comigo. Efeitos especiais mascaram a imagem mas não muda a realidade. Qual era a realidade nua e crua? Eu me servi de bandeja para um homem comprometido quando aceitei o convite para essa viagem. Tudo que eu queria era um sol brilhando dentro daquele quarto, pela manhã, atravessando a cortina quando eu acordasse. Eu não acordei porque nem se quer dormi. O vazio não deixou. Mesmo eu sendo apaixonada por ele, e mesmo ele tentando ser o melhor que ele podia, a circunstância não me agradava. Era meu subconsciente me gritando a verdade: Ele não estava apaixonado por mim.

O que toda mulher espera numa hora dessas é que no mínimo esse homem esteja livre e que você seja a única mulher com quem ele queira se relacionar. Mas quando já existe uma outra você não pode exigir nada. Isso era o que mais martelava na minha cabeça. Eu estava por dentro de toda a situação. Consciente de todos os meus riscos. Me atirei de um precipício contra todas as chances de sobreviver. E aos poucos foi caindo a ficha que eu fiz uma grande burrada. Era um misto de sentimentos confusos. Eu olhava pra ele dormindo exausto de tanto fazer amor comigo. Fui com a mão várias vezes para acaricia-lo mas puxava a mão quando chegava rente a pele. Eu não queria acorda-lo e ter que explicar por quê não estava conseguindo dormir.


IV. Depois da desilusão.


Depois de dois dias misturando o doce e o amargo. Sem saber diferenciar a dor e o prazer. Ouvindo doces mentiras e tentando extrair daquele tempo o máximo de lembranças boas. Eu voltei para o Rio me sentindo uma porcaria. Sabendo que tudo que eu vivi em São Paulo foi uma ilusão. Tendo que encarar uma realidade que eu temia muito. Encontrar com os dois na boate e perceber que eu fui apenas um brinquedinho nas mãos dele. Isso é muito humilhante pra uma mulher. E é exatamente por isso que o homem que diz que tem sentimentos sinceros por você não pode te pedir uma prova dessas e te deixar humilhada esperando por ele enquanto ele desfila com a única mulher que ele não pensa em largar. E no fundo eu sabia disso, por isso me sentia angustiada, porque sabia que ele voltaria para os braços dela. Por mais que eu sentisse raiva dela naquele momento eu era a errada em todos os sentidos. Eles viviam juntos e eu aceitei ir pra cama com ele sem que precisasse ele me prometer absolutamente nada. Mas ver os dois sorrindo me enchia de dor e raiva.


A dor e o ciúme cega e somos capazes de protagonizar as cenas mais ridículas. Na hora em que eu não pude mais aguentar eu fingi que tinha aceitado sair com um cliente da casa. Esse cliente tentava um programa comigo ha muito tempo. Então pedimos uma garrafa de champanhe. Pedimos outra, e outra, e eu já estava bebendo na boca da garrafa. Chamei umas três meninas e começamos a dar beijos triplos e eu já nem sabia mais de nada. A única coisa que eu queria era chamar a atenção do Luca. De repente eu subi na mesa e comecei a tirar a roupa. O strip-tease não era uma pratica das dançarinas da Abra Kadabra. Se tratando de mim o gerente nem falou nada, ele sempre dizia que quem treina joga e que eu acabaria fazendo programa mais cedo ao mais tarde. Só que apesar da bebida isso não passava pela minha cabeça. Restava apenas a minha minuscula calcinha e perto de mim estava o homem que acreditava que ia me comprar por aquela noite. Ele já se sentia no direito de me tocar. Quando ele se atreveu, eu o esbofeteei. Peguei a minha roupa e corri para o banheiro. Mas dei de cara com o Luca na entrada do banheiro. Ele me olhava muito sério. Eu segurava minha roupa de maneira a cobrir os seios. Minhas pernas tremiam. Eu só queria sumir dali. Ele pediu licença. E eu pedi desculpa. Não era porque eu estava impedindo dele passar e sim pela situação. Eu vesti minha roupa e fui encarar o gerente.Já estava esperando minha demissão. Ele me olhou sério e depois gargalhou dizendo que ia mandar colocar uma estátua minha na casa. Ele me perguntou: _Quem é? Ele queria saber quem era o homem que eu queria provocar. Eu preferi não falar. Ele não insistiu em saber o nome mas me disse que tudo ia bem até eu mostrar que não era capaz de ir mais longe.


