quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Eu me apaixonei por um anjo. Capítulo 4




Vivendo entre o céu e o inferno.

I. Aprendendo com o amor.

Eu já não sabia mais onde estava o Luca dentro do meu coração. Eu sabia que ele estava em algum lugar, mas na verdade eu não queria encontra-lo e voltar a sentir todo aquele sofrimento outra vez. Inexplicavelmente eu estava feliz com o meu novo amor, mesmo sendo um amor proibido. Quando a gente ama somos capazes de nutrir uma esperança que não há razão de existir. Eu não podia ter esperança. Mas sentimentos frustrados podem se transformar em sentimentos de superação que revertem todo placar a nosso favor. 

Minhas chances eram poucas. Na verdade a chance nem existia. Era apenas esse sentimento de esperança tomando conta de mim. Então eu comecei a estudar um jeito de impressionar o meu pastor. E se vocês estão achando que eu achei pior me apaixonar por um homem nas condições do Pastor Anjo... Eu digo que não. Foi muito tranquilo. Teve paz. Teve doçura. Teve alegrias. Esse amor nunca me fez mal. Só me fez crescer.

Essa nova paixão me ensinou a dominar meus desejos. Dominar as emoções é o grande segredo. Aprendi a disfarçar a paixão. Ter o olhar neutro. Aprendi muito com esse sentimento. Aprendi que uma mulher tem que ter dignidade pra poder chamar atenção de um homem. Para obter os olhares do Pastor Anjo eu tinha que impressiona-lo como ser humano. Já sabia que ele tinha escolhido dedicar sua vida exclusivamente ao seu ministério. Essa foi uma condição que ele se impôs. Ninguém o obrigou a agir assim. Entender isso e não partir para o ataque seria o mais inteligente a fazer. É triste e constrangedor uma mulher se insinuar para um homem e ele ignorá-la. Esse era um risco que eu não queria correr. Eu sempre tive esse cuidado de não ser ignorada por ele. Atrair a atenção do homem amado é uma coisa que tem que ser feita com calma e inteligencia. Paciência e observação é muito importante.

Eu não conseguia entender em que uma esposa e uma família poderia atrapalhar o ministério dele. Até que um dia ele falou sobre o assunto deixando claro naquele momento que ele nunca tinha se apaixonado. Ele falou que não conhecia o amor Eros. E que seu ser estava inundado do amor Ágape. E foi falando do amor dele pela obra de deus. Do seu amor incondicional pela igreja. E que não seria justo amar uma mulher pela metade ou bem menos que a metade já que o ser dele estava inundado do amor Ágape não sobrando espaço para o amor Eros.

Isso é meio complicado de um ser humano entender. Eu fui pesquisar sobre o assunto. Primeiro fui tratar de saber o que era esse amor Ágape. O Wikipédia me dizia o seguinte: "A palavra foi usada de maneiras diferentes por uma variedade de fontes contemporâneas e antigas, incluindo os autores da Bíblia. Muitos pensaram que essa palavra representava o amor divino, incondicional, com auto-sacrifício ativo, pela vontade e pelo pensamento, embora esse amor Ágape também possa ser praticado por humanos, mas em grau bem inferior, obviamente, em função da imperfeição e limitações humanas."

O amor Eros todo mundo sabe que é o amor entre um homem e uma mulher. Que ele disse não conhecer. Aos 35 anos assumiu ser virgem e nunca ter tido um pensamento libidinoso. Isso reforçava minha tese de que ele era um anjo. Ele estava praticando esse amor Ágape com muita perfeição para ser apenas um homem. Eu estava ficando louca? O que era loucura maior, acreditar que ele era um anjo? Ou estar apaixonada pelo anjo? E como despertar o amor Eros em um anjo? Será que esse meu pecado teria redenção?

Eu vi tanta segurança e firmeza nas palavras dele, mas em vez de desanimar eu fiquei foi mais fascinada. Nunca me interessei por homens simples. Quanto mais diferente e complicado o homem fosse mais excitante se tornava pra mim. Aquela velha história do fruto proibido. E eu sendo a Eva, né. Talvez eu quisesse estar querendo me transformar na serpente aliciadora ou algo parecido.

Eu não vou dizer que não queria praticar o pecado original com o Pastor Anjo. Eu era apaixonada por ele. Claro que eu queria me casar com ele e a vida a dois seria uma consequência. Mas meus pensamentos eram mais de edificação. Eu me via ao lado dele ganhando almas pra deus. Fazendo o bem para as pessoas. Ajudando ele na obra. O meu sonho de amor era divino. Nada comparado ao inferno astral que vivi a meses atrás amando o italiano que não quero mais nem citar o nome.


II. Motivações para a transformação.

Voltar para a Vegas Café seria me afastar mais deste sonho. Eu já tinha me decidido a deixar a boate mesmo que isso significasse um terrível corte no meu orçamento. Eu queria me tornar uma missionária. Não uma missionária convencional. Alguém que falasse um pouco do submundo que são os night club’s da vida. Alguém que falasse de igual pra igual com os jovens. Falando a mesma língua dos jovens eu poderia alertar sobre os perigos. Passar um pouco da minha experiência na noite onde as pessoas se drogam e se prostituem de uma forma que parece muito natural, inclusive nas discotecas normais onde a maioria das moças se submetem a praticas de prostituição camuflada.

Minhas férias estavam acabando e o meu dinheiro também. Estava numa vida de dedicação a igreja e a faculdade. Adorava fazer parte do grupo de evangelização. Isso me aproximava do Pastor Anjo e descarregava toda energia ruim cada vez que via uma vida sendo transformada. Fui ficando cada dia mais leve e em paz comigo mesma. Eu levava uma vida acima de qualquer suspeita. Faltava uma semana para acabar minhas férias. Meu gerente me ligou perguntando se eu iria voltar e eu sem medo, disse: _Não! Ele me perguntou o que eu iria fazer. Eu respondi: _Procurar um emprego normal. Ele me disse: _Não tem nada de anormal no seu emprego. Eu disse que queria trabalhar de dia e que queria ter as noites livres. E que queria ter meu tempo livre compatível com um futuro namorado. Argumentos não me faltaram para não querer mais trabalhar na Vegas. 

A mensalidade da faculdade não podia atrasar, então fui procurar emprego no shopping. Foi quando meu pai ligou dizendo que minha mãe estava com câncer no estômago. Meu mundo desabou naquele momento. Fui para Magé visitar meus pais e saber qual a gravidade da doença. Chegando lá descobri que o tumor já estava num estágio muito avançado e que o tratamento tinha que ser iniciado imediatamente. 

Não vi outra solução para pagar o tratamento de minha mãe. Eu liguei pra Boate e pedi meu emprego de volta. Eu só pensava da onde eu iria tirar animo. Aquela alegria que muitas das vezes era encenada não me parecia mais possível. Mesmo assim eu tinha que tentar pela minha mãe, ou o seu sofrimento seria maior. Antes de qualquer coisa, assim que cheguei na capital, fui falar com deus.

Era meio dia a igreja estava vazia, me dirigi ao altar. Eu só conseguia chorar e perguntar: Por que meu deus? Meu choro alcançou os ouvidos do Pastor Anjo. Sem uma batida de porta. Sem ouvir passos. Ele segurou minha mão e disse: “Eu estou contigo! Não importa a gravidade do problema. Peça que eu te darei a cura.” Eu abri meus olhos, pois aquela voz não era a do meu pastor. Mas era ele segurando a minha mão. Desta vez com a voz humana dele, o Pastor Anjo falou: _Vamos falar com deus!

Eu sei que eu estava segurando a mão dele, mas não foi ele quem falou comigo antes. Isso foi muito claro. Bem ali no meio de toda aquela desgraça e desespero eu tive meu primeiro encontro com Deus. O Pastor Anjo não tinha como adivinhar que eu precisava de uma cura. Oramos forte e eu soube que aquele era um pedido pra ser feito pra deus. Pois só ele poderia responder. Naquela hora eu esqueci que estava diante do homem que eu mais desejava. Não me importei se estava descabelada ou com o rímel escorrendo. Não quis saber se estava no meu melhor angulo ou se estava sexy suficiente pra ele me ver. Naquele momento percebi que eu sempre deixava coisas externas interferir no meu relacionamento com deus. Sem esperança em mais ninguém eu abri meu coração pra deus.

Minha oração: _Deus, eu me entrego a ti. Eu não tenho forças. Então senhor, eu me rendo. Se é da tua vontade que eu volte para dançar naquela boate que assim seja. Se para conseguir pagar o tratamento da minha mãe eu tenha que me deitar com os homens em troca de dinheiro, mesmo que isso me acabe por dentro, assim o farei. Mas senhor, se eu for digna da tua piedade me livra disso. Mas que seja feita a tua vontade na minha vida. Eu creio que o senhor me dará a resposta. Não me desampara senhor. Amém!

Naquele momento não me importava se o meu pastor iria descobrir meu segredo. Eu já não me importava se ele ia me olhar diferente. A dor de ver minha mãe tão debilitada me destruiu. Mas quando olhei nos olhos dele eu vi tanta compaixão em seu olhar. Eu me senti envergonhada. Era como se o olhar dele me perguntasse: Como escondeu isso por tanto tempo? Mas ele só disse: _Você não tem que passar por isso sozinha. Vá pra casa e medite na bíblia. Continue pedindo a direção de Deus. Continue buscando essa resposta, no tempo certo, o Senhor te responderá. E que Deus te abençoe, minha filha! 

