quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Eu me apaixonei por um anjo. Capítulo 4




Vivendo entre o céu e o inferno.

I. Aprendendo com o amor.

Eu já não sabia mais onde estava o Luca dentro do meu coração. Eu sabia que ele estava em algum lugar, mas na verdade eu não queria encontra-lo e voltar a sentir todo aquele sofrimento outra vez. Inexplicavelmente eu estava feliz com o meu novo amor, mesmo sendo um amor proibido. Quando a gente ama somos capazes de nutrir uma esperança que não há razão de existir. Eu não podia ter esperança. Mas sentimentos frustrados podem se transformar em sentimentos de superação que revertem todo placar a nosso favor. 

Minhas chances eram poucas. Na verdade a chance nem existia. Era apenas esse sentimento de esperança tomando conta de mim. Então eu comecei a estudar um jeito de impressionar o meu pastor. E se vocês estão achando que eu achei pior me apaixonar por um homem nas condições do Pastor Anjo... Eu digo que não. Foi muito tranquilo. Teve paz. Teve doçura. Teve alegrias. Esse amor nunca me fez mal. Só me fez crescer.

Essa nova paixão me ensinou a dominar meus desejos. Dominar as emoções é o grande segredo. Aprendi a disfarçar a paixão. Ter o olhar neutro. Aprendi muito com esse sentimento. Aprendi que uma mulher tem que ter dignidade pra poder chamar atenção de um homem. Para obter os olhares do Pastor Anjo eu tinha que impressiona-lo como ser humano. Já sabia que ele tinha escolhido dedicar sua vida exclusivamente ao seu ministério. Essa foi uma condição que ele se impôs. Ninguém o obrigou a agir assim. Entender isso e não partir para o ataque seria o mais inteligente a fazer. É triste e constrangedor uma mulher se insinuar para um homem e ele ignorá-la. Esse era um risco que eu não queria correr. Eu sempre tive esse cuidado de não ser ignorada por ele. Atrair a atenção do homem amado é uma coisa que tem que ser feita com calma e inteligencia. Paciência e observação é muito importante.

Eu não conseguia entender em que uma esposa e uma família poderia atrapalhar o ministério dele. Até que um dia ele falou sobre o assunto deixando claro naquele momento que ele nunca tinha se apaixonado. Ele falou que não conhecia o amor Eros. E que seu ser estava inundado do amor Ágape. E foi falando do amor dele pela obra de deus. Do seu amor incondicional pela igreja. E que não seria justo amar uma mulher pela metade ou bem menos que a metade já que o ser dele estava inundado do amor Ágape não sobrando espaço para o amor Eros.

Isso é meio complicado de um ser humano entender. Eu fui pesquisar sobre o assunto. Primeiro fui tratar de saber o que era esse amor Ágape. O Wikipédia me dizia o seguinte: "A palavra foi usada de maneiras diferentes por uma variedade de fontes contemporâneas e antigas, incluindo os autores da Bíblia. Muitos pensaram que essa palavra representava o amor divino, incondicional, com auto-sacrifício ativo, pela vontade e pelo pensamento, embora esse amor Ágape também possa ser praticado por humanos, mas em grau bem inferior, obviamente, em função da imperfeição e limitações humanas."

O amor Eros todo mundo sabe que é o amor entre um homem e uma mulher. Que ele disse não conhecer. Aos 35 anos assumiu ser virgem e nunca ter tido um pensamento libidinoso. Isso reforçava minha tese de que ele era um anjo. Ele estava praticando esse amor Ágape com muita perfeição para ser apenas um homem. Eu estava ficando louca? O que era loucura maior, acreditar que ele era um anjo? Ou estar apaixonada pelo anjo? E como despertar o amor Eros em um anjo? Será que esse meu pecado teria redenção?

Eu vi tanta segurança e firmeza nas palavras dele, mas em vez de desanimar eu fiquei foi mais fascinada. Nunca me interessei por homens simples. Quanto mais diferente e complicado o homem fosse mais excitante se tornava pra mim. Aquela velha história do fruto proibido. E eu sendo a Eva, né. Talvez eu quisesse estar querendo me transformar na serpente aliciadora ou algo parecido.