Aprendi com aquela experiência que quando uma pessoa se propõe a fazer algo tem que fazer bem feito. Se tiver que tomar uma atitude, não tem que voltar atrás, tem que ir até as últimas consequências, dê no que der. Se não você vai acabar se arrependendo de nunca ter tentado. Meu gerente fez eu perceber que eu demonstrei fraqueza diante da indiferença do Luca. Continuando com a minha fraqueza mandei um e-mail para ele meio que me desculpando. Eu não conseguia entender que nada do que fizesse interessava ao Luca. Ele me respondeu dizendo que já estava acostumado a todo tipo de situação e que poucas coisas o surpreendem. Talvez eu tivesse surpreendido se eu encarasse o programa em vez de fugir. Talvez ele não me conhecesse suficientemente bem para saber que me doía mais deixar que outro homem me tocasse a vê-lo feliz com sua namorada. Eu queria que ele percebesse que apesar de trabalhar mais de dois anos na noite eu ainda tinha os mesmos sentimentos puros da adolescente que deixou os pais no interior para fazer uma linda carreira na cidade e tentar se tornar uma grande mulher. Eu não queria perder a minha inocência nem tão pouco a minha essência de menina boa. Mas essa paixão estava a me transformar sem ao menos eu notar. Estava ensaiando passos arriscados demais como a trama para desmascarar a Karen.


Recebi a informação que ela aceitou se encontrar com gogoboy. Na mesma hora enviei uma mensagem para o Luca perguntando se ele perdoaria uma traição. Claro que ele respondeu que não. Mas eu ainda tinha muitas coisas a perguntar pra ele então fui no escritório dele de surpresa me enchi de coragem e perguntei: O amor tem que ter ética? Até onde se pode ir por amor? Ele me respondeu: no amor, assim como no sexo, vale tudo! E aproveitou pra me convidar para acompanha-lo aquela mesma noite a uma reunião de trabalho em São Paulo. Ele não entendeu a minha pergunta. E eu não pude resistir a forma como ele me chamou. Mas aceitar seria perder a grande oportunidade de flagrar e registrar a traição da Karen. Todo dinheiro investido teria sido em vão. Mas eu tinha que dar uma resposta na hora porque ele estava verificando o voo pra mim. Apesar de ouvir dele que na guerra do amor vale tudo eu não acreditava que ele acharia justo o que eu iria fazer. Prejudicar alguém não me parecia nada ético e os meus valores me diziam que o amor é nobre.


V. O amor é nobre.


Eu tinha a chance de desmascarar a Karen. Mas o que iria acontecer depois disso? Ele seria meu? Ele ficaria traumatizado e fugindo de compromisso para não viver aquilo outra vez? Ele ficaria com raiva de mim? Eu tinha muitas perguntas e nenhuma resposta. Quando a gente ama alguém, a gente quer proteger e não fazer a pessoa sofrer. Me dei conta de que ele sofreria com tudo aquilo. E eu não queria que ele me odiasse por isso. Seria muita humilhação pra ele e eu não queria ser responsável por isso. Eu poderia ir curtir com ele e depois mandar anonimamente as fotos do encontro amoroso dela. Ele poderia até desconfiar de mim, mas nunca ia ter certeza. Afinal ele era um homem com muitas admiradoras apaixonadas. Descobri que meu amor por ele era verdadeiro ao ponto de preferir que ele ficasse com ela a ter ele dessa forma. O meu bem estar dependia da felicidade dele porque isso se chama amor. Mandei uma mensagem para o gogoboy e para o fotógrafo contratado cancelando a operação. Mas não sei se isso adiantou, pois o pagamento tinha sido feito integralmente e qualquer homem iria gostar de fazer sexo com a Karen. Naquela noite tudo que eu fiz foi chorar muito. Me joguei no colo dele e chorei como uma criança. E eu pergunto a você: Até aonde você pode chegar por uma paixão doentia? Graças a deus o que eu sentia por ele era amor verdadeiro. Amor que constrói e não que destrói.