Ele tinha o poder de usar as palavras certas na hora certa. Eu achei que ele ia querer conversar sobre o assunto. Sua sabedoria dizia que aquela não era uma boa hora. Eu não estava em condições de ser indagada. Agora o meu martírio não era mais inocente. A guerra espiritual estava sendo declarada. Eu não era mais meio ateu. Eu já entendia porque as pessoas passam por provações. O cristão vive sendo colocado à prova. Eu não tinha filhos, mas meus pais e meus irmãos eram tudo pra mim. Claro que eu morreria por eles. Dou graças à Deus que eu não precisei enfrentar isso sozinha. Fico imaginando se eu ainda fosse aquela cética de antes. Os sinais acontecem e você ás vezes deixa passar despercebido. Deus prepara para você situações que te motivam à mudanças de comportamento. 

Eu deixei todo meu dinheiro com meu pai e fiquei sem nada. Uns dias depois minha dispensa estava vazia e, minha geladeira só tinha água. E eu continuava buscando a resposta de Deus. Essa última semana das minhas férias foi uma tribulação. Se fosse só por mim eu me virava com o pouco dinheiro das aulas até conseguir um trabalho no shopping. Só que a doença da minha mãe estava progredindo. Era o que eu achava. Eu achava que o milagre era eu conseguir o dinheiro do hospital. Não tinha entrado ainda na minha cabeça que ter fé faz a cura acontecer. Pra mim minha mãe seria curada após varias sessões de quimioterapia e com muito esforço da parte dela. Eu não estava acostumada a ver milagres acontecendo de forma tão sobrenatural.


III. Confia nele e ele tudo fará.

E nada aconteceu enquanto eu esperava o "milagre do dinheiro". Liguei pra vários "amigos" magnatas só tive promessas de ajuda. Voltei pra boate! Lá os clientes já estavam sabendo do meu problema. Alguns se afastaram. Outros me davam falsas esperanças que iam me ajudar. Mas, o mais incrível é que teve um que se aproveitou da minha situação. Albert, me sugeriu um contrato. Isso mesmo! Um contrato reconhecido em cartório. Um acordo em que ele pagava as despesas hospitalares da minha mãe até a recuperação total dela. Tudo isso, nos Estados Unidos. Mas que me obrigava a ir pra cama com o ele. Um tratamento no melhor hospital especializado, em Houston, era exatamente o que eu queria para minha mãe. Meu pai e minha irmã podiam acompanhar ela. 

Era bom demais pra recusar. Toda escolha vem com uma renúncia. Eu renunciava tudo aquilo que eu acreditei durante minha vida inteira ou ficava com a culpa de não ter feito o possível pra salvar a vida da minha mãe. Lembrei que como me senti suja quando fui pra cama com o Luca mesmo com todo o amor que sentia por ele. Só o amor não me bastava mais para me entregar a um homem. Minha nova convicção dizia que tinha que ser um amor verdadeiro e recíproco. Isso me parecia impossível de acontecer com o Albert. Ainda mais com o Pastor Anjo no meu coração. Eu tinha aprendido coisas novas sobre o amor. Novas convicções que não anularam a ideia de estar entregando meu corpo por amor, um amor recíproco entre eu e minha mãe. E por esse amor tudo valia a pena.

Eu tinha míseros dois dias para pensar, nestes dois dias o câncer ia consumindo o estomago da mulher que me gerou em seu ventre. Deus parecia não falar comigo. Eu fiquei com a promessa da cura esquecida. Deus trabalha de forma misteriosa, temos que ter sabedoria e confiar nele. Mas eu estava com meu coração muito aflito, acabei aceitando a proposta do magnata americano. Ele me deu um contrato e eu assinei. Com isso eu decidi me afastar da minha igreja e do meu Pastor Anjo. Encarar ele com esse problema na cabeça seria o mesmo que falar tudo pra ele. Parecia que ele lia os meus pensamentos. 

Eu mudei de bairro para evitar as pessoas da igreja, principalmente o Pastor. O Albert me cedeu seu apartamento na Lagoa pra eu ficar com meus dois irmãos. Por causa do acordo nós tínhamos muito contato. Ele viajou para levar minha família para Houston. E me mandava dinheiro pra que eu não precisasse trabalhar. Assim passei dois meses apenas estudando, cuidando do meu irmão de seis anos e dando aula para as madames. Recebia ligação de Houston todos os dias. O Albert me manteve bem informada sobre o tratamento. Eu tinha muita gratidão por ele. Pedia a deus para que meus sentimentos por ele evoluísse. Mas invés disso eu sentia muita saudade do Pastor Anjo.

Eu frequentava outra igreja perto da minha nova residencia. Não dava de jeito nenhum pra abandonar minha fé. Primeiro, eu era demais agradecida a Deus por ter me curado daquela depressão. Na época eu vivia a base de tranquilizantes e tarjas pretas. Depois que passei a frequentar a igreja não usei mais nada. Os remédios ficaram na minha prateleira porque eu passei a fazer uso da minha fé pra ser feliz. Segundo, só dá pra ser confiante se você tiver fé. Eu tinha que ter fé que minha mãe ia se curar. Eu me curei! Por que Deus não iria agir na vida dela também? Eu tinha que acreditar. Me desesperar não ia ajudar em nada. Contra essas doenças até os cientistas dizem que ter fé ajuda muito.

E eu mandava mensagens de fé para minha mãe todos os dias. Quase todas eram passadas pelo Pastor Anjo. Através do seu programa ou da internet ele continuava me entregando uma palavra de apoio. Era incrível como deus usava ele o tempo todo pra falar comigo. Isso não acontecia na igreja onde frequentava. Eu meditava na passagem do livro de Números 14:9 "Somente não sejam rebeldes contra o Senhor. E não tenham medo do povo da terra, porque nós os devoraremos como se fossem pão. A proteção deles se foi, mas o Senhor está conosco. Não tenham medo deles!" E tinha certeza que essa palavra era pra mim. Mas ainda estava muito nova na fé para viver mais intensamente essas palavras. 

Os dias foram passando e o meu contrato estava vencendo. Ele era claro e dizia que se uma das partes não comparecesse no dia do encontro o mesmo não poderia ser remarcado. O Contrato também dizia que se a parte devedora (no caso eu) faltasse ao encontro a dívida seria cobrada em juízo. E que se a parte credora faltasse automaticamente dívida ficaria como quitada. Assim como se mesmo o credor indo ao encontro e desistindo do ato sexual a dívida se encerrava. O Prazo máximo para espera era de uma hora. O dia do Albert cobrar a sua dívida chegou, eu estava lá, no hotel de luxo e na suite presidencial, reservada para nós. Cheguei sem atraso. Albert era quem estava atrasado em 40 minutos. Eu tinha apenas vinte minutos de espera para me sentir livre daquela dívida. Mas ele chegou com um sorriso leve no rosto e me disse:

_ Perdão pelo atraso, eu não quis faze-la esperar. Você teve mais um tempo pra pensar e decidir ir embora.

_ Não há nada para pensar.

_ Foi o que eu imaginei. De qualquer forma se era pra deixa-la nesta aflição seria melhor não vir. Não acha?

_ De que aflição você está falando?

Eu estava sentada num sofá de veludo vermelho com as pernas cruzadas e mãos no joelho. Me levantei e acho que ele teve a melhor visão de todos os tempos. Enquanto caminhava em sua direção a fenda do meu vestido preto e longo se abria e deixava à mostra pernas bem torneadas e delicadas. 

_ Por favor Albert sei que temos uma noite inteira pela frente e não pretendo desperdiça-la com essa conversa nada agradável. Pare de falar e me beije logo _ Parei em sua frente a uma distancia que dava pra sentirmos a respiração um do outro. 

Mesmo ele sendo um homem experiente com as mulheres sei que ele estava tentando se controlar o máximo possível. E a minha experiência dizia que eu não tinha que passar dali. Ou seja, tinha que ficar quieta e deixar que ele tomasse a atitude. Ele me olhava com um olhar muito enigmático. Me segurava com as duas mãos pela cintura. Olho no olho. Eu achei que ele fosse me beijar. Ele simplesmente disse:_ É muito cedo, vamos jantar.

Meu coração estava batendo a mil por hora e era notável. Jantamos, e até demos rizadas. Ele me serviu uma taça de vinho e fomos para o terraço onde havia uma lua cheia e milhares de estrelas no céu. Ele tirou a taça da minha mão colocou sobre a mesa, me pediu uma dança ao som de Love me tender. Ele usava um perfume que eu não conhecia. Ele foi muito respeitoso o tempo todo. No fim da canção eu o abracei tão forte porque me senti segura naquele momento, como se nenhum mal pudesse me alcançar. Ele me afastou me segurando pelos braços, bem próximo dos ombros e me disse com tanta sinceridade no olhar: _O amor é descabido. É irracional, ás vezes. Mas nunca, nunca é egoísta. Se precisar, se sentir medo, me chame. Eu venho somente pra abraça-la outra vez. 