Eu não vou dizer que não queria praticar o pecado original com o Pastor Anjo. Eu era apaixonada por ele. Claro que eu queria me casar com ele e a vida a dois seria uma consequência. Mas meus pensamentos eram mais de edificação. Eu me via ao lado dele ganhando almas pra deus. Fazendo o bem para as pessoas. Ajudando ele na obra. O meu sonho de amor era divino. Nada comparado ao inferno astral que vivi a meses atrás amando o italiano que não quero mais nem citar o nome.


II. Motivações para a transformação.

Voltar para a Vegas Café seria me afastar mais deste sonho. Eu já tinha me decidido a deixar a boate mesmo que isso significasse um terrível corte no meu orçamento. Eu queria me tornar uma missionária. Não uma missionária convencional. Alguém que falasse um pouco do submundo que são os night club’s da vida. Alguém que falasse de igual pra igual com os jovens. Falando a mesma língua dos jovens eu poderia alertar sobre os perigos. Passar um pouco da minha experiência na noite onde as pessoas se drogam e se prostituem de uma forma que parece muito natural, inclusive nas discotecas normais onde a maioria das moças se submetem a praticas de prostituição camuflada.

Minhas férias estavam acabando e o meu dinheiro também. Estava numa vida de dedicação a igreja e a faculdade. Adorava fazer parte do grupo de evangelização. Isso me aproximava do Pastor Anjo e descarregava toda energia ruim cada vez que via uma vida sendo transformada. Fui ficando cada dia mais leve e em paz comigo mesma. Eu levava uma vida acima de qualquer suspeita. Faltava uma semana para acabar minhas férias. Meu gerente me ligou perguntando se eu iria voltar e eu sem medo, disse: _Não! Ele me perguntou o que eu iria fazer. Eu respondi: _Procurar um emprego normal. Ele me disse: _Não tem nada de anormal no seu emprego. Eu disse que queria trabalhar de dia e que queria ter as noites livres. E que queria ter meu tempo livre compatível com um futuro namorado. Argumentos não me faltaram para não querer mais trabalhar na Vegas. 

A mensalidade da faculdade não podia atrasar, então fui procurar emprego no shopping. Foi quando meu pai ligou dizendo que minha mãe estava com câncer no estômago. Meu mundo desabou naquele momento. Fui para Magé visitar meus pais e saber qual a gravidade da doença. Chegando lá descobri que o tumor já estava num estágio muito avançado e que o tratamento tinha que ser iniciado imediatamente. 

Não vi outra solução para pagar o tratamento de minha mãe. Eu liguei pra Boate e pedi meu emprego de volta. Eu só pensava da onde eu iria tirar animo. Aquela alegria que muitas das vezes era encenada não me parecia mais possível. Mesmo assim eu tinha que tentar pela minha mãe, ou o seu sofrimento seria maior. Antes de qualquer coisa, assim que cheguei na capital, fui falar com deus.

Era meio dia a igreja estava vazia, me dirigi ao altar. Eu só conseguia chorar e perguntar: Por que meu deus? Meu choro alcançou os ouvidos do Pastor Anjo. Sem uma batida de porta. Sem ouvir passos. Ele segurou minha mão e disse: “Eu estou contigo! Não importa a gravidade do problema. Peça que eu te darei a cura.” Eu abri meus olhos, pois aquela voz não era a do meu pastor. Mas era ele segurando a minha mão. Desta vez com a voz humana dele, o Pastor Anjo falou: _Vamos falar com deus!

Eu sei que eu estava segurando a mão dele, mas não foi ele quem falou comigo antes. Isso foi muito claro. Bem ali no meio de toda aquela desgraça e desespero eu tive meu primeiro encontro com Deus. O Pastor Anjo não tinha como adivinhar que eu precisava de uma cura. Oramos forte e eu soube que aquele era um pedido pra ser feito pra deus. Pois só ele poderia responder. Naquela hora eu esqueci que estava diante do homem que eu mais desejava. Não me importei se estava descabelada ou com o rímel escorrendo. Não quis saber se estava no meu melhor angulo ou se estava sexy suficiente pra ele me ver. Naquele momento percebi que eu sempre deixava coisas externas interferir no meu relacionamento com deus. Sem esperança em mais ninguém eu abri meu coração pra deus.