Eu tinha muito pra dizer e eu não conseguia dizer nada. Não conseguia explicar a razão do meu pranto. Ele me perguntou se tinha haver com aquela noite do strip-tease. Eu estava dentro de uma situação que eu não sabia enfrentar na época. Simplesmente não conseguia dominar minhas emoções. E ele que esperava ter uma noite divertida teve que enxugar minhas lágrimas. Naquele momento pensei que não queria dar amor e receber de volta apenas sexo. Naquele momento pensei que talvez ele gostasse dela mais do que ele imaginava. Eram os meus fantasmas falando comigo. Claro que se ele amasse ela não estaria com outra em seus braços. O difícil era entender o que ele sentia por mim. Nessas horas varias interrogações aparecem na sua cabeça. Do tipo “Por que ele está comigo agora?” “Será que ele gosta de mim ou dela?” “O que ele realmente sente por mim?” “Será que é só sexo?” Dúvidas que martelavam a minha cabeça tão forte que eu olhava pra ele e chorava mais ainda. Realmente aquela noite foi barra pra ele. Tanto que ele me mandou de volta para o Rio logo pela manhã, e isso, não estava nos planos dele. Acontece que um homem jamais quer a companhia de uma mulher depressiva. Um homem como o Luca se sente mal com uma situação como aquela, ainda mais se ele não tem as respostas. A primeira coisa que lhe vem a cabeça é “ela está usando o meu ombro pra chorar por causa de outro”. Como ele ia entender que era um amor louco e desesperado por ele que eu estava sentindo. Como uma mulher é capaz de amar assim de uma maneira tão exagerada e tão insensata. Quando se trata de amor as mulheres em geral são insensatas.



Então disse: Chega! para mim mesma. Decidi me afastar. Não escrevi. Não liguei. Quando ele chegava na boate eu ficava distante. Ele esperou meu silencio por quase um mês. Eu juro que eu não entendo o que passava pela cabeça dele quando ele me chamou de novo para ser sua companhia em São Paulo. Confesso que meu peito se encheu de alegria, mas tive um rompante de sensatez e disse que não podia. E passei os dias esperando outra mensagem, outro convite. Dispensando convites de rapazes que poderiam me fazer feliz. Até que o final de semana chegava e eu podia vê-lo enfim. Me lembro que eu chegava em casa e escrevia como ele estava elegante aquela noite ou como me doía ver eles se beijando. Mandava tudo pra ele. E ficava esperando a resposta que só vinha na segunda feira sempre com um convite, o mesmo de sempre, ir pra Sampa com ele. Com o tempo esses convites foi soando exaustivo.

Com ele eu não queria uma vida as escondidas, entre quatro paredes. O que mais me deixava intrigada com o Luca era por que dentre mil mulheres ele escolheu exatamente eu para perturbar? Ele passava a semana toda me mandando mensagens no meu celular como se quisesse mostrar que estava pensando em mim. Mensagens sem sentido que chegavam as 1 ou as 6 da manhã. Que me seguiam durante todo o dia. Como se ele não tivesse outra coisa pra fazer ou outra pessoa para perturbar. Ele tinha consciência que eu ficava perturbada com aquilo. Enfim quando ele parava de me escrever eu escrevia. E ficamos nesse jogo de esconde-esconde. Um se afasta e o outro corre atras. Parecia que ele era um pouco dependente de mim. Eu não entendia a mente doentia desse tipo de homem. Mas nessa vida tudo é compreendido com o passar do tempo. Eu já estava ficando cansada desse jogo onde eu só perdia. Ele não tinha nada a perder. Ele tinha uma mulher em casa e quantas quisesse na rua. E eu desperdiçando meu tempo com um cara que não me levava a serio.

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VI. A decepção.

Eu fui dançar em outra boate que ficava no centro. Chegando lá e conhecendo as garotas descobri que ele era bem famoso por lá. Aos poucos eu ficava sabendo de garotas com quem ele ficou. Algumas ainda perdidas de amor por ele. O Luca era realmente tão apaixonante quanto cafajeste. Certa noite estava eu dançando quando ele chegou acompanhado de uma garota muito bonita e desconhecida. Quase morri com a coincidência dele chegar justo no lugar onde eu trabalhava a uma semana. Corri para o banheiro e liguei para minha amiga Sofia que estava na Abra Kadabra nem cheguei a falar que o Luca estava lá e ela ja foi me dizendo que a Karen estava lá aos prantos. Eu perguntei por quê? A Sofia disse que ela achava que estava sendo traída. E que ele disse que ia pra São Paulo mas ela ficou sabendo que estava na cidade. _Cretino! Eu disse ao telefone e contei que ele estava lá com uma loira de 1,80 de altura, cabelos longos, muito bem vestida e apesar disso tudo uma desclassificada. Pedi discrição é claro.