Quando ele bateu a porta e foi embora eu lembrei de uma das mais belas pregação do Pastor Anjo. "Ai dos filhos rebeldes, diz o SENHOR, que tomam conselho, mas não de mim; e que se cobrem, com uma cobertura, mas não do meu espírito, para acrescentarem pecado sobre pecado; Que descem ao Egito, sem pedirem o meu conselho; para se fortificarem com a força de Faraó, e para confiarem na sombra do Egito.Porque a força de Faraó se vos tornará em vergonha, e a confiança na sombra do Egito em confusão." Isaías 30:1-3. 

Agora tudo fazia sentido. Eu sozinha, tracei meus planos. Eu sozinha, fiz uma aliança perigosa. Eu decidi correr todos os riscos. Mas eu não estava sozinha. Foi minha sorte. Se é que o Cristão pode usar esta palavra "sorte". Melhor dizendo: Foi minha benção. Deus estava comigo. Eu não conhecia ainda a majestade de deus. Eu fiquei muito surpresa. Este foi o primeiro milagre operado diretamente por Deus na minha vida. Eu estava maravilhada, mas sem entender. Os meus poucos meses de Cristã ainda não me davam entendimento. 

Isso era o que eu pensava. Pra mim já era um milagre eu estar intacta. Milagre digno de prostração aos pés do senhor. Foi o que eu fiz. Me ajoelhei e agradeci muito a deus. Deixei o hotel no meio da noite e fui correndo para a igreja. O Pastor Anjo voltava da gravação do programa. Eu não quis saber se tinha câmeras na igreja. Eu corri para abraça-lo. Pela alegria que eu estava sentindo e também pela saudade. Pra ele aquela situação era totalmente inusitada. Mas ele não se esquivou. Não tinha o que temer. Me abraçou. Me acolheu em seus braços. Foi a primeira vez que meu corpo abraçou o dele. Eu achava que nunca ia me sentir tão próxima dele, a ponto de perceber que ele era mesmo feito de carne e osso.

Eu chorava de alívio. Ele não falava nada. Apenas me acalentava em seus braços. Era como se ele me dissesse em pensamento: "calma, tudo já passou". Depois eu perguntei se ele queria saber por que eu chorava. Com muita certeza ele me disse que sabia o por quê. Eu nem sei porque ainda ficava surpresa. Estava cada vez mais claro que ele era um homem com poderes celestiais. No fundo eu queria que fosse um homem com todos seus instintos masculinos. E não um ser celestial que jamais sentiria o amor eros. Ele secava minhas ultimas lágrimas, até que eu já não chorava mais. No meio de todo aquele silêncio, numa troca de olhares, ele parecia falar comigo em pensamento: "Esta batalha está ganha mas outras virão ainda mais sanguinárias."


VI. A mágoa atrapalha o perdão.

Aceitei voltar para Vegas Café mas, apenas nos fins de semana para não atrapalhar a faculdade. Só a possibilidade de vê ele ou simplesmente o fato de me sentir perto dele me fazia bem. Lá na boate o comentário era um só: Eu já tinha me deitado com o Albert. Todos sabiam que ele tinha levado minha mãe para os Estados Unidos. Mas isso não fazia a menor diferença para mim. Eu sabia o que realmente estava acontecendo. E eu estava muito aliviada. Em resumo me sentindo felizarda por ser tão sortuda ao ponto de cuidar da minha mãe sem precisar me prostituir. E eu precisava voltar lá no lugar onde eu tive a oportunidade de conhecer um homem como o Albert. Eu tinha muito que celebrar sim. Fui dançar que era o que eu mais amava fazer.

Um dia eu estava dançando um clássico dos clássicos do striptease. Simplesmente ao som de You can leave your hat on do filme Nove e meia semanas de amor. Eu estava tão envolvida na coreografia que não percebi a presença de uma pessoa que me assistia com devoção. Em seguida dancei Money can’t buy it, de outro clássico do cinema, do filme Strepteaser e encerrei a minha apresentação dançando Down in Mexico. Eu gostava de dançar músicas que faziam referencia a minha profissão no cinema.

E o homem continuava me olhando sem que eu percebesse. Depois que voltei do camarim, já vestida, fui conduzida até a mesa desse cliente que tinha pago uma boa quantia para que eu conversasse apenas com ele. Pagou pela a tal exclusividade. Meu gerente me disse que achava que era um velho amigo meu porque ele fez muitas perguntas sobre mim. Quando cheguei na mesa quase virei pra trás. O Luca! Me esperando com flores que ele tinha pedido para o funcionário da boate comprar sei lá por onde. Ele já sabia tudo que eu estava passando, inclusive da notícia falsa que eu tinha me tornado uma garota de programa. Eu fiquei ouvindo dez minutos ele falando e me fazendo perguntas que não vinham ao caso eu responder. Depois me cansei do papo quando ele falou que poderia ter me ajudado se eu tivesse falado pra ele. Ora, ajuda melhor do que a que eu estava tendo. Se minha situação fosse outra eu não sei o que faria ou o que diria. Mas me levantei dizendo: _Já me encheu Luca. Dá o fora! Eu tô em outra. Fui sentar sozinha no bar e nem vi quando ele foi embora.

Na outra semana eu decidi passar na igreja antes de ir pra boate. Eu não achava que eu pecava sendo striper. Mexer com os desejo dos homens era uma coisa normal para mim. Não me importava se eles deixavam suas esposas em casa. Eu achava que eu não fazia parte dessas traições. E não fazia mesmo. Mas há questões morais e culturais por trás do que é certo ou errado. De um jeito ou de outro eu tinha minha parcela de culpa quando um homem deixava sua esposa sozinha em casa pra ir me ver dançar. Isso nunca me afetou até o Pastor Anjo me mandar uma palavra. Desde esse dia eu comecei a me sentir culpada e muito incomodada com meu jeito de me sustentar.

Numa noite de casa cheia um cliente me abordou falando que tinha se separado e que a causa era eu. Ele me propôs ir morar com ele, casar se fosse da minha vontade. Ele me disse que sabia que eu não era indiferente. E que ele se agarrou a esperança que eu dei a ele. Eu lhe perguntei quando? Ele me disse que sempre que conversávamos. Eu parei pra pensar se realmente tinha dado esperanças falsas a ele. Percebi que a atenção e educação com que tratava os clientes era facilmente confundida. E também me dei conta de que a sensualidade que eu usava no palco, os olhares e os gestos eram compreendidos muitas das vezes com um interesse em particular. Nessa noite juntei minhas coisas e fui conversar com o Pastor Anjo. Me chocou saber que eu fui responsável pela destruição de um lar.

O Pastor anjo não sabia que eu estava cuidando dos meus irmãos e morando na casa do Albert. Ele achava que eu estava morando com minhas amigas da boate. E achou melhor me tirar desse convívio. Um mal entendido que eu deixei que virasse uma mentira pra me beneficiar. Quando quis ir embora ele disse que eu não devia ir embora aquela hora da madrugada sozinha. E me disse que eu poderia dormir no quarto de hospedes da casa dele. Meu espírito vibrou tanto nessa hora. Até que a mentira valeu a pena. Pensei comigo mesma. Do mesmo jeito ele não iria deixar eu correr riscos na madrugada. Eu realmente me sentia mal de mentir pro Pastor Anjo. Mas aquela mentira foi uma das que não me arrependo. Já já eu explico por quê. 

Fomos conversando até a casa dele. Ele me perguntou se eu ia retomar todos meus projetos, inclusive a evangelização. Na mesma hora falei que sim. Ele disse que eu poderia ficar hospedada com ele até conseguir um lugar conforme a minha necessidade. Agora vocês entenderam porque não me arrependi dessa mentira de dizer que morava com garotas de programa. Ele não achava que minha presença fosse representar um risco, uma tentação. Qualquer homem evitaria uma situação como essa. Nenhum pastor se colocaria à prova desta maneira. Pois como diz o ditado "a mulher enganou até o diabo". Mas o Pastor anjo tinha certeza do domínio que possuía sobre de si mesmo. Ele tinha convicção da castidade dele. E eu deixei meus irmão na Lagoa sem pensar duas vezes. 

Ele dirigia. Eu olhei pra ele e meu olhar queria dizer: Eu te amo! Mas cade a coragem? Já era alegria demais está ali com ele. Eu só tinha que respirar fundo. Me tranquilizar. E não assustar o meu pastor. Não podia decepcioná-lo. E não queria que ele se arrependesse do que estava fazendo. Então disfarcei o meu entusiasmo, a minha excitação. Sei lá, o que mais eu disfarcei. Até pensei em não aceitar ficar na casa dele. Mas eu queria estar perto dele. Aprender mais de deus com ele, e treinar minha resistência. Estar debaixo do mesmo teto da minha paixão e não tentar seduzi-lo seria um grande desafio. E foi mesmo! 