Minha oração: _Deus, eu me entrego a ti. Eu não tenho forças. Então senhor, eu me rendo. Se é da tua vontade que eu volte para dançar naquela boate que assim seja. Se para conseguir pagar o tratamento da minha mãe eu tenha que me deitar com os homens em troca de dinheiro, mesmo que isso me acabe por dentro, assim o farei. Mas senhor, se eu for digna da tua piedade me livra disso. Mas que seja feita a tua vontade na minha vida. Eu creio que o senhor me dará a resposta. Não me desampara senhor. Amém!

Naquele momento não me importava se o meu pastor iria descobrir meu segredo. Eu já não me importava se ele ia me olhar diferente. A dor de ver minha mãe tão debilitada me destruiu. Mas quando olhei nos olhos dele eu vi tanta compaixão em seu olhar. Eu me senti envergonhada. Era como se o olhar dele me perguntasse: Como escondeu isso por tanto tempo? Mas ele só disse: _Você não tem que passar por isso sozinha. Vá pra casa e medite na bíblia. Continue pedindo a direção de Deus. Continue buscando essa resposta, no tempo certo, o Senhor te responderá. E que Deus te abençoe, minha filha! 

Ele tinha o poder de usar as palavras certas na hora certa. Eu achei que ele ia querer conversar sobre o assunto. Sua sabedoria dizia que aquela não era uma boa hora. Eu não estava em condições de ser indagada. Agora o meu martírio não era mais inocente. A guerra espiritual estava sendo declarada. Eu não era mais meio ateu. Eu já entendia porque as pessoas passam por provações. O cristão vive sendo colocado à prova. Eu não tinha filhos, mas meus pais e meus irmãos eram tudo pra mim. Claro que eu morreria por eles. Dou graças à Deus que eu não precisei enfrentar isso sozinha. Fico imaginando se eu ainda fosse aquela cética de antes. Os sinais acontecem e você ás vezes deixa passar despercebido. Deus prepara para você situações que te motivam à mudanças de comportamento. 

Eu deixei todo meu dinheiro com meu pai e fiquei sem nada. Uns dias depois minha dispensa estava vazia e, minha geladeira só tinha água. E eu continuava buscando a resposta de Deus. Essa última semana das minhas férias foi uma tribulação. Se fosse só por mim eu me virava com o pouco dinheiro das aulas até conseguir um trabalho no shopping. Só que a doença da minha mãe estava progredindo. Era o que eu achava. Eu achava que o milagre era eu conseguir o dinheiro do hospital. Não tinha entrado ainda na minha cabeça que ter fé faz a cura acontecer. Pra mim minha mãe seria curada após varias sessões de quimioterapia e com muito esforço da parte dela. Eu não estava acostumada a ver milagres acontecendo de forma tão sobrenatural.


III. Confia nele e ele tudo fará.

E nada aconteceu enquanto eu esperava o "milagre do dinheiro". Liguei pra vários "amigos" magnatas só tive promessas de ajuda. Voltei pra boate! Lá os clientes já estavam sabendo do meu problema. Alguns se afastaram. Outros me davam falsas esperanças que iam me ajudar. Mas, o mais incrível é que teve um que se aproveitou da minha situação. Albert, me sugeriu um contrato. Isso mesmo! Um contrato reconhecido em cartório. Um acordo em que ele pagava as despesas hospitalares da minha mãe até a recuperação total dela. Tudo isso, nos Estados Unidos. Mas que me obrigava a ir pra cama com o ele. Um tratamento no melhor hospital especializado, em Houston, era exatamente o que eu queria para minha mãe. Meu pai e minha irmã podiam acompanhar ela. 

Era bom demais pra recusar. Toda escolha vem com uma renúncia. Eu renunciava tudo aquilo que eu acreditei durante minha vida inteira ou ficava com a culpa de não ter feito o possível pra salvar a vida da minha mãe. Lembrei que como me senti suja quando fui pra cama com o Luca mesmo com todo o amor que sentia por ele. Só o amor não me bastava mais para me entregar a um homem. Minha nova convicção dizia que tinha que ser um amor verdadeiro e recíproco. Isso me parecia impossível de acontecer com o Albert. Ainda mais com o Pastor Anjo no meu coração. Eu tinha aprendido coisas novas sobre o amor. Novas convicções que não anularam a ideia de estar entregando meu corpo por amor, um amor recíproco entre eu e minha mãe. E por esse amor tudo valia a pena.