A raiva que sentia pela Karen deu lugar a compaixão. Eu não podia mais continuar me enganando achando que a Karen era minha única concorrência. Na verdade ela era minha rival mais inofensiva. Digo isso porque ela não jogava sujo. Era transparente. Nunca disse que o amava, mas acabou se apaixonando por ele sem perceber. A Karen foi traída pelo destino. Um homem com o dobro da idade dela provavelmente faria com que ela se apaixonasse, ainda mais se desafiado como ela o desafiou. Eu me doí por mim e pela namorada dele. Se outra pessoa que não fosse a Karen tinha o direito de estar com ele esse alguém seria eu que o amava como ninguém jamais amou. Eu já nem sei direito se ele estava ali por acaso ou não. Mas peguei minhas coisas e fui embora. Ele tinha sempre esse poder de mexer com a minha vida, com meu humor, com as coisas ao redor de mim. Não me segurei, tinha que olhar com meus próprios olhos a Karen chorado. E me enxerguei nela. Eu não só me coloquei no lugar dela e senti a dor dela. Eu também senti raiva de mim por ter me envolvido com ele.


Eu não podia mais viver tão perto do perigo de ceder a cair novamente na armadilha da paixão. Eu estava decidida a esquece-lo. Decidi ir embora de Copacabana. Lembrei que um amigo tinha me falado sobre uma boate na Barra da Tijuca. Fiz um teste lá e passei. Pronto! Já tinha um trabalho bem longe de Copa. Fiquei calada sobre o meu novo emprego. Pra todos os efeitos eu estava indo embora do Rio. Voltando para Magé. Deixei que todos pensassem que estava indo para um situação bem ruim. Assim afastava a inveja de mim. Em minha ultima noite na Abra Kadabra ele estava lá e eu o segui até o banheiro tentei falar pra ele tudo que eu estava sentindo. Mas como sempre não conseguia dizer coisa com coisa e ainda estava bêbeda. O segurança novo chegou pra me tirar de dentro do banheiro masculino, quando ele colocou as mãos em mim eu pedi para o Luca não deixar aquele cara botar as mãos em mim, mas ele nada fez. Ele viu que eu estava transtornada e nem tentou me acalmar, só se importava com a Karen não perceber nossa “amizade”. Eu vi ali que ele era mesmo um covarde. Deixou o segurança me arrastar pra fora do banheiro. A situação foi humilhante demais pra mim. Tinha um grupo de amigos me esperando para minha despedida. Eu fui embora assim mesmo, sem falar com ninguém. Eu só queria que ele tivesse me dado um minuto de atenção. Que por um segundo demonstrasse preocupação pelo menos em me acalmar. Ou que pelo menos me deixasse me despedir dele. Mas não! Eu fui uma tola em acreditar que ele se importava.


Me senti um lixo. Mas estava indo embora de toda aquela situação, do lugar, das pessoas, e da minha dor. O ciúme as vezes cega. As coisas não eram bem assim como eu enxergava. Na verdade era bem pior do eu imaginava. Desliguei o telefone, me atirei na cama chorei ate dormir. Na manhã seguinte minha caixa postal havia estourado de tantas mensagens. Não ouvi nem li nenhuma. Só guardei o celular no bolso do casaco. Partir antes do combinado foi o que eu fiz para evitar amigos na minha porta querendo dar o último adeus. Tudo estava sendo muito difícil pra mim. Não disse tchau a ninguém. Foi melhor assim.

2 comentários:

  1. Me prendeu. Só acho que os capítulos tinha que ser mais curtos.

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    1. Querida Ryanne vou tentar subdividir os capítulos pra ficar mais fácil a marcação da leitura. Eu já tinha pensado nisso antes. E Obrigada pela dica. Continue lendo!

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