Ele me disse que o Albert me amava. Me aconselhou a dar uma chance para esse sentimento. Conversamos sobre sentimentos de uma forma surpreendente. Pra quem disse nunca ter se apaixonado, ele estava por dentro demais. Uma das coisas que ele me disse que nunca me esqueci. Foi para nunca deixar que um homem perceba que ele me interessa. Falou: _Não estou dizendo pra esconder seu amor ou sua paixão, digo para esconder o interesse. Se um homem lhe interessa pelo amor ou por outra coisa qualquer, nunca deixe ele saber disso._Ele sabia que eu não era apaixonada pelo Albert mas era óbvio que o interesse existia. O Pastor Anjo era do tipo que acreditava que do convívio pode surgir o amor. Eu concordo. Mas comigo apenas tinha acontecido à primeira vista. 

De qualquer forma o que ele queria que eu entendesse era o quanto uma pessoa pode se tornar interessante quando não quer a gente. Enquanto eu estava hospedada na casa do pastor eu não trabalhei na Vegas Café. O Albert me ajudava. Eu já não era mais aquela garota orgulhosa e boba. Estava enxergando que a dignidade de uma mulher não se quebra ao aceitar a ajuda financeira de um homem. Nessa altura eu já conhecia bem o Albert e sabia que ele era um homem honrado. Ele também já me conhecia muito bem. Até me acompanhava as reuniões. E o Pastor Anjo parecia ter dado a sua benção. Mas eu não permiti que o Albert se iludisse a meu respeito. Continuamos sendo amigos. Recebi uma ligação de Houston dizendo que minha mãe estava voltando recuperada. O Albert falou com os médicos e eles disseram que o tumor simplesmente desapareceu. Ele desligou o telefone e me disse:_Como a fé de sua família é grande. Os médicos falaram pra mim que as chances dela eram pequenas demais. _ Ele não teve coragem de me dizer mas minha mãe foi desenganada pela equipe de Houston. Eu agradeci muito por tudo que ele fez pela minha família. Eu estava tão feliz. Não cabia em mim de tanta alegria. Quando acontece um milagre em sua vida, você fica diferente, fica inabalável.

Ele viajou de volta para a América percebendo quem era minha verdadeira paixão. Ele foi e minha mãe veio. Foi maravilhoso recebe-la com o Pastor Anjo. Depois que eu matei a saudade da minha mãe. Ele nos levou até Magé.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Eu me apaixonei por um anjo. Capítulo 3

Vivendo no limite

I. Mudando de ares.

De repente, virei atração principal da boate mais luxuosa do Rio, a Vegas Café, na Barra da Tijuca. Deus trabalha de forma misteriosa, eu já disse. Aluguei um apartamento ao lado da Igreja do Pastor Anjo por ser perto do meu trabalho. Se na Abra Kadabra eu ganhava gorjetas de 100 reais, na Vegas Café eu chegava a ganhar 200 reais de cada cliente. A boate era muito maior e eu fazia duas apresentações. No intervalo entre um show e outro eu sentava cinco minutos na mesa de um, mais 10 minutos na mesa de outro. Sempre orientada pelo meu gerente que determinava o tempo que eu ia falar com cada cliente. Esse tempo era de acordo com a conta bancaria deles. Minhas atitudes dentro da boate eram milimetricamente calculadas. Eu pedia o drink mais caro da casa (sem álcool) os estimulava a beber até ficarem bem alegres e os deixava com uma garota que iria terminar o serviço. O meu chefe tinha esperança de eu aceitar fazer programa com algum dos milionários. Eu gostava muito de dançar, jamais me passava pela cabeça de ganhar dinheiro com algo que eu não gostasse de fazer. As ofertas eram realmente tentadoras.

Minha companhia era bastante disputada pelos clientes mais ricos e poderosos. O gerente brincava dizendo que ia me leiloar. Geralmente esses homens eram chamados de magnata. Eles não queriam sexo, queriam companhia, boa conversa. Queriam apenas fazer figura e mostrar que tinham dinheiro. Eu prendia a atenção deles com uma conversa divertida e inteligente. Um sorriso nos lábios e um olhar sedutor prende a atenção de qualquer homem. Eu jamais desviava o olhar dos meus clientes quando eu estava falando sobre sonhos, os meus mais altos sonhos. Eu não sei da onde eu tirava tantos sonhos. Era tanta imaginação que até eu me surpreendia. Me surpreendia como eu podia ser varias mulheres ao mesmo tempo. Na mesma noite em que eu queria ser uma secretária executiva bilíngue eu também poderia ser uma famosa locutora de rádio. Eu me reinventava para cada cliente. Dez minutos de conversa era suficiente pra eu detectar que estilo eu poderia fazer para agradar mais.

Lembro que com o magnata Albert eu falei do meu verdadeiro sonho de ser uma grande bailarina. Ele me dizia que eu já era a maior bailarina do mundo inteiro. Eu disse que não se tratava só de ter precisão nos movimentos e sim de reconhecimento. Falei pra ele que queria ter várias escolas de dança com o meu nome. Meu sonho era ser referencia assim como Mikhail Baryshnikov, Fred Artaire e Michael Jackson. A versão feminina de todos esses grandes artistas. Ele era a única pessoa que se mostrava realmente interessado e que torcia pra que eu realizasse meus sonhos. Ele também me elogiava por saber conversar sobre os mais variados assuntos. Isso me garantia uma certa vantagem, pois os homens em geral não se interessavam apenas pelas minhas curvas. Eles ficavam muito satisfeitos de pagar apenas por uma boa conversa. Eles abriam a carteira fácil, fácil, só pra me surpreender. Lembro do Fabrício que eu fiz ele acreditar que o meu sonho era me tornar instrutora de mergulho. Ele me pagou o curso completo. Mergulhar, escalar e me lançar de uma altura tenebrosa não era uma coisa difícil para mim. Viagens e aventuras era a minha cara. Eu poderia fazer todas aquelas coisas como profissão, mas ainda não era o sonho da minha vida. Mesmo assim eu era insegura. Em meu coração eu queria viver da dança.

II. As lembranças machucam.

Ainda tinha muito do Luca dentro de mim. Aquela mágoa parecia que nunca ia sair do meu peito. Eu não conseguia esquecer o olhar frio dele enquanto o segurança me tirava de dentro daquele banheiro. Eu acho que ele ainda era o meu maior sonho. Naquela época antes de Deus me abrir a visão eu largaria qualquer coisa por ele. Qualquer sonho meu era pequeno perto dele. Amar alguém assim é deixar de amar a si próprio. É colocar a pessoa amada e os interesses dela acima de você. Ainda não estava aberta para me interessar por outro homem. Apesar de tentar, eu não conseguia me sentir atraída por ninguém. Um dia almoçava com o Daniel. Outro dia jantava com o Gabriel. Um sorvete com alguém. Um happy hour com outro alguém. Eu sempre soube que só se cura um amor com outro amor. Eu tinha medo que isso jamais acontecesse. Era a impaciência da juventude. Não importava quantas pessoas haviam ao meu redor, eu sempre me sentia sozinha. Uma pessoa que mora longe da família sempre se apega aos amigos, e eles, eu tinha abandonado. Minha vida se resumia somente ao meu trabalho. Apesar da minha nova vida na Barra ter poucos meses eu já estava enfadada. Precisava dar um sentido a minha vida. Não era uma boa hora de ter uma crise existencial de adolescente. Um tanto quanto tardia, mas uma fase que me trouxe aprendizados.

Se minha vida pessoal e sentimental estava morta e apagada a profissional brilhava cada vez mais. Já nem ficava mais surpresa quando ganhava um bom presente. Era um tal de trouxe de Miami daqui. Trouxe de Paris dali. Eram eletroeletrônicos, perfumes e as vezes até joias. Eu me sentia mimada pelos meus novos admiradores. Mas eu não podia me esquecer que aqueles presentes eram tentativas de me comprar. Na minha cabeça, aceitar os presentes, seria o mesmo que me prostituir. Eu nem preciso dizer que eu era muito invejada. Além disso, eu também era incompreendida. Poderia ganhar muito mais dinheiro e presentes do que qualquer mulher daquela boate. Poderia até conseguir um bom casamento. Não aproveitar as oportunidades que apareciam deixava muitas colegas revoltadas. Eu andava de cabeça erguida, pois nunca prejudiquei ninguém. Não sabia o que era usar as pessoas. Nunca enganei uma só pessoa. Agi sempre com a verdade. Mesmo assim muitos tramaram contra mim. Quando não eram armadilhas de mulheres invejosas, eram homens tentando me violentar. Hoje eu posso afirmar que Deus protege os justos.

III. Sociedade carioca.

Um cliente da Vegas frequentava a boate sempre acompanhado de sua elegante esposa. A Madalene, foi garota de programa nos anos 80 quando conheceu seu atual marido, o adorável Steve. Eles moravam em New York e durante o inverno americano eles vinham para o Brasil. Madalene me adorou logo de primeira, pois eu era a única naquela boate que não queria roubar o seu marido bilionário americano. Ela me deu a ideia de dar aulas particulares de dança. Um ganha pão alternativo com a dança. Ela mesma me indicou para algumas amigas. Elas queriam saber o segredo da dança de Madalene que segundo elas, era a razão do casamento tão duradouro dos dois. Eu me propus a ensinar o gingado. Apesar de saber que a dança não prende ninguém se não o Luca estaria do meu lado. Uma mulher tem que aprender cedo ou tarde que o que faz um homem admira-la não é o seu corpo ou o que você faz com ele. A autoconfiança é um dos segredos de Madalene e de todas as mulheres inteligentes. Isso eu ainda não tinha descoberto.