Eu tinha míseros dois dias para pensar, nestes dois dias o câncer ia consumindo o estomago da mulher que me gerou em seu ventre. Deus parecia não falar comigo. Eu fiquei com a promessa da cura esquecida. Deus trabalha de forma misteriosa, temos que ter sabedoria e confiar nele. Mas eu estava com meu coração muito aflito, acabei aceitando a proposta do magnata americano. Ele me deu um contrato e eu assinei. Com isso eu decidi me afastar da minha igreja e do meu Pastor Anjo. Encarar ele com esse problema na cabeça seria o mesmo que falar tudo pra ele. Parecia que ele lia os meus pensamentos. 

Eu mudei de bairro para evitar as pessoas da igreja, principalmente o Pastor. O Albert me cedeu seu apartamento na Lagoa pra eu ficar com meus dois irmãos. Por causa do acordo nós tínhamos muito contato. Ele viajou para levar minha família para Houston. E me mandava dinheiro pra que eu não precisasse trabalhar. Assim passei dois meses apenas estudando, cuidando do meu irmão de seis anos e dando aula para as madames. Recebia ligação de Houston todos os dias. O Albert me manteve bem informada sobre o tratamento. Eu tinha muita gratidão por ele. Pedia a deus para que meus sentimentos por ele evoluísse. Mas invés disso eu sentia muita saudade do Pastor Anjo.

Eu frequentava outra igreja perto da minha nova residencia. Não dava de jeito nenhum pra abandonar minha fé. Primeiro, eu era demais agradecida a Deus por ter me curado daquela depressão. Na época eu vivia a base de tranquilizantes e tarjas pretas. Depois que passei a frequentar a igreja não usei mais nada. Os remédios ficaram na minha prateleira porque eu passei a fazer uso da minha fé pra ser feliz. Segundo, só dá pra ser confiante se você tiver fé. Eu tinha que ter fé que minha mãe ia se curar. Eu me curei! Por que Deus não iria agir na vida dela também? Eu tinha que acreditar. Me desesperar não ia ajudar em nada. Contra essas doenças até os cientistas dizem que ter fé ajuda muito.

E eu mandava mensagens de fé para minha mãe todos os dias. Quase todas eram passadas pelo Pastor Anjo. Através do seu programa ou da internet ele continuava me entregando uma palavra de apoio. Era incrível como deus usava ele o tempo todo pra falar comigo. Isso não acontecia na igreja onde frequentava. Eu meditava na passagem do livro de Números 14:9 "Somente não sejam rebeldes contra o Senhor. E não tenham medo do povo da terra, porque nós os devoraremos como se fossem pão. A proteção deles se foi, mas o Senhor está conosco. Não tenham medo deles!" E tinha certeza que essa palavra era pra mim. Mas ainda estava muito nova na fé para viver mais intensamente essas palavras. 

Os dias foram passando e o meu contrato estava vencendo. Ele era claro e dizia que se uma das partes não comparecesse no dia do encontro o mesmo não poderia ser remarcado. O Contrato também dizia que se a parte devedora (no caso eu) faltasse ao encontro a dívida seria cobrada em juízo. E que se a parte credora faltasse automaticamente dívida ficaria como quitada. Assim como se mesmo o credor indo ao encontro e desistindo do ato sexual a dívida se encerrava. O Prazo máximo para espera era de uma hora. O dia do Albert cobrar a sua dívida chegou, eu estava lá, no hotel de luxo e na suite presidencial, reservada para nós. Cheguei sem atraso. Albert era quem estava atrasado em 40 minutos. Eu tinha apenas vinte minutos de espera para me sentir livre daquela dívida. Mas ele chegou com um sorriso leve no rosto e me disse:

_ Perdão pelo atraso, eu não quis faze-la esperar. Você teve mais um tempo pra pensar e decidir ir embora.

_ Não há nada para pensar.

_ Foi o que eu imaginei. De qualquer forma se era pra deixa-la nesta aflição seria melhor não vir. Não acha?

_ De que aflição você está falando?

Eu estava sentada num sofá de veludo vermelho com as pernas cruzadas e mãos no joelho. Me levantei e acho que ele teve a melhor visão de todos os tempos. Enquanto caminhava em sua direção a fenda do meu vestido preto e longo se abria e deixava à mostra pernas bem torneadas e delicadas. 