O homem se apaixona pela mulher que consegue reunir essas três características: a amiga, a mãe e a prostituta. Foi um conceito machista que eu ouvi muito. Como a maioria dos homens são machistas muitos deles pensam assim. Difícil é reunir as três características em uma só mulher. Entenda que “amiga”, “mãe” e “prostituta” não estão no sentido literal. Nenhum homem faz sexo com quem considera sua amiga, muito menos com a mãe. Ele até pode fazer com a prostituta mas ele só se casa com ela se ela reunir todas estas características. Era o que Madalene era para Steve. Uma amiga incondicional que sabia ouvir e compreender, sem pre julgamentos. Uma verdadeira rainha do lar que conseguia ser tão boa mãe para os filhos dele quanto boa esposa. Ele fazia questão de elogiar dos dotes culinários de Madalene. E tudo isso sem deixar de ser aquela mulher sensual que está sempre soltando faísca na relação a dois. Então quando ele percebeu que aquela prostituta que levava ele à loucura era uma boa amiga que o apoiava em tudo e que ela era capaz de cuidar dele e da casa igual ou talvez melhor que sua mãe. Ele não teve dúvida. Ela era mulher pra casar. Isso mesmo! Os homens querem se casar com a Mulher Maravilha. Mas isso é conversa para outro livro.

Como professora particular de dança de mulheres ricas eu entrei para a righ society carioca. Fiz muitas amizades influentes. Claro que Madalene nunca comentou com nenhuma delas onde nos conhecemos. Ela também não queria que ninguém soubesse de suas origens. Todos sabemos que a sociedade é hipócrita demais mesmo no século 21. Enfim eu começava a guardar dinheiro. Eu aposto que eu tinha mais admiradores que qualquer celebridade do show business. E nenhum conseguia fazer meu coração disparar. Nessa época eu ajudei bastante minha família. Meu pai reformou toda a casa de Magé, minha irmã se matriculou no curso de idiomas e meu irmão pode comprar os instrumentos musicais pra formar sua banda. Mesmo eu me mantendo da dança eu não era realizada profissionalmente. Ser dançarina de Night Club não traria nunca pra mim o reconhecimento que eu merecia. Um ano se passou e eu sentia como se tivesse passado cinco. Estava cansada, stressada e deprimida. Cansada de perder tantas noites de sono e não poder aproveitar um dia de domingo na praia com meus novos amigos. Farta de fingir ser a garota feliz e sorridente para os clientes da Vegas Café. A depressão nem eu mesma tinha percebido, mas estava com sintomas avançados de depressão profunda. Eu achava tudo tão normal. Já disse no capítulo anterior que eu pensava estar defendendo o meu pão de cada dia.

IV. Solidão, depressão e alcoolismo.

Nos dias de folga é que eu percebia que eu era sozinha. Todas as pessoas que eu conhecia na zona oeste eram clientes ou ligadas a eles. Sejam da boate ou das aulas de dança. Eu não podia estreitar demais os relacionamentos para não confundir os clientes da boate ou para não ser descoberta pelas esposas socialites. Para afastar o vazio da minha vida eu me afogava em bebidas cada vez mais forte. Qualquer pessoa que me conheceu antes iria dizer que minha vida mudou muito e pra melhor. Eu morava num bairro nobre, fazia sucesso no meu trabalho, ganhava muito dinheiro, andava entre as mais altas rodas sociais. E ainda realizei os sonhos da minha família. É, realmente, aos olhos de quem estava de fora eu não poderia reclamar da vida. Mas aqui dentro de mim existia um vazio. Deus tinha que aparecer na minha vida. As amargas lembranças deixada pelo Luca. A falta de alguém pra compartilhar momentos bons e ruins. Enfim, algo que me motivasse era o que me faltava. O trabalho pra mim era uma obrigação que não me dava mais prazer. Eu ainda esperava que o Luca me escrevesse um e-mail dizendo que estava sozinho e que queria me ver.

Meus dias iam se arrastando sem nenhuma razão de ser. A depressão começou ficar mais séria e eu já nem ia mais trabalhar. O gerente da boate me ligou e eu disse que estava doente. Depois de duas semanas que eu estava afastada ele mandou a Yasmim me visitar, uma colega de trabalho, pra ver como eu estava. Ela chegou em casa e pode constatar que minha doença era alcoolismo e depressão. Ela tentou me dá uma força. Ela já tinha percebido a algum tempo que tinha algo errado comigo. Então ela me aconselhou a buscar ajuda psicológica. Eu prometi que ia procurar um profissional e que voltaria pra boate assim que me sentisse melhor.

Você pode estar sentindo o que for mas nunca recuse a ajuda de um profissional. Naquela época eu não conhecia Deus e nem conhecia outra forma de superar o que eu estava sentindo. Mas juntei as ultimas forças que tinha e fui a um consultório de uma psicologa muito famosa na Barra da Tijuca. Ela me ajudou a controlar a bebida e principalmente evitou que meu problema se agravasse e eu começasse a usar drogas. Ela me aconselhou a procurar ajuda espiritual, o que ela carinhosamente chamava de “terapia extra”. Eu tinha um encontro semanal com minha psicóloga. Não era apenas uma questão de deitar no divã e falar. No começo eu achei que ia ser bom ter com quem desabafar, a princípio era isso. Mas percebi que aos poucos minha terapia me ajudava a enxergar soluções alternativas para meus problemas. A terapia também me ajudou a analisar melhor meu sentimento pelo Luca e perceber que eu o idealizei.

Reingressei na faculdade, o que me encheu de ânimo. E retomei as aulas de dança. Mas entrei de licença médica no meu trabalho noturno, seguido de férias. Na verdade eu não pensava em voltar pra Vegas Café. Eu não queria mais trabalhar na noite. Foram muito anos trabalhando em casas noturnas, meu horário biológico não me deixava dormir a noite. Quando eu pegava no sono já era quase 6 horas da manhã. Continuava dormindo a manhã toda e perdendo noites de sono com minha insônia. A tarde dava aula. E a noite eu assistia aula. Quando chegava em casa era o dilema pra dormir, mas não tocava mais no álcool. Hoje eu sei que solidão, depressão e alcoolismo são doenças da alma. Me viciei nos programas evangélicos que passavam todas as noites durante a madrugada. Minha Psicóloga sempre falava que essa terapia extra é muito importante.) Aqui eu fecho o parentese que abri no início do capítulo anterior. Levei dois capítulos tentando resumir a minha vida quando eu estava doente de amor pelo Luca. Isso foi o meu martírio inocente. A luta espiritual que eu não tinha consciência que enfrentava. Foi aí que eu conheci uma nova filosofia religiosa e o Pastor Anjo, vocês lembram né, do primeiro capítulo.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Eu me apaixonei por um anjo. Capítulo 2

Tempestades

I. Amargas lembranças.

Acredite que no meio da tempestade, do furacão ou do tsuname que você se encontra há sempre um escape programado por Deus, daqueles que você pensa que só acontece no cinema. Mas da onde você acha que os autores tiraram tais ideias? Eles certamente se inspiraram em algum fato que eles viveram ou presenciaram. A realidade é que milagres acontecem. Deus enviou um anjo, o Pastor Anjo. Para que você possa ter uma ideia de como eu cheguei na igreja preciso abrir um parêntese e voltar um pouco ao passado (Lembro que até o dia em que vi o pastor anjo pela primeira vez eu era completamente apaixonada pelo Luca, um italiano que conheci na boate em que trabalhava como dançarina. Eu dançava na boate Abra Kadabra na Zona Sul e lá era reduto dos italianos. Eu posso afirmar com certeza que amor à primeira vista acontece porque aconteceu comigo quando vi o Luca pela primeira vez. Eu vi materializado o homem dos meus sonhos de infância bem ali na minha frente. É estranho você vê a pessoa pela primeira vez e saber que o beijo é bom. É surpreendente reconhecer o perfume que a pessoa usa logo no primeiro contato. Também causa surpresa descobrir que a voz da pessoa tem o poder de acalmar ou enlouquecer. E é desesperador cada minuto longe da pessoa e pensar que a felicidade só existe do lado dessa pessoa. Eu senti tudo isso com o Luca e posso dizer que tive a sensação nítida que já o conhecia ha muito tempo. É como aquela velha história de amor de vidas passadas, déjà vu e coisas do tipo sobrenatural. Essa paixão me levou ao mais alto nível do sofrimento. Quando o Luca começou a namorar a Karen, eu pensei que fosse morrer. 

A Karen também trabalhava na boate. Na Abra Kadabra havia dois tipos de dançarina, as que só dançavam e as que faziam programa. Eu só dançava. A Karen fazia programa. Mesmo assim ele quis namorar com ela. Tirou ela daquele trabalho e deu uma vida digna a ela. Eu pirei quando vi acontecer com ela o que era pra acontecer comigo. Ela roubava o sonho da minha vida naquele momento. Eu já disse que eu quis morrer? Pois é, foi assim mesmo que me senti. Eu tive ódio e inveja dela. Vi ele transformando-a numa princesa diante dos meus olhos. O meu brilho foi se apagando pouco a pouco. Meu trabalho que até então era um prazer pra mim se tornou um desgosto total. Nem passava pela minha cabeça que aquele não era o momento certo pra ter um relacionamento. Que ainda tinha muito que aprender e crescer. Que apesar de ter mais idade e de ser muito mais atraente que a Karen eu ainda não estava madura o suficiente para prender um homem como o Luca ao meu lado. Se envolver com os clientes, fazer programas, deu a Karen uma experiência que eu não tinha. Ela conhecia bem os homens e a mente masculina. Ela soube como manipular o Luca por um tempo. 

Ver eles se divertindo e felizes enquanto eu trabalhava era a pior coisa do mundo pra mim. O amor e o ciúme me neutralizava. Minha autoestima estava profundamente abalada. Eu vivia na função de impressionar o Luca, mas não sabia como. Não sabia o que fazer pra ele me notar e me querer. Deitava pensando nele, não conseguia dormir pensando nele e se dormia sonhava com ele. Quando acordava já estava com ele no pensamento. Isso mesmo! Eu não vivia a minha vida. Um sentimento não correspondido te destrói ou te torna um vencedor em potencial. Foi o que aconteceu comigo.
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Embora eu recebesse uma boa quantia em caixinha (aquelas gorjetas que colocam na pequena roupa das dançarinas de boate) o que eu ganhava só dava pra pagar as contas e viver dignamente. Guardar dinheiro era uma coisa difícil para uma estudante que ainda ajudava os pais. Eu precisava descobrir outra maneira de me manter e manter minha família. Nessas horas de dor e de sofrimento por uma desilusão amorosa a crise financeira parece te empurrar mais ainda para baixo. O fundo do poço perece não ter fim quando você se sente sozinha. o sentimento de perda e de fracasso te acompanham todas as horas, todos os dias. Nem tenho palavras para expressar o quanto eu estava sofrendo e achava que não poderia ficar pior. Demorou, mas eu descobri que sofrer por amor não era a pior coisa que poderia me acontecer. Eu só queria ter grana para sumir por uns tempos, viajar pra bem longe e quem sabe nunca mais voltar naquele lugar. Sair definitivamente de Copacabana e não ver mais o Luca era um desejo cada vez mais forte no meu coração. Eu só lutei por isso quando vi que era uma questão de sobrevivência.

II. Ciúme ou inveja?

Um dia ela exibiu uma aliança e disse que estavam morando juntos. Assistir o homem que você ama progredindo numa relação com outra mulher é muito doloroso. Mesmo vendo que ele estava feliz eu não acreditava naquela relação. Eu não via sinceridade na Karen. E eu estava certa. Ouvi ela mesma confessando que ainda amava o seu ex namorado. Trocar o amor pela estabilidade é coisa que muitas mulheres fazem, principalmente nesse submundo dos Night club’s. Revoltada com a situação eu enchia a cara Whisky pra ter coragem de agarrar outros homens e tentar provocar nele algum tipo de ciúme ou um mínimo de desejo. Eu não entendia que desejo e interesse são coisas diferentes para os homens. A mulher sente desejo por quem ela se interessa de verdade. O homem sente desejo por quem provoca o seu instinto masculino e se interessa de fato por quem sabe despertar nele não o desejo, e sim a vontade de ser desejado. Em outras palavras, quando o Luca percebeu que ele era o meu objeto de desejo ele sentiu a conquista dele desvalorizada. A conquista é muito importante para um homem. Era isso que ele tinha com a Karen. Por mais que eles morassem juntos, ele estava diariamente conquistando ela, pois ele tinha a certeza que ela não era apaixonada por ele. Eu não tinha ideia de que eu estava entregando o jogo pra ele, enquanto a Karen sabia muito bem que tinha desafiado ele a conquistar o amor dela. Essa era a grande sensação dele. Esse era o estímulo do relacionamento deles. Eu só sofri porque não tinha entendido isso. E fiquei me debatendo inutilmente. A mulher tem que ser sábia para não sofrer.

Parecia que eu queria sofrer, procurando saber da vida deles, investigando o comportamento dela através das redes sociais. Eu só me feria mais. Via as fotos dela muito bem vestida, em lugares sofisticados, sempre muito feliz, bebidas finas e na companhia dele, mesmo que ele nunca aparecesse nas imagens eu sabia que ele era quem fazias todas aquelas fotos. O que mais machucava era o sorriso. Eu provei o amargoso gosto da inveja. Ela nunca publicava uma foto dele ou com ele. Nem mesmo citava o nome dele em uma declaração apaixonada. Coisas que quem ama faz. Ficava cada vez mais claro que ela queria abafar o seu caso com ele, talvez para perder os clientes que tinha. Afinal as viagens dele deixavam ela muito à vontade para fazer o que quisesse.

Foi exatamente pra tentar ganhar o Luca que eu bolei um plano pra desmascarar a Karen. Uma loucura e tanto que eu fiz e que me ajudou a me sentir mais ridícula ainda. Eu contratei um gogoboy para conquista-la, armando uma traição que podia ser forjada, mas que evidenciava que ela não o respeitava. Então segui com o plano. O rapaz começou a falar com ela num bate papo famoso e ela nem desconfiou. Falava que viva com um homem, mas que não o amava. Falava também que estava com ele por grana. Falou inclusive de seu verdadeiro amor. O meu contratado estava salvando todas as conversas e me passando. Pra mim aquilo já era evidencia suficiente que ela não prestava e que com certeza seria capaz de traí-lo. Se de um lado ela dava bola pra um estranho qualquer que ela apenas teclava na internet, de outro lado, o Luca me convidava pra sair. Se a minha rival amasse o mesmo homem que amo eu respeitaria esse amor. Mas eu sabia muito bem que a Karen não amava o Luca. Tinha direito a uma chance. Uma chance de me aproximar dele e tentar faze-lo me amar. Pena que eu ainda era tão imatura. Em nosso primeiro encontro, ele falava dela o tempo todo, e falava de um jeito tão meigo, tão doce que desisti de falar qualquer coisa que pudesse chatear ele. Ele chamava de invejosas as mulheres que falaram mal da Karen. Eu não queria que ele me visse assim, como mais uma que não suportava ver a felicidade alheia. Foi inteligente ficar calada porque ele me viu como uma amiga, alguém que não queria envenena-lo. Ele também fazia questão de manter distancia e de deixar claro que me respeitava. Foi difícil me afastar quando na verdade eu queria abraçar e beijar aquele homem. Eu perdi meu tempo e me entristeci mais ainda.

III. Mais que uma amiga.

Enfim ficamos amigos. Trocávamos emails. E sempre que eu estava depressiva e bêbada eu ligava para ele, e fazia o que a maioria dos apaixonados covardes fazem: desligava! Era impressionante como ele me transformava em uma pessoa patética. Quantas vezes liguei e não falei. Quantos emails sem sentido enviei. Pra depois pensar: Eu não acredito que fiz isso! Por quê? Sim, porque eu era uma tola. E fui uma tola por muito tempo até aprender a não me machucar mais e nem deixar que ninguém fizesse isso comigo. Enquanto isso o Luca ia se divertindo. Ele devia morrer de rir antes mesmo de ler as bobagens que eu escrevia. E com certeza ele sabia que era eu cada vez que o telefone dele tocava. Eu saia de mim toda vez que via ele passar. Eu que nunca fui de me enrolar com as palavras, não encontrava o paradigma aceitável para me expressar. Me comunicar com ele era impossível, por mais que eu tentasse meu cérebro parecia como de um bicho preso e acuado. Minha inteligencia se esvaia quando o assunto era o Luca. Não dava pra raciocinar. Falar nem pensar, não saia nada que prestasse. E as vezes não dava nem mesmo para respirar. Esse amor me sufocava. Fico me perguntando se aquilo era amor? Você já deve ter se sentindo assim pelo menos uma vez na vida. Suas pernas não seguram seu corpo, e você não fala coisa com coisa. Era exatamente assim que eu me sentia perto do Luca.

Tive uma ideia louca de enviar um arranjo de flores para o escritório dele. A resposta foi um convite para encontra-lo em São Paulo. O amor arruma desculpas pra fazer o que é errado. Enche de poesia um cemitério cheio de lágrimas pra te convencer a morrer de amor. O coração te engana tão bem como ninguém sabe te enganar. Te acaricia e depois te apunhala pelas costas. O Amor não nos dá chance nenhuma de defesa. Saltamos de um abismo como se tivéssemos asas. E iludidamente acreditei que dessa vez era a minha chance. E seria se eu me recusasse a viajar com ele. Já que fui teria uma chance pequena se tivesse feito as coisas direito. Mas eu perto do Luca era outra pessoa. Era aquele bicho acuado e preso na gaiola, querendo uma abertura pra voar. Apesar de sempre ter sido respeitada por ele eu queria que deste vez fosse diferente. Me enchi de esperança e me lancei. Pensando eu que estava voando para um horizonte no mar da felicidade, eu estava justamente indo para o horizonte do mar das minhas lágrimas.