_ Por favor Albert sei que temos uma noite inteira pela frente e não pretendo desperdiça-la com essa conversa nada agradável. Pare de falar e me beije logo _ Parei em sua frente a uma distancia que dava pra sentirmos a respiração um do outro. 

Mesmo ele sendo um homem experiente com as mulheres sei que ele estava tentando se controlar o máximo possível. E a minha experiência dizia que eu não tinha que passar dali. Ou seja, tinha que ficar quieta e deixar que ele tomasse a atitude. Ele me olhava com um olhar muito enigmático. Me segurava com as duas mãos pela cintura. Olho no olho. Eu achei que ele fosse me beijar. Ele simplesmente disse:_ É muito cedo, vamos jantar.

Meu coração estava batendo a mil por hora e era notável. Jantamos, e até demos rizadas. Ele me serviu uma taça de vinho e fomos para o terraço onde havia uma lua cheia e milhares de estrelas no céu. Ele tirou a taça da minha mão colocou sobre a mesa, me pediu uma dança ao som de Love me tender. Ele usava um perfume que eu não conhecia. Ele foi muito respeitoso o tempo todo. No fim da canção eu o abracei tão forte porque me senti segura naquele momento, como se nenhum mal pudesse me alcançar. Ele me afastou me segurando pelos braços, bem próximo dos ombros e me disse com tanta sinceridade no olhar: _O amor é descabido. É irracional, ás vezes. Mas nunca, nunca é egoísta. Se precisar, se sentir medo, me chame. Eu venho somente pra abraça-la outra vez. 

Quando ele bateu a porta e foi embora eu lembrei de uma das mais belas pregação do Pastor Anjo. "Ai dos filhos rebeldes, diz o SENHOR, que tomam conselho, mas não de mim; e que se cobrem, com uma cobertura, mas não do meu espírito, para acrescentarem pecado sobre pecado; Que descem ao Egito, sem pedirem o meu conselho; para se fortificarem com a força de Faraó, e para confiarem na sombra do Egito.Porque a força de Faraó se vos tornará em vergonha, e a confiança na sombra do Egito em confusão." Isaías 30:1-3. 

Agora tudo fazia sentido. Eu sozinha, tracei meus planos. Eu sozinha, fiz uma aliança perigosa. Eu decidi correr todos os riscos. Mas eu não estava sozinha. Foi minha sorte. Se é que o Cristão pode usar esta palavra "sorte". Melhor dizendo: Foi minha benção. Deus estava comigo. Eu não conhecia ainda a majestade de deus. Eu fiquei muito surpresa. Este foi o primeiro milagre operado diretamente por Deus na minha vida. Eu estava maravilhada, mas sem entender. Os meus poucos meses de Cristã ainda não me davam entendimento. 

Isso era o que eu pensava. Pra mim já era um milagre eu estar intacta. Milagre digno de prostração aos pés do senhor. Foi o que eu fiz. Me ajoelhei e agradeci muito a deus. Deixei o hotel no meio da noite e fui correndo para a igreja. O Pastor Anjo voltava da gravação do programa. Eu não quis saber se tinha câmeras na igreja. Eu corri para abraça-lo. Pela alegria que eu estava sentindo e também pela saudade. Pra ele aquela situação era totalmente inusitada. Mas ele não se esquivou. Não tinha o que temer. Me abraçou. Me acolheu em seus braços. Foi a primeira vez que meu corpo abraçou o dele. Eu achava que nunca ia me sentir tão próxima dele, a ponto de perceber que ele era mesmo feito de carne e osso.

Eu chorava de alívio. Ele não falava nada. Apenas me acalentava em seus braços. Era como se ele me dissesse em pensamento: "calma, tudo já passou". Depois eu perguntei se ele queria saber por que eu chorava. Com muita certeza ele me disse que sabia o por quê. Eu nem sei porque ainda ficava surpresa. Estava cada vez mais claro que ele era um homem com poderes celestiais. No fundo eu queria que fosse um homem com todos seus instintos masculinos. E não um ser celestial que jamais sentiria o amor eros. Ele secava minhas ultimas lágrimas, até que eu já não chorava mais. No meio de todo aquele silêncio, numa troca de olhares, ele parecia falar comigo em pensamento: "Esta batalha está ganha mas outras virão ainda mais sanguinárias."


VI. A mágoa atrapalha o perdão.

Aceitei voltar para Vegas Café mas, apenas nos fins de semana para não atrapalhar a faculdade. Só a possibilidade de vê ele ou simplesmente o fato de me sentir perto dele me fazia bem. Lá na boate o comentário era um só: Eu já tinha me deitado com o Albert. Todos sabiam que ele tinha levado minha mãe para os Estados Unidos. Mas isso não fazia a menor diferença para mim. Eu sabia o que realmente estava acontecendo. E eu estava muito aliviada. Em resumo me sentindo felizarda por ser tão sortuda ao ponto de cuidar da minha mãe sem precisar me prostituir. E eu precisava voltar lá no lugar onde eu tive a oportunidade de conhecer um homem como o Albert. Eu tinha muito que celebrar sim. Fui dançar que era o que eu mais amava fazer.

Um dia eu estava dançando um clássico dos clássicos do striptease. Simplesmente ao som de You can leave your hat on do filme Nove e meia semanas de amor. Eu estava tão envolvida na coreografia que não percebi a presença de uma pessoa que me assistia com devoção. Em seguida dancei Money can’t buy it, de outro clássico do cinema, do filme Strepteaser e encerrei a minha apresentação dançando Down in Mexico. Eu gostava de dançar músicas que faziam referencia a minha profissão no cinema.

E o homem continuava me olhando sem que eu percebesse. Depois que voltei do camarim, já vestida, fui conduzida até a mesa desse cliente que tinha pago uma boa quantia para que eu conversasse apenas com ele. Pagou pela a tal exclusividade. Meu gerente me disse que achava que era um velho amigo meu porque ele fez muitas perguntas sobre mim. Quando cheguei na mesa quase virei pra trás. O Luca! Me esperando com flores que ele tinha pedido para o funcionário da boate comprar sei lá por onde. Ele já sabia tudo que eu estava passando, inclusive da notícia falsa que eu tinha me tornado uma garota de programa. Eu fiquei ouvindo dez minutos ele falando e me fazendo perguntas que não vinham ao caso eu responder. Depois me cansei do papo quando ele falou que poderia ter me ajudado se eu tivesse falado pra ele. Ora, ajuda melhor do que a que eu estava tendo. Se minha situação fosse outra eu não sei o que faria ou o que diria. Mas me levantei dizendo: _Já me encheu Luca. Dá o fora! Eu tô em outra. Fui sentar sozinha no bar e nem vi quando ele foi embora.

Na outra semana eu decidi passar na igreja antes de ir pra boate. Eu não achava que eu pecava sendo striper. Mexer com os desejo dos homens era uma coisa normal para mim. Não me importava se eles deixavam suas esposas em casa. Eu achava que eu não fazia parte dessas traições. E não fazia mesmo. Mas há questões morais e culturais por trás do que é certo ou errado. De um jeito ou de outro eu tinha minha parcela de culpa quando um homem deixava sua esposa sozinha em casa pra ir me ver dançar. Isso nunca me afetou até o Pastor Anjo me mandar uma palavra. Desde esse dia eu comecei a me sentir culpada e muito incomodada com meu jeito de me sustentar.

Numa noite de casa cheia um cliente me abordou falando que tinha se separado e que a causa era eu. Ele me propôs ir morar com ele, casar se fosse da minha vontade. Ele me disse que sabia que eu não era indiferente. E que ele se agarrou a esperança que eu dei a ele. Eu lhe perguntei quando? Ele me disse que sempre que conversávamos. Eu parei pra pensar se realmente tinha dado esperanças falsas a ele. Percebi que a atenção e educação com que tratava os clientes era facilmente confundida. E também me dei conta de que a sensualidade que eu usava no palco, os olhares e os gestos eram compreendidos muitas das vezes com um interesse em particular. Nessa noite juntei minhas coisas e fui conversar com o Pastor Anjo. Me chocou saber que eu fui responsável pela destruição de um lar.