Estava me enganando sim. Sonhando às cegas. Qualquer pessoa enxergava que esta era uma boa oportunidade para ele ser infiel sem correr o risco da Karen descobrir. Ele me disse que nunca tinha recebido um presente tão singelo. Eu ri. Como se fosse a coisa mais comum do mundo um homem receber flores de uma mulher. Eu sabia que isso era uma coisa pouco comum em qualquer tempo e em qualquer lugar do mundo. Ouvi ele dizer que me respeitou no Rio lutando contra ele mesmo porque se sentia estupidamente atraído por mim mas pensava na Karen. Eu olhava pra ele e sentia vontade de dizer que a única coisa estúpida era a confiança que ele depositava nela e que ela não merecia tanto respeito da parte dele. Eu comecei a fazer perguntas uma atras da outra tentando ler nas entrelinhas que ele não gostava mais dela e que estava apaixonado por mim. Ele me dizia que a Karen era apenas uma menina a quem ele queria ajudar.

Se a partir dali eu tivesse acreditado na única verdade que ele falou até o momento eu teria evitado muitas lágrimas. Ele era sincero quando dizia que não a amava. O ciúme não me deixava ver que era a mais pura verdade. E que ela representava apenas um desafio mental para ele. Se eu tivesse entendido isso na época não perdia noites em claro me perguntando por onde ele estaria com ela e tentando imaginar uma maneira de tirar ela da jogada. Mas não se tratava de tirar ela da jogada, ela nem se quer estava no jogo. E eu vivendo fantasmas. Andando em tormentas elétricas. Me arriscando à toa. Esse era o momento de me posicionar. De dizer que pra ele me ter ele teria que abrir mão de muitas coisas a começar pelo capricho chamado Karen. Mas cometi o erro que todas as mulheres cometem. Me entreguei por medo de perde-lo, ou pela ilusão que ele seria meu caso eu desse uma prova de amor como essa. Estupidez minha. Estupidez sua se você é uma mulher e já fez ou pensa em fazer isso. Mas à frente eu explico o por quê.

Não foi o que eu esperava. A minha virgindade ficou lá em Magé. Era a única coisa da qual eu me envergonhava. Achei que com o Luca fosse ser diferente mas novamente me senti como uma caça. Isso porque me entreguei pra pessoa errada e no momento errado. Ele tentou ser maravilhoso comigo. Efeitos especiais mascaram a imagem mas não muda a realidade. Qual era a realidade nua e crua? Eu me servi de bandeja para um homem comprometido quando aceitei o convite para essa viagem. Tudo que eu queria era um sol brilhando dentro daquele quarto, pela manhã, atravessando a cortina quando eu acordasse. Eu não acordei porque nem se quer dormi. O vazio não deixou. Mesmo eu sendo apaixonada por ele, e mesmo ele tentando ser o melhor que ele podia, a circunstância não me agradava. Era meu subconsciente me gritando a verdade: Ele não estava apaixonado por mim.

O que toda mulher espera numa hora dessas é que no mínimo esse homem esteja livre e que você seja a única mulher com quem ele queira se relacionar. Mas quando já existe uma outra você não pode exigir nada. Isso era o que mais martelava na minha cabeça. Eu estava por dentro de toda a situação. Consciente de todos os meus riscos. Me atirei de um precipício contra todas as chances de sobreviver. E aos poucos foi caindo a ficha que eu fiz uma grande burrada. Era um misto de sentimentos confusos. Eu olhava pra ele dormindo exausto de tanto fazer amor comigo. Fui com a mão várias vezes para acaricia-lo mas puxava a mão quando chegava rente a pele. Eu não queria acorda-lo e ter que explicar por quê não estava conseguindo dormir.


IV. Depois da desilusão.


Depois de dois dias misturando o doce e o amargo. Sem saber diferenciar a dor e o prazer. Ouvindo doces mentiras e tentando extrair daquele tempo o máximo de lembranças boas. Eu voltei para o Rio me sentindo uma porcaria. Sabendo que tudo que eu vivi em São Paulo foi uma ilusão. Tendo que encarar uma realidade que eu temia muito. Encontrar com os dois na boate e perceber que eu fui apenas um brinquedinho nas mãos dele. Isso é muito humilhante pra uma mulher. E é exatamente por isso que o homem que diz que tem sentimentos sinceros por você não pode te pedir uma prova dessas e te deixar humilhada esperando por ele enquanto ele desfila com a única mulher que ele não pensa em largar. E no fundo eu sabia disso, por isso me sentia angustiada, porque sabia que ele voltaria para os braços dela. Por mais que eu sentisse raiva dela naquele momento eu era a errada em todos os sentidos. Eles viviam juntos e eu aceitei ir pra cama com ele sem que precisasse ele me prometer absolutamente nada. Mas ver os dois sorrindo me enchia de dor e raiva.


A dor e o ciúme cega e somos capazes de protagonizar as cenas mais ridículas. Na hora em que eu não pude mais aguentar eu fingi que tinha aceitado sair com um cliente da casa. Esse cliente tentava um programa comigo ha muito tempo. Então pedimos uma garrafa de champanhe. Pedimos outra, e outra, e eu já estava bebendo na boca da garrafa. Chamei umas três meninas e começamos a dar beijos triplos e eu já nem sabia mais de nada. A única coisa que eu queria era chamar a atenção do Luca. De repente eu subi na mesa e comecei a tirar a roupa. O strip-tease não era uma pratica das dançarinas da Abra Kadabra. Se tratando de mim o gerente nem falou nada, ele sempre dizia que quem treina joga e que eu acabaria fazendo programa mais cedo ao mais tarde. Só que apesar da bebida isso não passava pela minha cabeça. Restava apenas a minha minuscula calcinha e perto de mim estava o homem que acreditava que ia me comprar por aquela noite. Ele já se sentia no direito de me tocar. Quando ele se atreveu, eu o esbofeteei. Peguei a minha roupa e corri para o banheiro. Mas dei de cara com o Luca na entrada do banheiro. Ele me olhava muito sério. Eu segurava minha roupa de maneira a cobrir os seios. Minhas pernas tremiam. Eu só queria sumir dali. Ele pediu licença. E eu pedi desculpa. Não era porque eu estava impedindo dele passar e sim pela situação. Eu vesti minha roupa e fui encarar o gerente.Já estava esperando minha demissão. Ele me olhou sério e depois gargalhou dizendo que ia mandar colocar uma estátua minha na casa. Ele me perguntou: _Quem é? Ele queria saber quem era o homem que eu queria provocar. Eu preferi não falar. Ele não insistiu em saber o nome mas me disse que tudo ia bem até eu mostrar que não era capaz de ir mais longe.


Aprendi com aquela experiência que quando uma pessoa se propõe a fazer algo tem que fazer bem feito. Se tiver que tomar uma atitude, não tem que voltar atrás, tem que ir até as últimas consequências, dê no que der. Se não você vai acabar se arrependendo de nunca ter tentado. Meu gerente fez eu perceber que eu demonstrei fraqueza diante da indiferença do Luca. Continuando com a minha fraqueza mandei um e-mail para ele meio que me desculpando. Eu não conseguia entender que nada do que fizesse interessava ao Luca. Ele me respondeu dizendo que já estava acostumado a todo tipo de situação e que poucas coisas o surpreendem. Talvez eu tivesse surpreendido se eu encarasse o programa em vez de fugir. Talvez ele não me conhecesse suficientemente bem para saber que me doía mais deixar que outro homem me tocasse a vê-lo feliz com sua namorada. Eu queria que ele percebesse que apesar de trabalhar mais de dois anos na noite eu ainda tinha os mesmos sentimentos puros da adolescente que deixou os pais no interior para fazer uma linda carreira na cidade e tentar se tornar uma grande mulher. Eu não queria perder a minha inocência nem tão pouco a minha essência de menina boa. Mas essa paixão estava a me transformar sem ao menos eu notar. Estava ensaiando passos arriscados demais como a trama para desmascarar a Karen.


Recebi a informação que ela aceitou se encontrar com gogoboy. Na mesma hora enviei uma mensagem para o Luca perguntando se ele perdoaria uma traição. Claro que ele respondeu que não. Mas eu ainda tinha muitas coisas a perguntar pra ele então fui no escritório dele de surpresa me enchi de coragem e perguntei: O amor tem que ter ética? Até onde se pode ir por amor? Ele me respondeu: no amor, assim como no sexo, vale tudo! E aproveitou pra me convidar para acompanha-lo aquela mesma noite a uma reunião de trabalho em São Paulo. Ele não entendeu a minha pergunta. E eu não pude resistir a forma como ele me chamou. Mas aceitar seria perder a grande oportunidade de flagrar e registrar a traição da Karen. Todo dinheiro investido teria sido em vão. Mas eu tinha que dar uma resposta na hora porque ele estava verificando o voo pra mim. Apesar de ouvir dele que na guerra do amor vale tudo eu não acreditava que ele acharia justo o que eu iria fazer. Prejudicar alguém não me parecia nada ético e os meus valores me diziam que o amor é nobre.


V. O amor é nobre.


Eu tinha a chance de desmascarar a Karen. Mas o que iria acontecer depois disso? Ele seria meu? Ele ficaria traumatizado e fugindo de compromisso para não viver aquilo outra vez? Ele ficaria com raiva de mim? Eu tinha muitas perguntas e nenhuma resposta. Quando a gente ama alguém, a gente quer proteger e não fazer a pessoa sofrer. Me dei conta de que ele sofreria com tudo aquilo. E eu não queria que ele me odiasse por isso. Seria muita humilhação pra ele e eu não queria ser responsável por isso. Eu poderia ir curtir com ele e depois mandar anonimamente as fotos do encontro amoroso dela. Ele poderia até desconfiar de mim, mas nunca ia ter certeza. Afinal ele era um homem com muitas admiradoras apaixonadas. Descobri que meu amor por ele era verdadeiro ao ponto de preferir que ele ficasse com ela a ter ele dessa forma. O meu bem estar dependia da felicidade dele porque isso se chama amor. Mandei uma mensagem para o gogoboy e para o fotógrafo contratado cancelando a operação. Mas não sei se isso adiantou, pois o pagamento tinha sido feito integralmente e qualquer homem iria gostar de fazer sexo com a Karen. Naquela noite tudo que eu fiz foi chorar muito. Me joguei no colo dele e chorei como uma criança. E eu pergunto a você: Até aonde você pode chegar por uma paixão doentia? Graças a deus o que eu sentia por ele era amor verdadeiro. Amor que constrói e não que destrói.


Eu tinha muito pra dizer e eu não conseguia dizer nada. Não conseguia explicar a razão do meu pranto. Ele me perguntou se tinha haver com aquela noite do strip-tease. Eu estava dentro de uma situação que eu não sabia enfrentar na época. Simplesmente não conseguia dominar minhas emoções. E ele que esperava ter uma noite divertida teve que enxugar minhas lágrimas. Naquele momento pensei que não queria dar amor e receber de volta apenas sexo. Naquele momento pensei que talvez ele gostasse dela mais do que ele imaginava. Eram os meus fantasmas falando comigo. Claro que se ele amasse ela não estaria com outra em seus braços. O difícil era entender o que ele sentia por mim. Nessas horas varias interrogações aparecem na sua cabeça. Do tipo “Por que ele está comigo agora?” “Será que ele gosta de mim ou dela?” “O que ele realmente sente por mim?” “Será que é só sexo?” Dúvidas que martelavam a minha cabeça tão forte que eu olhava pra ele e chorava mais ainda. Realmente aquela noite foi barra pra ele. Tanto que ele me mandou de volta para o Rio logo pela manhã, e isso, não estava nos planos dele. Acontece que um homem jamais quer a companhia de uma mulher depressiva. Um homem como o Luca se sente mal com uma situação como aquela, ainda mais se ele não tem as respostas. A primeira coisa que lhe vem a cabeça é “ela está usando o meu ombro pra chorar por causa de outro”. Como ele ia entender que era um amor louco e desesperado por ele que eu estava sentindo. Como uma mulher é capaz de amar assim de uma maneira tão exagerada e tão insensata. Quando se trata de amor as mulheres em geral são insensatas.



Então disse: Chega! para mim mesma. Decidi me afastar. Não escrevi. Não liguei. Quando ele chegava na boate eu ficava distante. Ele esperou meu silencio por quase um mês. Eu juro que eu não entendo o que passava pela cabeça dele quando ele me chamou de novo para ser sua companhia em São Paulo. Confesso que meu peito se encheu de alegria, mas tive um rompante de sensatez e disse que não podia. E passei os dias esperando outra mensagem, outro convite. Dispensando convites de rapazes que poderiam me fazer feliz. Até que o final de semana chegava e eu podia vê-lo enfim. Me lembro que eu chegava em casa e escrevia como ele estava elegante aquela noite ou como me doía ver eles se beijando. Mandava tudo pra ele. E ficava esperando a resposta que só vinha na segunda feira sempre com um convite, o mesmo de sempre, ir pra Sampa com ele. Com o tempo esses convites foi soando exaustivo.

Com ele eu não queria uma vida as escondidas, entre quatro paredes. O que mais me deixava intrigada com o Luca era por que dentre mil mulheres ele escolheu exatamente eu para perturbar? Ele passava a semana toda me mandando mensagens no meu celular como se quisesse mostrar que estava pensando em mim. Mensagens sem sentido que chegavam as 1 ou as 6 da manhã. Que me seguiam durante todo o dia. Como se ele não tivesse outra coisa pra fazer ou outra pessoa para perturbar. Ele tinha consciência que eu ficava perturbada com aquilo. Enfim quando ele parava de me escrever eu escrevia. E ficamos nesse jogo de esconde-esconde. Um se afasta e o outro corre atras. Parecia que ele era um pouco dependente de mim. Eu não entendia a mente doentia desse tipo de homem. Mas nessa vida tudo é compreendido com o passar do tempo. Eu já estava ficando cansada desse jogo onde eu só perdia. Ele não tinha nada a perder. Ele tinha uma mulher em casa e quantas quisesse na rua. E eu desperdiçando meu tempo com um cara que não me levava a serio.

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VI. A decepção.

Eu fui dançar em outra boate que ficava no centro. Chegando lá e conhecendo as garotas descobri que ele era bem famoso por lá. Aos poucos eu ficava sabendo de garotas com quem ele ficou. Algumas ainda perdidas de amor por ele. O Luca era realmente tão apaixonante quanto cafajeste. Certa noite estava eu dançando quando ele chegou acompanhado de uma garota muito bonita e desconhecida. Quase morri com a coincidência dele chegar justo no lugar onde eu trabalhava a uma semana. Corri para o banheiro e liguei para minha amiga Sofia que estava na Abra Kadabra nem cheguei a falar que o Luca estava lá e ela ja foi me dizendo que a Karen estava lá aos prantos. Eu perguntei por quê? A Sofia disse que ela achava que estava sendo traída. E que ele disse que ia pra São Paulo mas ela ficou sabendo que estava na cidade. _Cretino! Eu disse ao telefone e contei que ele estava lá com uma loira de 1,80 de altura, cabelos longos, muito bem vestida e apesar disso tudo uma desclassificada. Pedi discrição é claro.


A raiva que sentia pela Karen deu lugar a compaixão. Eu não podia mais continuar me enganando achando que a Karen era minha única concorrência. Na verdade ela era minha rival mais inofensiva. Digo isso porque ela não jogava sujo. Era transparente. Nunca disse que o amava, mas acabou se apaixonando por ele sem perceber. A Karen foi traída pelo destino. Um homem com o dobro da idade dela provavelmente faria com que ela se apaixonasse, ainda mais se desafiado como ela o desafiou. Eu me doí por mim e pela namorada dele. Se outra pessoa que não fosse a Karen tinha o direito de estar com ele esse alguém seria eu que o amava como ninguém jamais amou. Eu já nem sei direito se ele estava ali por acaso ou não. Mas peguei minhas coisas e fui embora. Ele tinha sempre esse poder de mexer com a minha vida, com meu humor, com as coisas ao redor de mim. Não me segurei, tinha que olhar com meus próprios olhos a Karen chorado. E me enxerguei nela. Eu não só me coloquei no lugar dela e senti a dor dela. Eu também senti raiva de mim por ter me envolvido com ele.


Eu não podia mais viver tão perto do perigo de ceder a cair novamente na armadilha da paixão. Eu estava decidida a esquece-lo. Decidi ir embora de Copacabana. Lembrei que um amigo tinha me falado sobre uma boate na Barra da Tijuca. Fiz um teste lá e passei. Pronto! Já tinha um trabalho bem longe de Copa. Fiquei calada sobre o meu novo emprego. Pra todos os efeitos eu estava indo embora do Rio. Voltando para Magé. Deixei que todos pensassem que estava indo para um situação bem ruim. Assim afastava a inveja de mim. Em minha ultima noite na Abra Kadabra ele estava lá e eu o segui até o banheiro tentei falar pra ele tudo que eu estava sentindo. Mas como sempre não conseguia dizer coisa com coisa e ainda estava bêbeda. O segurança novo chegou pra me tirar de dentro do banheiro masculino, quando ele colocou as mãos em mim eu pedi para o Luca não deixar aquele cara botar as mãos em mim, mas ele nada fez. Ele viu que eu estava transtornada e nem tentou me acalmar, só se importava com a Karen não perceber nossa “amizade”. Eu vi ali que ele era mesmo um covarde. Deixou o segurança me arrastar pra fora do banheiro. A situação foi humilhante demais pra mim. Tinha um grupo de amigos me esperando para minha despedida. Eu fui embora assim mesmo, sem falar com ninguém. Eu só queria que ele tivesse me dado um minuto de atenção. Que por um segundo demonstrasse preocupação pelo menos em me acalmar. Ou que pelo menos me deixasse me despedir dele. Mas não! Eu fui uma tola em acreditar que ele se importava.


Me senti um lixo. Mas estava indo embora de toda aquela situação, do lugar, das pessoas, e da minha dor. O ciúme as vezes cega. As coisas não eram bem assim como eu enxergava. Na verdade era bem pior do eu imaginava. Desliguei o telefone, me atirei na cama chorei ate dormir. Na manhã seguinte minha caixa postal havia estourado de tantas mensagens. Não ouvi nem li nenhuma. Só guardei o celular no bolso do casaco. Partir antes do combinado foi o que eu fiz para evitar amigos na minha porta querendo dar o último adeus. Tudo estava sendo muito difícil pra mim. Não disse tchau a ninguém. Foi melhor assim.