O Pastor anjo não sabia que eu estava cuidando dos meus irmãos e morando na casa do Albert. Ele achava que eu estava morando com minhas amigas da boate. E achou melhor me tirar desse convívio. Um mal entendido que eu deixei que virasse uma mentira pra me beneficiar. Quando quis ir embora ele disse que eu não devia ir embora aquela hora da madrugada sozinha. E me disse que eu poderia dormir no quarto de hospedes da casa dele. Meu espírito vibrou tanto nessa hora. Até que a mentira valeu a pena. Pensei comigo mesma. Do mesmo jeito ele não iria deixar eu correr riscos na madrugada. Eu realmente me sentia mal de mentir pro Pastor Anjo. Mas aquela mentira foi uma das que não me arrependo. Já já eu explico por quê. 

Fomos conversando até a casa dele. Ele me perguntou se eu ia retomar todos meus projetos, inclusive a evangelização. Na mesma hora falei que sim. Ele disse que eu poderia ficar hospedada com ele até conseguir um lugar conforme a minha necessidade. Agora vocês entenderam porque não me arrependi dessa mentira de dizer que morava com garotas de programa. Ele não achava que minha presença fosse representar um risco, uma tentação. Qualquer homem evitaria uma situação como essa. Nenhum pastor se colocaria à prova desta maneira. Pois como diz o ditado "a mulher enganou até o diabo". Mas o Pastor anjo tinha certeza do domínio que possuía sobre de si mesmo. Ele tinha convicção da castidade dele. E eu deixei meus irmão na Lagoa sem pensar duas vezes. 

Ele dirigia. Eu olhei pra ele e meu olhar queria dizer: Eu te amo! Mas cade a coragem? Já era alegria demais está ali com ele. Eu só tinha que respirar fundo. Me tranquilizar. E não assustar o meu pastor. Não podia decepcioná-lo. E não queria que ele se arrependesse do que estava fazendo. Então disfarcei o meu entusiasmo, a minha excitação. Sei lá, o que mais eu disfarcei. Até pensei em não aceitar ficar na casa dele. Mas eu queria estar perto dele. Aprender mais de deus com ele, e treinar minha resistência. Estar debaixo do mesmo teto da minha paixão e não tentar seduzi-lo seria um grande desafio. E foi mesmo! 

Ele me disse que o Albert me amava. Me aconselhou a dar uma chance para esse sentimento. Conversamos sobre sentimentos de uma forma surpreendente. Pra quem disse nunca ter se apaixonado, ele estava por dentro demais. Uma das coisas que ele me disse que nunca me esqueci. Foi para nunca deixar que um homem perceba que ele me interessa. Falou: _Não estou dizendo pra esconder seu amor ou sua paixão, digo para esconder o interesse. Se um homem lhe interessa pelo amor ou por outra coisa qualquer, nunca deixe ele saber disso._Ele sabia que eu não era apaixonada pelo Albert mas era óbvio que o interesse existia. O Pastor Anjo era do tipo que acreditava que do convívio pode surgir o amor. Eu concordo. Mas comigo apenas tinha acontecido à primeira vista. 

De qualquer forma o que ele queria que eu entendesse era o quanto uma pessoa pode se tornar interessante quando não quer a gente. Enquanto eu estava hospedada na casa do pastor eu não trabalhei na Vegas Café. O Albert me ajudava. Eu já não era mais aquela garota orgulhosa e boba. Estava enxergando que a dignidade de uma mulher não se quebra ao aceitar a ajuda financeira de um homem. Nessa altura eu já conhecia bem o Albert e sabia que ele era um homem honrado. Ele também já me conhecia muito bem. Até me acompanhava as reuniões. E o Pastor Anjo parecia ter dado a sua benção. Mas eu não permiti que o Albert se iludisse a meu respeito. Continuamos sendo amigos. Recebi uma ligação de Houston dizendo que minha mãe estava voltando recuperada. O Albert falou com os médicos e eles disseram que o tumor simplesmente desapareceu. Ele desligou o telefone e me disse:_Como a fé de sua família é grande. Os médicos falaram pra mim que as chances dela eram pequenas demais. _ Ele não teve coragem de me dizer mas minha mãe foi desenganada pela equipe de Houston. Eu agradeci muito por tudo que ele fez pela minha família. Eu estava tão feliz. Não cabia em mim de tanta alegria. Quando acontece um milagre em sua vida, você fica diferente, fica inabalável.

Ele viajou de volta para a América percebendo quem era minha verdadeira paixão. Ele foi e minha mãe veio. Foi maravilhoso recebe-la com o Pastor Anjo. Depois que eu matei a saudade da minha mãe. Ele nos levou até Magé.

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